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FESTIVAL LITERÁRIO DE PARATY | O que eu vi da FLIP 2016 - uma festa não política, mas permeada por política

O primeiro e segundo dia da FLIP se mantiveram tendo sempre em suas mesas a política tratada de maneira bem sutil, mas com os convidados fazendo críticas ao atual governo nas poucas oportunidades que tinham.

Gabriela FarrabrásSão Paulo | @gabriela_eagle

quarta-feira 6 de julho de 2016 | Edição do dia

foto: folhapres

Em um cenário nacional pós golpe e com um governo Temer sem legitimidade e que dentre seus primeiros ataques teve como alvo o Ministério da Cultura buscando seu desmantelamento, posição na qual ele teve que retroceder diante das ocupações da Funarte em São Paulo e de alguns ministérios da cultura, como o do Rio de Janeiro, não há como se promover uma festa literária sem que isso esteja presente, apesar das tentativas do evento ser imparcial.

A FLIP não saiu com nenhum posicionamento sobre o golpe e nem se posicionou a respeito disso, vendo a programação do evento era como se o golpe ou um governo Temer não existisse, como se a literatura fosse um campo onde a política não tivesse nenhuma influência sobre.

Mas aos convidados de algumas mesas o script não era bem esse. A primeira mesa da FLIP que aconteceu na quinta-feira, dia 30, teve como convida a poeta Laura Liuzzi que abriu sua fala lendo o seguinte poema:

Por quê?

Por que não paro?

Por que prossigo?

Por que insisto?

Por que lamento?

Por que reclamo?

Por que ajo?

Por que me omito?

Por que desabafo?

Por que levanto?

Por que indago?

Por que questiono?

Por que respondo?

Por que este infindável?

Por que?

Em seguida revelou que se tratava de um poema do presidente golpista Michel Temer e afirmou: “O que dá pra perceber de cara é que é um poema bem ruim”. A poeta ainda completou: “O Temer tem tanta legitimidade como poeta como tem como presidente”.

O primeiro e segundo dia da FLIP se mantiveram tendo sempre em suas mesas política tratada de maneira bem sútil, mas com os convidados fazendo críticas ao atual governo nas poucas oportunidades que tinham.

A oitava mesa, intitulada “A história da minha morte” com o brasileiro João Paulo Cuenca e a mexicana valeria Luiselli, foi um exemplo disso. J.P.Cuenca que tece críticas a transformação da cidade do Rio de Janeiro para receber as olimpíadas: “Enquanto escrevia o livro, estava lendo muito Lima Barreto, ele foi um farol. Na época dele houve muitas mudanças políticas no Rio com o prefeito Pereira Passos. Temos hoje no Eduardo Paes nosso Pereira Passinhos. Barreto fala também de uma imprensa que se comporta como partido político. Vejo, hoje, 100 anos depois, a mesma imprensa prostituída atendendo à direita”. Ainda continuou: “A gente, na nossa bolha, não sente tanto a seletividade da democracia brasileira. Quem mora na favela não tem isso. A ditadura continua para boa parte da população brasileira”. A mexicana Luiselli apontou com o quanto a situação brasileira era parecida com a mexicana.

Ainda nessa mesa, quando se abriu para as perguntas da plateia J.P. Cuenca afirmou que para mudar a sociedade brasileira “defenestraria todo mundo que está no poder agora. A prioridade do brasileiro tem que ser fazer de tudo para que esse governo caia. A gente não pode parar de falar nisso”.

Na mesa seguinte, “O show do eu”, com Christian Dunker e Paula Sibilia também houve política e se discutiu a crise de representatividade política.

Talvez as três mesas citadas aqui tenham sido as mais políticas da FLIP, nos dia que se seguiram, 2 e 3 de julho, a política infelizmente quase desapareceu das mesas da
programação e voltou a se falar de literatura como algo completamente apartado da vida política, até mesmo na mesa da escritora bielorussa Svetlana Aleksiévitch, cujo ultimo livro chama-se “O fim do homem soviético”, mas isso é assunto para um outro texto.


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