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REVOLUCIONÁRIOS | O nascimento de Lenin

Em 22 de abril de 1870, nascia em Simbirsk, Rússia, o grande revolucionário do século XX Vladimir Ilich Ulianov (o futuro Lenin), o organizador e líder do Partido Bolchevique, da Revolução de Outubro de 1917, da criação da URSS e da fundação da III Internacional. Em homenagem a seu nascimento, recomendamos a leitura da compilação realizada pelo CEIP León Trotsky em 2009.

sexta-feira 24 de abril de 2015 | 00:01

Trotsky projetava publicar uma biografia de Lenin antes da morte do dirigente da Revolução de Outubro, especialmente desde 1923. Mas se decidiu a publicar os primeiros esboços e discursos quando o avanço da burocracia stalinista no aparato do partido e do Estado, ameaçava as primeiras conquistas da revolução socialista. Lenin, como demonstram Trotsky e em seguida historiadores como E.H Carr ou Moshe Lewin, morreu batalhando contra estas tendências.

Junto às revisões teóricas e práticas burocráticas, começaram a saltar as tergiversações e falsificações históricas e, certamente, biográficas. Especialmente convertiam Lenin em um ícone desde sua infância, uniam sua figura a de Stalin e apagavam ou “faziam desaparecer” os outros dirigentes bolcheviques, especialmente Trotsky, alimentando o culto a personalidade.

Nas biografias mais recentes dos intelectuais Hélène Carrère d’Encausse ou Richard Pipes (como escribas do imperialismo da época), Lenin, diferentemente, teria características maléficas de nascimento expressas em seu autoritarismo, crueldade, inflexibilidade pelo objetivo (que seria uma de suas melhores qualidades), ambição pelo poder. Criando um partido à sua imagem e semelhança deu lugar a um Stalin, o qual era comparado com Hitler por seus níveis de crueldade. Daí que o comunismo estaria condenado desde sua própria gênese.

Trotsky queria desmentir todas estas tergiversações, principalmente as stalinistas embora, como se vê em seu artigo sobre o “testamento” de Lenin, também contra biógrafos como Emil Ludwig. O fez em meio a tremendas dificuldades, através dos distintos exílios, das perseguições dentro e fora da URSS a ele e seus partidários, os Julgamentos de Moscou, a morte e assassinato de todos seus filhos, ao mesmo tempo em que lutava teórica e praticamente para construir a IV Internacional.

Trotsky se esforçou para mostrar um Lenin real, incluídas suas contradições, especialmente em sua juventude (o único texto especificamente biográfico que chegou a terminar), na qual este último, tardiamente para a época, começa a simpatizar com o populismo. Nos mostra um Lênin produto das condições de sua época mas que, ao mesmo tempo, concentrava capacidades excepcionais que, graças a um grande esforço pessoal, lhe permitiram romper com o pensamento imperante e levar à ação as ideias desenvolvidas pelo marxismo predecessor. Como disse em 1923, em seu discurso “Lenin doente”: “Marx é o profeta das tábuas da lei e Lenin o maior executor do testamento, que não só dirigia à elite proletária, como o fez Marx, senão que dirigia classes e povos nas execuções da lei, nas situações mais difíceis que atuou, manobrou e venceu”. Lenin, segundo Krupskaia, um mês antes de morrer, releu estes parágrafos do livro em preparação com Trotsky.

Trotsky não pode completar sua projetada biografia de Lenin. Mas, embora com certos lapsos, o conjunto de materiais aqui compilados, pode nos dar uma ideia bastante profunda e acabada da vida e personalidade do grande revolucionário russo.

Para ler a apresentação completa do livro, entre no site do CEIP http://www.ceipleontrotsky.org/Presentacion-4997
Reproduzimos um extrato da nota biográfica escrita por Trotsky para a Enciclopédia Britânica que faz parte desta esta compilação:

NOTA BIOGRÁFICA SOBRE LÊNIN

LENIN, Vladimir Ilich Ulianov (1870-1924), fundador e espírito guiador das Repúblicas Soviéticas e da Internacional Comunista, o discípulo de Marx, o líder do Partido Bolchevique e o organizador da Revolução de Outubro na Rússia, nasceu em 9 (22) de abril de 1870, na cidade de Simbirsk, atual Ulianovsk. Seu pai, Ilya Nikolaievich, era professor. Sua mãe, Maria Alexandrovna, era filha de um médico chamado Berg. Seu irmão mais velho (n. 1866) se uniu a “Narodovoltze” (uma sociedade terrorista revolucionária) e participou do atentado fracassado contra a vida de Alexandre III, foi executado (em 1891); este foi um fator determinante na vida de Lênin.

Primeiros anos: O terceiro de uma família de seis, Lenin completou seu curso no ginásio (liceu) de Simbirsk em 1887 e obteve a medalha de ouro. Ingressou na Universidade de Kazan para estudar Direito, mas em dezembro do mesmo ano foi expulso por ter participado de uma reunião de estudantes e exilado de seu país. Não foi senão até o outono de 1889 que foi permitido voltar a Kazan, onde começou a fazer um estudo sistemático de Marx e conheceu os membros do círculo marxista local. Em 1892 Lenin foi aprovado nos exames de Direito da Universidade de São Petersburgo (1), e em 1892 começou a exercer a profissão de advogado em Samara, atuando na defesa em vários julgamentos. Sua vida, no entanto, esteve principalmente dedicada ao estudo do Marxismo e sua aplicação ao desenvolvimento econômico e político da Rússia e, subsequentemente, de todo o mundo.

Em 1894, se mudou para São Petersburgo, e começou seu trabalho de propaganda. A este período correspondem os primeiros escritos polêmicos de Lênin dirigidos contra o partido popular e que passaram de mão em mão em forma de manuscrito.

Imediatamente depois, Lênin começou uma luta teórica na imprensa contra os falsificadores de Marx. Em abril de 1895 fez sua primeira viagem ao exterior para reunir-se com Plekhanov, Zasulich, Axelrod e o Grupo Marxista conhecido como Osvobojdenie Truda (Emancipação do Trabalho). No seu retorno a São Petersburgo, organizou o ilegal “Sindicato para a liberação da Classe Trabalhadora”, o qual rapidamente se transformou em uma importante organização que levava adiante tarefas de propaganda entre os trabalhadores.

Em dezembro de 1895 Lênin e seus colaboradores mais próximos foram presos. O ano de 1896 passou na prisão e, em fevereiro de 1897 esteve exilado por três anos na província de Yenisei no leste da Sibéria. Em 1898 se casou com N.K. Krupskaia, uma camarada do Sindicato de São Petersburgo e sua fiel companheira pelos 26 anos restantes de sua vida.

Durante seu exílio finalizou seus trabalhos econômicos mais importantes, O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia, baseado em um grande corpo de material estatístico (1899). Em 1900 Lenin foi à Suíça com o objetivo de organizar, com o Grupo Emancipação do Trabalho, a publicação de um jornal revolucionário dirigido à Rússia. Ao final do mesmo ano apareceu em Munique o primeiro exemplar de Iskra (A faísca), com o lema “Desta faísca arderá a chama”. Seu objetivo era dar uma interpretação marxista dos problemas da revolução, com as consignas políticas da luta, e para formar um partido revolucionário centralizado “ilegal” de social democratas, o qual, à cabeça do proletariado iniciaria a luta contra o czarismo.

A ideia de um partido organizado que lidere a luta do proletariado em todas suas formas e manifestações, uma das ideias centrais do Leninismo, está intimamente ligada a ideia da hegemonia da classe operária dentro do movimento democrático do país. Esta ideia encontrou uma expressão direta no programa da ditadura do proletariado quando o desenvolvimento do movimento revolucionário preparou as condições para a Revolução de Outubro.

A Revolução de 1917: A Revolução de Fevereiro de 1917 encontrou Lênin na Suíça. Suas intenções de chegar a Rússia se depararam com a oposição do governo britânico e decidiu viajar através da Alemanha. O êxito de seu plano deu aos inimigos de Lenin a ocasião para uma feroz campanha de calúnias, as quais, não obstante, foram impotentes para impedir-lhe de assumir a direção de seu partido e, em pouco tempo, da revolução.

Na noite de 4 de abril, ao desembarcar do trem, Lênin deu um discurso na estação Finlândia em Petrogrado. Repetiu e desenvolveu as ideias principais que manteria nos dias seguintes. A derrubada do czarismo, disse Lenin, era somente a primeira etapa na revolução. A revolução burguesa já não poderia satisfazer as massas. A tarefa do proletariado era armar-se, fortalecer o poder dos soviets, despertar os distritos do país e preparar para a conquista do poder supremo em nome da reconstrução da sociedade sobre bases socialistas.

O programa de mudanças sociais não era só mal visto por aqueles que participavam da propaganda do socialismo patriótico, senão que inclusive foi causador de uma oposição dentro dos próprios bolcheviques. Plekhanov qualificou o programa de Lenin de “louco”. Lenin, no entanto, previu que a desconfiança na burguesia e no governo provisório cresceria com mais força cada dia, que o partido bolchevique obtivesse uma maioria nos soviets e que o poder supremo passaria a suas mãos. O pequeno diário Pravda se transformou repentinamente, aos estar em suas mãos, em um poderoso instrumento para a derrubada da sociedade burguesa.

A política de coalizão com a burguesia seguida pelos socialistas patrióticos e o desesperado ataque com o qual os aliados forçaram o Exército Russo a assumir no front provocaram as massas e levaram às manifestações armadas em Petrogrado nos primeiros dias de julho. A luta contra o bolchevismo tornou-se intensa. Em 5 de julho, falsos “documentos” foram publicados pelos serviços secretos contra revolucionários, pretendendo provar que Lenin estava atuando sob as ordens do Estado maior alemão. Ao anoitecer, destacamentos “confiáveis” convocados do front por Kerensky e oficiais Cadetes dos distritos ao redor de Petrogrado ocuparam a cidade. O movimento popular foi esmagado. A perseguição à Lenin chegou ao seu ponto mais alto. Neste momento ele começou a trabalhar “clandestinamente”, escondendo-se primeiro em Petrogrado com uma família de trabalhadores e depois na Finlândia.

Os dias de julho e as represálias que seguiram provocaram uma explosão de energia nas massas. Os bolcheviques obtiveram a maioria nos Soviets de Petrogrado e Moscou. Lenin exigiu ação decisiva para tomar o poder supremo. “Agora ou nunca!” repetia veementemente em artigos, cartas e entrevistas. (...)

Morte: O esgotamento, como resultado de um excessivo e duro esforço ao longo de vários anos, arruinou a saúde de Lenin. A esclerose afetou suas veias cerebrais. No começo de 1922 seus médicos lhe proibiram de realizar tarefas diárias. De junho a agosto a doença avançou rapidamente e, pela primeira vez, começou a perder a capacidade de fala, e em dezembro sua mão e perna direitas ficaram paralisadas. Morreu em 21 de janeiro de 1924 às 6:30 da manhã em Gorki, perto de Moscou. Seu funeral foi de uma mostra de amor e dor exemplar por milhões de pessoas.

O aspecto exterior de Lenin se distinguia por sua simplicidade e fortaleza. Era mais baixo que o tamanho comum, com as características comuns de um rosto eslavo, iluminados por um brilho intenso; sua poderosa frente e sua ainda mais poderosa cabeça lhe outorgava uma característica distinta. Era um trabalhador incansável sem par. Pôs a mesma dedicação exemplar nos círculos de leitura em um pequeno clube de trabalhadores em Zurique que na organização do Primeiro Estado Socialista do Mundo. Soube apreciar e amar plenamente a ciência, a arte e a cultura, mas nunca se esqueceu que as mesmas, todavia, estavam em mãos de uma pequena minoria. Seu estilo de vida no Kremlin não era algo diferente ao de sua vida como exilado no exterior. A simplicidade de seus hábitos diários se devia ao fato de que o trabalho intelectual e a intensa luta não só absorviam seus interesses e paixões senão que também lhe deram uma intensa satisfação. Seus pensamentos nunca deixaram de concentrar-se na tarefa de libertar os trabalhadores.

1. A cidade de São Petersburgo foi fundada por Pedro o Grande em 1703, convertendo-a na capital do império russo até a Revolução de Outubro quando o governo soviético transferiu a capital para Moscou. Desde 1914 até 1924 passou a chamar-se Petrogrado e desde a morte de Lenin em 1924 até 1991 se converteu em Leningrado. Em 1991 retomou seu antigo nome: São Petersburgo.




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