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TRUMP E O RACISMO | O racismo nos EUA e a transição dos poderes na Casa Branca

No discurso de encerramento de seu mandato Obama (primeiro presidente negro eleito nos EUA) disse que o racismo ainda é uma força que divide a sociedade fazendo alusão à campanha xenófoba e racista de Donald Trump que assumirá no dia 20 de janeiro a presidência dos Estados Unidos. Com uma plateia de cerca de 20 mil ouvintes Obama declarou que : “Depois de minha eleição, muito se falou de um Estados Unidos pós-racial. Essa visão, ainda que bem-intencionada, nunca foi realista. Porque a raça segue sendo uma força potente e constante na divisão de nossa sociedade”.

Marcello Pablito Trabalhador da USP e membro da Secretaria de Negras, Negros e Combate ao Racismo do Sintusp.

quinta-feira 12 de janeiro de 2017 | Edição do dia

As declarações de Obama ocorrem pouco mais de dois meses após as eleições da maior potencia imperialista do mundo que foram marcadas de um lado pelas declarações racistas, xenófobas e machistas do megaempresário Donald Trump e de outro pelos protestos e manifestações do movimento negro em resposta às declarações de Trump e repudiando os recorrentes assassinatos de negros pelas mãos da policia assassina do governo de Obama. Em plena campanha eleitoral, em uma das declarações mais emblemáticas do que promete aos negros e imigrantes o mega-empresário chegou a dizer que "Quando o México manda seu povo aos Estados Unidos, eles mandam pessoas que têm um monte de problemas e trazem estes problemas para nós. Eles trazem as drogas, trazem o crime, são estupradores. E alguns deles, eu confesso, são boas pessoas. Eu iria construir um muro. E ninguém mais entraria ilegalmente. Eu faria o México pagar por isso.”

Logo após a eleição de Trump reacenderam com mais força ofensas racistas em varias localidades dos EUA incentivadas pelas declarações do candidato do Partido Republicano. Em uma escola o professor ameaçou seus alunos negros e se chegou ao absurdo da prefeita de Clay, Beverly Whaling rir e elogiar uma piada que comparava a ex-primeira-dama dos EUA, Michelle Obama, a um "macaco de saltos". Em meio à crise econômica os imigrantes, negros tem sofrido os impactos da crise com aumento dos índices de desemprego e super-exploração do trabalho, escancarando o quanto o racismo e a xenofobia servem para ampliar a exploração capitalista. Buscando se fazer porta-voz destes setores Obama espertamente reivindicou seu mandato tentado apresentá-lo demagogicamente como um período de grandes conquistas para a comunidade negra. De outro lado, em um momento em que a economia dos EUA demonstra alguns sinais de recuperação, Trump busca dar uma saída pela direita a um sentimento da classe media branca que veio sofrendo os efeitos da crise econômica desde 2008.

Nos Estados Unidos, um pais onde as leis de segregação racial existiram até a década de 60 demarcando lugares onde os negros não poderiam conviver com os brancos, a eleição de Obama foi vista com grande expectativa e esperança não apenas pela comunidade negra, mas também pelos imigrantes, pelas mulheres e homossexuais. Depois de 8 anos de mandato, a realidade é que o fato de eleger o primeiro presidente negro não alterou a situação material e concreta de vida dos negros como se escancarou com os recorrentes assassinatos que incendiaram as ruas de Ferguson, Baltimore. A realidade é que apesar de não existirem mais leis de segregação, em várias cidades a segregação ainda existe na realidade e os negros vivem nas piores moradias, nos piores postos de trabalho, são a maioria entre os desempregados e no sistema carcerário. Neste último critério é aberrante a diferença entre negros e brancos, uma vez que, se por um lado os negros são 12% da população norte-americana somam mais de 40% da população carcerária, além de que os negros em geral são condenados a penas maiores do que os condenados brancos e estes índices se repetem no que se refere ao acesso à educação, aos salários e direitos trabalhistas e acesso à casa própria e de acordo com pesquisas do Urban Institute na variação entre 1983 e 2010, os brancos têm em média seis vezes mais patrimônio do que os negros e hispânicos.

O discurso de Obama e as declarações de Trump em recente coletiva de imprensa (onde além de tratar dos cyberataques, manteve um forte discurso protecionista e seu viés claramente racista e xenófobo ao tratar do tema migratório e do emprego) apontam a um momento de transição da presidência dos EUA marcado pelo clima de incerteza e preocupação tanto nos integrantes da burguesia e do Estado norte-americano quanto nos países que mantem relações com os EUA. Internamente Trump assumira um pais dividido em que a tendencia a uma maior polarização e o ressurgir de novas convulsões sociais. Nestes processos de luta, tal qual nas recentes manifestações do Black Lives Matter (Vidas Negras importam) certamente os negros voltarão a ter um papel de destaque, escancarando o enorme racismo no qual o capitalismo imperialista norte-americano se assenta. Em momentos como estes será necessário desmascarar também o discurso demagógico de Obama e do Partido Democrata, que longe de dar uma resposta as demandas negras estão mais preocupados em moderar o discurso de Trump para manter intactos os elos da cadeia de exploração sob a qual vivem os negros e imigrantes. Nestes processos de luta de classes será fundamental recuperar e colocar a prova um programa e uma estratégia classista, anticapitalista e revolucionária de combate ao racismo.




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