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UNESP ARARAQUARA | O que aprendemos com a campanha pela reintegração das 17 expulsões? Parte I

quinta-feira 14 de maio de 2015 | 00:30

Entre os dias 28 de janeiro de 2015, data da saída do resultado das 17 expulsões da UNESP da Araraquara, até o dia 7 de maio de 2015, iniciou-se uma campanha pela revogação das 17 expulsões recebendo apoio dos mais diversos movimentos sociais, em especial o apoio efetivo do comando de greve independente dos professores do Estado de São Paulo, de Araraquara.

A atuação dos professores em greve demonstrou exemplos de unificações das lutas em um processo que a luta pelo reajuste salarial e a reabertura das 3900 salas foi colocado com o mesmo peso em relação à luta pela revogação das expulsões, com ações de passagem de sala em sala na Universidade, com criação de vídeos chamados e atuação em conjunto para a construção do ato contra o PL 4330, somente reforçam que a unificação das lutas é o método mais efetivo para obtenção de nossas pautas.

Com toda a construção de uma campanha democrática que alçou espaços nacionais e que culminou no ato do dia de 7 maio pela revogação das 17 expulsões, contudo, a reitoria deixa claro que continuará sua campanha repressiva contra qualquer oposição ao seu projeto de universidade com 180 dias de suspensão para os 17 e a reabertura das 31 sindicâncias em Rio Claro e sindicâncias no Instituto de Artes.

O que aprendemos com os outros?

No contexto instaurado pela crise do capitalismo de 2008 que perdura até hoje e que aprofundou a crise econômica no Brasil nestes últimos anos, expressando um crescimento tímido do PIB e com metas de inflação sendo ultrapassadas de maneira sistemática, e ainda, uma crise que leva a indústria, para garantir seus lucros, a demitir trabalhadores e com que esses sintam de maneira mais aguda a perda de seu poder de compra. A crise de 2008 afetou objetivamente a vida dos trabalhadores, mas também subjetivamente, abrindo a possibilidade dos trabalhadores e da juventude questionarem a imagem construída nos anos 90 e 2000 de um capitalismo invencível.

Abre-se uma série de levantes ao redor mundo. Primavera árabe, indignados na Europa, Ocuppy Wall Street, os estudantes chilenos, levantes de juventude no México, na França, levantes da juventude negra em Fergson e Baltimore, além de inúmeras greves protagonizadas por trabalhadores ao redor do mundo. No Brasil, a juventude se levantou em Junho de 2013 e foi seguida em 2014 pelo maior ascenso de greves desde de os anos 80.

Nas jornadas de Junho aprendemos que apesar de nos mobilizarmos pelas pautas mais imediatas, nos defrontarmos com um projeto que vai além dessa reivindicação pontual, no caso, os 20 centavos. Aprendemos também, que é só possível vencer com nossas próprias forças e com nossos próprios métodos, nas ruas, cansados da política convencional.

Em 2014, aprendemos com a vitória dos Garis que somente com a mobilização de todos da categoria, ou seja, pela base, que a vitória é possível. Aprendemos também com a derrota dos metroviários que somente as unificações das lutas nos garante força pra avançar contra um Estado que possui diversas ferramentas de coerção e repressão, com a mídia, a policia, as leis etc.

Na campanha pela reintegração dos 42 metroviários demitidos, aprendemos que realizando uma campanha democrática exigindo apoio de todos os setores da esquerda, combinando com atos de rua e fechamento de avenidas e luta jurídica é possível pressionar e vencer, dessa forma conseguimos a reintegração desses companheiros aos seus trabalhos.

Crise da educação

Pela educação expressar nos orçamento sempre os maiores gastos e em contexto de crise econômica é setores como este e a saúde são os primeiros a ficarem sem dinheiro, em contraposição aos luxos das castas politicas. No ano de 2015, a gestão do PT cortou 7 bilhões da educação, reduziu 30% das verbas das federais, problemas e cortes no FIES que fez com que inúmeras pessoas perdessem seus cursos. Tendo como marco a atual campanha publicitaria do governo com o nome “Ajustar para Avançar” em que se justifica os cortes nessas áreas.

No governo do PSDB, temos a já histórica precarização da educação como também o fechamento de 3900 classes e o arrocho salarial da categoria dos professores do estado, o corte dos salários dos professores em greve, cortes nos planos de carreira de funcionários e docentes da UNESP, cortes de 200 milhões das três universidades estaduais (USP, UNESP e UNICAMP) e fechamento e filas de creches e Restaurantes Universitários. Em meio a isto, se desdobra um movimento de greves das universidades federais e os quase 60 dias de greve dos professores do estado de São Paulo.

Em 2014, tivemos ataques brutais a educação que foram o não reajuste salarial dos servidores e docentes das 3 estaduais, cortes nos cursinhos universitários da UNESP e cortes nos programas de permanência estudantil somado ainda a uma forte campanha dos conglomerados de comunicação, grandes empresas da educação e o Banco Santander (via Universia) pelo fim da gratuidade nas universidades. O sindicato dos trabalhadores da USP se coloca como ponta de lança na defesa da educação publica e gratuita e pela luta do reajuste salarial.

O que aprendemos com o SINTUSP?

O SINTUSP somente venceu pela sua profunda democracia de base que supera a tradição CUTista (central sindical subordinada ao PT) e que hoje aplica profundos golpes a democracia dos trabalhadores não respeitando deliberações de suas assembleias e dissociado de trabalho de base, ou seja, são sindicatos que não se propõem a discutir no dia a dia com os trabalhadores.

A democracia do SINTUSP foi colocada a prova nas mobilizações de 2014. SINTUSP é um sindicato de gestão proporcional, ou seja, mediante a porcentagem de votos que cada chapa consegue será o mesmo numero de cadeira que cada chapa vai ter. Combinado a isso um sindicato que, em período de mobilizações, dissolve sua direção e aí assume um comando das mobilizações com delegados eleitos em cada local de trabalho. Associado a um sindicato não corporativista, ou seja, ele não se mobiliza somente pela pauta salarial, assim, deu inúmeros exemplos em construção de atos contra assassinato de um jovem pela Polícia Militar na favela de São Remo, em São Paulo; construíram atividades de combate a transfobia; recentes paralisações contra ofensas homofobias da prefeitura do campus; e a iniciativa de cantinho das crianças para que as trabalhadoras que tenham filhos tenham aonde deixa-los e, assim, ter tempo para participar da greve.

O que aprendemos com a ocupação da UNESP de Araraquara?

Mediante a crise instaurada pelos cortes da Reitoria em 2014, as unidades da UNESP, através de manobras, implantam, sem discussão com a comunidade acadêmica, critérios subjetivos para os processos seletivos das bolsas de auxilio sócio econômicas e para as vagas da moradia estudantil, tais quais: mérito acadêmico, aluno primeiroanista e renda mínima. Resultado disso: 38 expulsões de estudantes da moradia estudantil na UNESP de Araraquara, por isso, em meio às tentativas negadas de negociação da direção, ocorre uma ocupação na direção.
Foram mais de 20 dias de ocupação e o resultado foi a reintegração de posse na calada da noite e a não conquista da reintegração dos 38. A ocupação foi um exemplo de construção passando por duas assembleias, uma de moradia e uma geral, contudo houve inúmeros erros antes, durante e depois da ocupação; extrair lições das lutas passadas para avançarmos em lutas futuras é ser necessariamente consequente com a luta estudantil.

Beatriz Costa, militante da Juventude Às Ruas e aluna do primeiro ano na época, fala “naquele momento tínhamos um movimento estudantil na Unesp, de Araraquara, corporativista que não se propunha a lutar por pautas mais amplas e limitados apenas as lutas pela expulsões da moradia e não se atrelando e discutindo os desmontes dos cursinhos universitários populares da UNESP, falta de professores, problemas nas licenciaturas, problemas nos cursos e não associando a um projeto mais amplo que questione o vestibular enquanto um filtro social que barra trabalhadores e a juventude negra de adentrar a universidade; a estrutura do poder da universidade com a saída do sufrágio universal, abertura do livro contas e o recente estado da educação superior privada. Lembrando ainda que o programa do sufrágio universal somente era defendido pela Juventude às Ruas".

A estrutura de poder da universidade é distribuída entre os 3 segmentos dentro dela, tendo os professores 70%, funcionários e estudantes 15% cada. Ocorre que esta dita democracia, torna a participação dos demais setores apenas consultiva e possibilita as inúmeras arbitrariedades dentro da universidade. Graças a essa estrutura de poder quando ocorre uma crise orçamentaria os primeiros cortes ocorrem prioritariamente nos funcionários, terceirizados e políticas de permanência estudantil.

A proposta de paridade, ou seja, que as distribuições de poderes sejam distribuídos em 33/33/33 pode ate oferecer melhores condições para luta, não supera a lógica do meritocrática para o voto e nem de fato questiona o reitora e corporativismo dentro do espaço universitário, continuando o professor tendo maior mérito. Vejamos os cálculos:

A UNESP hoje tem 3730 professores na ativa, mais 1623 aposentados. Somando, são 5353 docentes que tem o peso de 70% das decisões. Muitos justificam isso pelo fato dos professores ficarem mais tempo dentro da universidade, contudo a mesma logica não vale para os funcionários. São os 7247 funcionários técnico- administrativos em ativo e 3512 aposentados. Somados chegam 10759 pessoas com o peso de 15%. Os estudantes de graduação são 36264 e de pos graduação 12818. Somados atingem o numero de 49082 pessoas.

Dentro da paridade os docentes teriam 2 vezes mais poder de voto que os funcionários. Em relação aos estudantes eles teriam 9,16 vezes mais poder de voto, de fundo não muda a disparidade entre os setores, tendo os trabalhadores terceirizados excluídos desse processo. Agora se colocarmos na conta a atual estrutura de poder podemos veremos esses números se multiplicando.

Gustavo Anversa, militante da juventude as ruas, complementa “ boa parte dos desvios que ocorre no movimento estudantil se dá pelo fato de não se discutir um estratégia para vencer. A unificação das lutas é saída para isso, no contexto que estávamos de ocupação tínhamos um movimento estudantil que negligenciou todo um movimento de greve dos funcionários. Se temos hoje os professores do Estado passando de sala em sala apoiando o movimento estudantil, precisamos lembrar dos trabalhadores da UNESP que em ato, em 2014, passou de sala em sala chamando nossas assembleias. A saída necessária para o movimento estudantil da UNESP é a estratégia de aliança de trabalhadores e estudantes, devemos nos unir com a classe que tudo produz. Dentro da universidade significa a luta contra terceirização e a imediata admissão desses trabalhadores sem concurso publico, pois estes atestam cotidianamente condições para trabalharem dentro da universidade”.

Vynicius Alavarce Campos, militante da Juventude às Ruas, fala que: “o movimento estudantil padece de inúmeros problemas um deles é o ultraesquerdismo. Essa lógica de atuação é marcada com ações descoladas da base, autossuficiência de pequenos grupos, própria falta de debates e atividades que politizem o dia a dia da universidade com um programa de discussão mais ampla. Exatamente pela lógica autossuficiente desdobra em dois desvios. Primeiro, não busca correlação de forças o que fez com que os estudantes não buscassem aliança com os funcionários na greve, de 2014 ou exemplo da tentativa de recusa apoio do deputado Estadual Ivan Valente. Segundo é o fetiche na ação direta, ou seja, entende que saída dos problemas políticos são ações “radicalizadas” e o sucesso da ação é condicionada a necessidade de um ação mais “radicalizada ainda”. A questão que a ação que de fato radicalizada é quando atrelado por uma mobilização de base.”

O que os professores do Estado de São Paulo ensinaram?

Em meio aos 60 dias de greve e na medida que se escancarou o papel da APEOSP em não se mobilizar pela base (seguindo toda logica CUTista). Para tal, vários trabalhadores tem necessidade de ir além dessa logica de atuação, no caso os professores do Estado de São Paulo essa mesma necessidade se impôs. Com isso, uma nova gama de ativista se formam marcados por ações pela base e tendo que enfrentar a burocratização do sindicato. Outro elemento, é a insistência de não unificações da lutas.

Bruno Portari, militante da Juventude Às Ruas, conclui “todo esse processo de aprendizagem com a luta foi importante para o entendimento dos erros e acertos do movimento estudantil. Os professores foram de fundamental importância para conquista da revogação e também demonstram a efetividade da estratégia de aliança de trabalhadores e estudantes. Em meio a esse processo ficou claro como a atuação do movimento estudantil e dos Centros Acadêmicos, da UNESP de Araraquara, são tímidas para com o apoio da greve. Um movimento estudantil e uma entidade realmente combativa deviam estar mais presentes em todas as assembleias dos professores, construindo, participando de suas atividades, chamando os estudantes a participarem dela, construir campanha financeira para o fundo de greve. “São coisas que o movimento estudantil e as entidades negligenciam hoje.”




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