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POLÍCIA NA FUNDAÇÃO SANTO ANDRÉ | O que quer a polícia na minha universidade?

Nesta segunda-feira (04), as 17:30 se realizará uma reunião na Casa Amarela dentro da Fundação Santo André para debater um plebiscito sobre segurança. Com rondas cotidianas dentro da universidade realizadas pela Guarda Municipal (GCM), e as visitas da Polícia Militar no campus, a reitoria de José Hamilton enquanto expulsa os estudantes pelas altas mensalidades, busca vias para instalar as catracas e concluir o projeto histórico das reitorias que o antecederam: transformar a FSA em uma universidade privada, disciplinada à serviço do lucro.

Virgínia GuitzelTravesti, trabalhadora da educação e estudante da UFABC

Jenifer TristanEstudante da UFABC

segunda-feira 4 de maio de 2015 | 15:42

O que quer a polícia nas universidades?

Nos duros anos da ditadura militar o movimento estudantil deu passos decisivos para surgir como um sujeito político nacional que questionava o regime autoritário. Foram os centros acadêmicos que organizavam centenas de milhares de estudantes que atuavam pela e contra o fim da ditadura, de acordo com a ideologia hegemônica em cada universidade. As universidades, nesta efervescência política transformavam-se em bastiões da reação ou da luta contra a ditadura, a polícia assassina e os políticos-torturadores. Se a Universidade de São Paulo foi nesse cenário um grande polo de resistência, a Mackenzie, por sua vez, era uma organizadora da reação conservadora que promoveu a famosa "luta da Maria Antônia" entre estudantes pró e contra o regime militar.

A polícia invadia as universidades, demonstrando sua natureza como braço armado pronto para garantir a "ordem e o progresso", isto é, reprimir e destruir os polos intelectuais e produtores de ideologia que pudessem resgatar a verdadeira história pelos olhos dos explorados e oprimidos. Serviam para capturar, reprimir e torturar aqueles que desafiavam a ordem vigente, a moral burguesa e a profunda repressão cultural, política e intelectual. Uma das demandas que ficou marcada pelo movimento estudantil foi a exigência da saída da polícia das universidades, uma das grandes vitórias do Movimento Estudantil.

Grades, polícia e catracas: para me proteger ou me controlar?

Na Fundação Santo André, o histórico projeto das reitorias em transformá-la numa universidade privada à serviço do lucro e dos milionários desvios escandalisados com os roubos do antigo reitor Odair Bermelho hoje ganha novos contornos. Em 2008, o movimento estudantil nacional se levantou e protagonizou um processo de ocupações de reitorias, piquetes, greves massivas. Na FSA, essa luta garantiu a saída de Odair Bermelho, que para além de atacar aos cursos de licenciatura com ameaças de fechamento de turmas, o aumento de 100% das mensalidades, estava marcado pelo roubo de mais de 1 milhão de reais, que ele não pagou, nem foi preso. O maior ladrão da história dessa faculdade está impune e anistiado.

Na universidade da impunidade dos reitores, querem que sigamos pagando por uma dívida, que misteriosamente só aumentou nos últimos 7 anos. A falsa ideia de catracas, polícia e grades para proteger os alunos não se sustenta, porque se é um espaço seguro porque tantas maneiras de filtrar o seu acesso? Está a polícia realmente presente para proteger ou controlar? Quem contra a universidade não seleciona quem fica impune e quem será punido?

O local onde fica o ponto de ônibus, barracas de lanche e etc... é um lugar com pouca iluminação, completamente escuro. Isolado do resto da universidade devido a implementação das catracas e das grades, deixa os estudantes e funcionários da universidade sem qualquer proteção. É imprescindível que se melhore iluminação, que garantiria de inibir os roubos, como os possíveis abusos contra mulheres que as ruas mal iluminadas propiciam.

Precisamos de mais segurança, mas a polícia não entra na Universidade com esse intuito. Ela entra para reprimir os estudantes, funcionários e professores que desejam se levantar contra todos esses ataques que nos impõem. Ela não veio para garantir a nossa segurança, mas sim para garantir a nossa repressão e controle. Vemos essa história ser contada na USP há alguns anos já. A PM desde 2009 circula livremente dentro da USP com a justificativa de segurança, mas desde 2009 ela é acionada constantemente exclusivamente para reprimir estudantes e funcionários que estejam protestando. Em 2011 ela prendeu 72 estudantes que foram punidos por lutar em defesa da Universidade. A ideia de que da grade para dentro se está seguro e da grade para fora não, produz uma separação da comunidade do entorno com a universidade que é pública e deveria ser um espaço de todos. Enquanto os muros construídos e os invisíveis impedirem as pessoas de tomarem a universidade como sua, a insegurança será uma expressão do caráter de classe que a universidade reproduz.

A crise é a reitoria: por uma universidade sem polícia, à serviço dos trabalhadores e do povo pobre

A reitoria diz não ter dinheiro para as necessidades dos estudantes. Dizer ser a crise financeira deixada pelos antigos reitores. Até parece, para um aluno que recém chegou, que a crise é um pouquinho de cada um. Mas os professores, os trabalhadores e os estudantes não foram responsáveis por essa crise. Por que então teremos de pagar por ela?

Os ex-alunos e estudantes inadimplentes serão os primeiros a sofrer com as novas medidas "de segurança". Barrados na catraca, ficaram com o acesso ao ensino, à produção do conhecimento negados como a maioria da população barrada pelo filtro dos vestibulares das universidades públicas e as altas mensalidades das universidades privadas, para não dizer da crise do FIES. A presença da polícia e as punições administrativas herdeiras da ditadura que a REItoria conservou, que foram utilizadas nos processos administrativos contra os estudantes que lutaram contra o muro que fechou o Diretório Acadêmico da FAFIL, vieram para tentar disciplinar o movimento estudantil.

Na luta por uma educação pública, gratuita e a serviço dos trabalhadores, desde o conteúdo do currículo até o seu acesso, a Universidade deve estar a serviço de resolver e propor saídas para os problemas sociais da maioria da população. Que os negros que hoje são maioria nos postos terceirizados, estejam também nas salas de aula. Por isso, lutar para que a Polícia saia das universidades, morros e favelas, é parte de defender o nosso direito a organização política e o nosso projeto de universidade. A reitoria, a polícia e os governos são grandes inimigos da luta por educação de qualidade. A recente repressão dos educadores no Paraná não pode ser ignorada justamente quando a reitoria quer propor debater "segurança". Quando dizem "segurança" querem dizer "ordem", e quando dizem "ordem", é defender a educação comercial, para a formação de mão de obra especializada para o mercado.




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