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FITTIPALDI E A DITADURA | O lado da escuderia Fittipaldi que ninguém mostra

A história da escuderia criada pelos irmãos Fittipaldi e a sua relação com Ernesto Geisel.

terça-feira 13 de dezembro de 2016 | Edição do dia

De acordo com o Acervo Estadão, no dia 16 de outubro de 1974 aconteceu uma cerimônia no Palácio do Planalto com a presença do presidente Enersto Geisel, para a apresentação do projeto Coopersucar Fittipaldi, primeiro e até hoje o único carro de Fórmula 1 projetado pelos irmãos Emerson e Wilson Fittipaldi. Até hoje, os irmãos Fittipaldi são visto como pessoas ’’nacionalistas e amantes de automobilismo’’ por terem pensando este projeto, porém ninguém fala o que esteve por trás deste carro.

A matéria do Acervo Estadão conta que a carroceira do carro foi feita pela empresa estatal Embraer, que também ajudou nos estudos aerodinâmicos. De acordo com a analise crítica feita pelo blog ’’Perdi as salsichas’’, a partir do livro de Ricardo Sterchele, "Coopersucar - Fittipaldi : A história completa da Fórmula 1", o autor do sítio afirma que Wolney Attala, dono da empresa Coopersucar que financiou a escuderia Fittipaldi boa parte de sua existência, era amigo pessoal do General Ernesto Geisel.

De acordo com o autor do blog, o objetivo de Attala ao financiar o projeto dos irmãos Fittipaldi era ’’mostrar que Brasil era capaz de produzir um Fórmula 1 e por isso seria capaz de receber qualquer indústria ou investimento no país’’. O patrocínio da empresa Coopersucar a Escuderia dos irmãos Fittipaldi serviu como uma ferramenta ideológica da ditadura militar para fazer propaganda com o objetivo de mostrar um Brasil que ’’poderia crescer e ser uma grande potência’.

Além de ter financiado a escuderia Fittipaldi, Attala ficou conhecido pela a aquisição da Cia. União dos Refinadores e também da Hills Brothers, uma das maiores empresas de café do mundo, com sede nos Estados Unidos. O empresário da Coopersucar também participou da aquisição da Usina Varjão, situada em Brotas, e também da Usina Lambari, depois renomeada Central Paulista Açúcar e Álcool Ltda.

Não precisa nem dizer que a equipe Coopersucar Fittipaldi fez parte de uma propaganda política do governo militar em torno do esporte. Cinco anos após a criação da escudaria de Emerson e Wilson, em 1970, o Brasil ganhava o seu terceiro título da Copa do Mundo. O governo militar utilizou-se do momento para fazer propaganda do ’’milagre econômico’’, mostrando que, assim como o futebol canarinho, ’’ninguém segura este país’’.

Além da Copa do Mundo, a ditadura militar criava um time nacional em cada região do país em que a Arena (partido do regime) estava perdendo força. Foi por conta disso que o campeonato brasileiro é conhecido por ser um dos torneios de futebol mais disputados do mundo, tendo inúmeros times grandes que já disputaram em alguma ocasião o torneio.

Além dos casos do futebol e do automobilismo, em 1973 tivemos o caso do pugilista Eder Jofre, que venceu em 1973 o título mundial dos pesos pena. De acordo com a Agência Maurício Tragtenberg da PUC-SP, o lutador tinha prometido que, caso ganhasse o título, colocaria no túmulo de sua mãe as luvas utilizada na luta decisiva. Porém, o pugilista foi coagido mudar ideia por Médici e acabou dando a luva direita para o presidente e a luva esquerda para a sua mãe.

No final das contas, a tentativa de Emerson e Wilson Jr em criar uma escuderia brasileira acabou sendo um fracasso com alguns ganhos irrelevantes. O bicampeão Emerson Fittipaldi, depois de ter trocado a McLaren - equipe na qual ganhou o seu segundo título da categoria - pela Coopersucar Fittipaldi, apenas conseguiu poucos pódiuns com a equipe Brasileira e muitas vezes amargou os últimos lugares do grid.

Nos seus oito anos de vida, fizeram parte da equipe Emerson Fittipaldi, o projetista Adrian Newey, que está na equipe Red Bull e que passou pela Williams e McLaren, Harvey Postlethwaite, projetista que trabalhou na Ferrari e Tyrrell, Keke Rosberg, piloto campeão mundial de Fórmula 1 em 1982 e Jo Ramirez que trabalhpu na Mc Laren nos 80 e 90.

O caso da escuderia Fittipaldi mostra que o esporte não consegue estar de fora das relações políticas e econômicas degradadas que o capitalismo impõe. Apesar do automobilismo, assim como o futebol, proporcionar grandes emoções, muitas vezes o lado obscuro do esporte é varrido para debaixo do tapete. O envolvimento histórico da FIFA com países ditatoriais, assim como o envolvimento com corrupção de grandes atletas como Neymar e Messi, mostram este lado que precisa ser combatido por aqueles querem transformar a sociedade.

No período da ditadura, o esporte ajudou os militares a vender uma imagem de que o ’’Brasil poderia crescer e ser uma grande potência’’. Lembrando sempre que eram os mesmos mantinham uma política de arrocho salarial para os trabalhadores. Foi esta política de ataque contra os trabalhadores que foi um dos motivos para a ditadura intervir nos sindicatos, assim como acabar com o direito de greve, proibir o direito de manifestação, acabar com a existência de partidos políticos que não fossem o MDB e a Arena e torturasse seus opositores.

Para acabar com estas amarras do esporte é preciso lutar por uma sociedade que não pense o esporte através das relações espúrias entre dirigentes, políticos e grandes empresários, assim como por um fim nas relações financeiras que muitas vezes definem um jogo ou uma corrida.




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