×

Publicamos a seguir declarações enviadas por duas organizações da esquerda grega pelo referendo do dia 5 de julho. A primeira pertence ao OKDE-Spartakos, integrante da Antarsya, a coalizão da esquerda anticapitalista da Grécia. A segunda nota é da OKDE (Organização de Comunistas Internacionalistas da Grécia – Luta Operária).

terça-feira 30 de junho de 2015 | 23:40

Não!
Não ao acordo. É preciso acabar com as negociações!

Declaração do Comitê Central do OKDE-Spartakos 28/06/2015

O governo grego não pode, apesar de seus esforços, ganhar a confiança das instituições (EU, FMI) e os favores da burguesia europeia. Não foram suficientes as promessas de honrar a dívida na forma exigida, de não levar a cabo ações unilaterais, e não tomar nenhuma medida que seja contrária à normalidade capitalista. Syriza adotou medidas, reformas e acordos com os memorandos (privatizações, reforma de pensões, cortes salariais, aumento de impostos – IVA – sobre os bens de consumo de massa, etc.), mas a Troika, a UE e o FMI e seus sócios na Grécia não querem somente medidas duras, mas buscam destruir qualquer esperança (e ilusão) que se reflita na eleição de um governo votado com o slogan de “acabar com os memorandos”, incluindo quando este slogan foi retirado nos primeiros dias seguintes à eleição.

A direção do Syriza se encontra em um beco sem saída, sem poder firmar seu suicídio político, ou seja, um acordo tão vergonhoso que converteria o partido no socialdemocrata PASOK de George Papandreou, e pressionado pelas demandas do movimento operário, lançou o referendo. Não temos ilusões nas intenções e na capacidade de Syriza de enfrentar-se com os interesses do capital e as instituições capitalistas. No entanto, votar NÃO às propostas da Troika pode abrir, sob condições apropriadas, um novo round na crise política do sistema que nos explora e oprime.

Nos próximos dias, os partidos capitalistas tradicionais, como Nova Democracia e PASOK, junto aos ultra neoliberais de TO POTAMI, irão se opor fortemente a qualquer imposto sobre os lucros das empresas e grandes fortunas, e exigem, porém, salários mais baixos. Estes partidos disseminarão o medo por todos os meios possíveis contra os supostos desastres que provocaria um rechaço a proposta da Troika. A chantagem está aberta, alertarão sobre a suposta catástrofe da saída da Zona do Euro. A classe operária, no entanto, já tem experimentado o verdadeiro desastre: a austeridade e a agressão capitalistas. A classe operária não pode e não deve temer, porque não tem nada de substancial para perder numa crise geral da Zona do Euro. Pelo contrário, quando o capitalismo, o sistema que nos explora, tremer, nos preparamos para a batalha. A ruptura com a UE e o FMI nos dará confiança e vontade de luta, não desesperança e medo.

Esta ruptura não pode ocorrer somente por meio de uma votação. As eleições tampouco poderiam ser a solução mágica para nos livrar da austeridade, e tampouco o será pelo referendo. Nos próximos dias, devemos nos encontrar nas ruas para enfrentarmos os atos reacionários e pró capitalistas com a marcha “Não ficaremos na Europa”, mas também para garantirmos que a ruptura seja real e que o referendo não seja somente uma manobra de negociação de Tsipras e a direção do Syriza. Ademais, não tenhamos ilusões: se não fossem pelas mobilizações de massas, não somente as recentes, mas também, especialmente, as dos últimos anos, se não houvesse conflitos com as instituições, os memorandos teriam se cumprido normalmente.

Nosso NÃO às propostas da Troika de forma alguma é um voto de confiança no governo Syriza-ANEL. Além do fato de que suas propostas, o texto de 47 páginas e as emendas posteriores, são totalmente inaceitáveis e representam um novo memorando, talvez um pouco mais suave, mas que incluirá mais cortes e privatizações. Na verdade, em algumas áreas, as propostas do governo são inclusive mais reacionárias que as das instituições: defendem programas de armamento, a preservação de isenções de impostos aos donos de embarcações. Diremos não a estas propostas também com a nossa luta.

No dia 5 de julho votamos pelo NÃO.
NÃO para começar a ruptura, não para começar uma nova rodada de negociações
NÃO nas ruas e não somente nas urnas
NÃO para este e para qualquer acordo
NÃO à Zona do Euro, à UE e ao FMI e não somente às suas propostas
NÃO à Troika mas também NÃO aos administradores do mesmo sistema.

— 

Declaração da OKDE sobre o voto NÃO no referendo do dia 5/7

A chantagem dos credores/usurários da UE e do FMI tem levado o Syriza a romper (temporariamente?) a chamada “negociação” e a recorrer ao povo, ao pedir para que este rechace as brutais medidas propostas. Os credores se acalmaram até agora com as contínuas concessões do governo e buscavam impor ao povo grego um novo acordo vergonhoso. As medidas incluíam grandes superávits fiscais, cortes nos salários e pensões e aumentos irracionais no IVA (imposto) sobre os bens de consumo, a abolição de todas as isenções fiscais aos trabalhadores e setores populares, o aumento da idade para a aposentadoria e muitas outras coisas mais que somente levariam a economia e a sociedade gregas ao desastre total. E ainda mais: pedem medidas cada vez mais duras, emitem ultimatos, atropelam a soberania nacional, como se estivesses dirigindo uma colônia, numa clara intenção de humilhar e asfixiar ao povo grego.

Chantageiam, ameaçam, provocam e querem intimidar e esmagar ao povo grego. Querem nos humilhar e nos colocar de joelhos, enterrando a vitória popular do dia 25 de janeiro. Para salvar “suas” forças pró-memorando que estão sob ameaça e se colapsam na Europa.

Os chantagistas da UE/Zona do Euro e o FMI tiveram durante todo este tempo a “quinta coluna” local. O grande capital e o “mercado negro”, os capitalistas que desejam preservar o regime do memorando para sempre. Os meios de comunicação de massa da decepção e a mentira, os partidos Nova Democracia, PASOK e Potami, todos eles encontraram nas ameaças e na chantagem dos imperialistas europeus a política que os permitiria salvar sua miserável e catastrófica existência.

As concessões do governo Syriza aumentaram o atrevimento dos setores mais “radicais” dos partidos locais pro-memorando, das mobilizações “Permanecer na Europa”, dos colaboradores que enviam a mensagem aos “sócios” europeus de que estão prontos – no caso de voltarem ao poder – para implementarem quaisquer medidas anti-operárias e antipopulares requeridas pelos credores/usurários, Merkel-Schauble, Hollande, Juncker e banda do FMI.

Agora, após o anúncio do referendo, apesar dos limites políticos que possa ter, tem começado a queixar-se novamente, semeando o medo e aterrorizando ao povo grego com rumores sobre os caixas eletrônicos, o euro e o dracma e outro rumores alarmistas. Do que é que eles temem? Se ao final eles dizem que a grande maioria do povo grego está a favor da UE e o Euro e que votarão para que fiquem na Zona do Euro. Por que dizem que a eleições, o referendo ou qualquer outra intervenção do povo grego são um “desvio constitucional”, especialmente quando são eles os que controlam os meios de comunicação de massas e que durante muitos anos têm feito lavagem cerebral sistematicamente?

O anúncio dramático do referendo do primeiro-ministro Tsipras às 1h da manhã do sábado, dia 27 de junho, não reduz sua responsabilidade ou a de seu governo. Pelo contrário: o referendo é uma confissão do fracasso da estratégia do Syriza. Tudo o que conseguiram seguindo sua ideologia de “permanecer no Euro de todo jeito” (que também é a ideologia das forças pró-memorando) foi aumentar o descaso dos credores/usurários. Com o infeliz acordo do dia 20 de fevereiro e as contínuas concessões e “negociações” quase cederam completamente aos credores.

Ao cumprir os prazos, outorgando aos usurários bilhões de euros (quase 7,5 bilhões desde o início de 2015), que pertencem aos trabalhadores e às massas, o governo tem drenado a economia e continuado a destruição dos serviços públicos. Com sua decisão de não aumentar o salário mínimo ao nível prévio a 2010 e não cumprir os convênios coletivos, abandonaram inclusive seu medíocre “Programa Tessalônica” e suas promessas eleitorais, as mesmas que roubaram o voto do povo grego. Com as discussões a portas fechadas, semeando ilusões sobre as possibilidades de um “acordo”, próximo de ser alcançado semana após semana, mediante mentiras, tentaram enganar o povo grego. Finalmente, sua proposta de 50 páginas incluía medidas duras ao estilo do memorando.

No referendo do dia 5 de julho devemos denunciar a proposta dos credores/usurários, porque esta levará a destruição da economia e da sociedade gregas. Mas qualquer outro plano, incluindo o plano de 8 bilhões do governo, também deverá ser denunciado. Este contém duras medidas contra os trabalhadores e o povo e se confronta completamente ao voto e as lutas do povo grego do dia 25 de janeiro. A “quinta coluna” das forças pró-memorando também deverá ser denunciada.

No entanto, também devemos denunciar todas as políticas que busquem soluções no marco da UE e da Zona do Euro. Devemos condenar a UE imperialista e racista. Podemos derrotá-los mais uma vez. Lutar em todas as partes para apoiar e ampliar a vitória do dia 25 de janeiro, para apoiar os direitos da classe operária e os setores populares! É preciso destruir o memorando!

Cancelar as privatizações. Nacionalização sob controle operário (dos bancos, etc.). Fim de todos os impostos sobre os setores populares e operários. Recuperação dos níveis salariais e das pensões ao nível prévio das perdas impostas pelos memorandos. Reinstaurar o salário mínimo e os convênios coletivos. Abolir o estado de emergência do memorando.

Não ao pagamento da dívida. Pelo cancelamento da dívida. Dinheiro para nossas necessidades (hospitais, escolas, serviços sociais, investimentos públicos, etc.). Não a todas as negociações, não aos “acordos”. Pela saída do Euro e da União Europeia.

Nos dias que restam até o referendo, os trabalhadores, os desempregados, os setores populares e a juventude devem dar um passo adiante. Devem se somar ativamente à luta pelo NÃO À “PROPOSTA” DOS CREDORES/USURÁRIOS, NÃO À PROPOSTA DO GOVERNO. Este “NÃO” deve ressoar em todas as partes, em cada canto do país, e devemos impô-lo com força. Não devemos confiar nos anúncios, uma verdadeira saída da direção do Syriza.

Devemos construir uma rede de assembleias/comitês de trabalhadores e setores populares, nos bairros, nos lugares de trabalho, nas escolas e faculdades, para organizarmos a luta que se avizinha.

É necessário nos livrar do medo; as forças pró-memorando (dentro e fora do país) querem espalhar sua propaganda. Temos de rechaçar todos os ataques das forças pró-memorando, temos de acabar com a queda de Tsipras/Syriza, e criar uma verdadeira esperança, um governo dos trabalhadores, impondo nossos direitos em todas as partes.

LUTAR EM TODAS AS PARTES. ATÉ A VITÓRIA!




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias