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AJUSTES FISCAIS DO PT | O jornal britânico Financial Times pressiona o Brasil a acelerar os ajustes

Segundo o jornal britânico Financial Times, expoente defensor dos ajustes que Dilma e o PT aplicam junto à direita no governo federal, a ligação comercial Brasil-China é ameaça número 1 para economia global, o que exige aceleração dos ajustes com Levy.

André Barbieri São Paulo | @AcierAndy

quarta-feira 21 de outubro de 2015 | 00:00

Argumentam a partir do fato de que a desvalorização do yuan chinês desencadeia deflação no mundo inteiro, já que os preços caem com as taxas muito menores de importação da China.

O Brasil, que se beneficiou primordialmente com o ascenso chinês, é o primeiro afetado por sua decadência industrial. Segundo o editorial, que traça inúmeros paralelos entre os dois países, o problema do Brasil como da China não é o excesso de dívida, mas o "boom" do crédito doméstico (que no Brasil ocorreu durante o ciclo internacional favorável dos 2000, com alto preço das commodities e uma China sedenta por matérias-primas).

Graças às massivas entradas de capitais, as taxas de juros reais no Brasil caíram de uma média de 12% entre 2001-7 para 5% no período pós-crise (o crédito privado cresceu de 50% para 85% do PIB).

Hoje, a volatilidade das decisões do Federal Reserve (Banco Central dos EUA) com a possibilidade de aumentar os juros, além dos problemas brasileiros com as agências de crédito, aumentam a saída de capitais e diminuem o crédito disponível. O dólar alto faz com que as empresas vejam suas dívidas crescerem exponencialmente e busquem descarregar ainda mais o peso da conta nos preços dos produtos.

Assim, com a crise econômica e a crise política do PT estaria vetado ao governo uma linha de "ajuste gradual": como bom imperialista que é, o Financial Times defende rápido ajuste fiscal e um debilitamento extremo da moeda para balancear a conta corrente. Isto agravaria ainda mais a inflação dos preços, já que significaria uma desvalorização ainda maior do poder de compra da população, que há algumas semanas via o dólar escalar a mais de R$4.

O problema para o jornal britânico é a constatação de que no Brasil, como na China, as desvalorizações monetárias não melhoraram o balanço da conta corrente. Na China, as exportações caíram 1,8%; nos sete primeiros meses do ano, as exportações brasileiras do agronegócio somam US$ 52,37 bilhões, queda de 10,8% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Ajustes petistas feitos ao sabor das finanças internacionais

Um dos sinais mais evidentes de que as discussões de impeachment não respondem à realidade são as opiniões dos chefes mundiais do capitalismo. No dia 18 de agosto, o editorial deste prestigioso jornal das finanças argumentava que Dilma, apesar dos protestos, deveria permanecer no cargo. Dizia que sua queda levaria a entrada de “um outro político medíocre”, e que o foco da política brasileira deveriam ser os ajustes.

Logo depois, o New York Times saiu com um editorialcom a mesma opinião e sugerindo "maior abertura internacional" do Brasil. Os ouvidos do Planalto tomaram nota da mensagem: houve desde então acordos de Dilma com Merkel, entregando os recursos naturais das terras-raras à Alemanha; o caloroso encontro de Obama com Dilma para reatar relações comerciais, e a atual visita de dois dias de Dilma à Suécia em que, apesar da crise econômica e política que vive no Brasil, garantiu que o seu governo vai honrar os compromissos no contrato de compra de 36 caças suecos.

O acordo com a fabricante sueca Saab foi assinado em outubro de 2014 e custará aos cofres públicos R$4,5 bilhões, enquanto o governo federal, assim como o PSDB em São Paulo, fecha escolas e salas de aula impedindo estudantes de continuarem cursando o ensino público em seus bairros.

Isto não significa que o imperialismo não queira disciplinar cada movimento que dê o governo petista. Segundo Glenn Levine, analista econômico da agência de crédito Moody’s, "até 2013 o Brasil era como uma criança dourada entre os mercados emergentes"; desde então "houve uma confluência entre a tormenta perfeita de más notícias e uma má administração econômica. Durante os 10 primeiros meses do segundo mandato de Dilma Rousseff, a estabilidade que caracterizou grande parte da década anterior desapareceu".

O jornal interveio inclusive na "questão Levy", que hoje aparentemente opõe Lula e Dilma. De fato, para o Financial Times, Dilma percebeu o preço que pagaria "se seu respeitável Ministro da Fazenda, Joaquim Levy fosse removido do cargo": no período de uma hora entre o início dos rumores da saída de Levy e o desmentido do governo, o real se depreciou 3% frente ao dólar para atingir R$3,94.

O que mantém Dilma como uma agente possível é a capacidade que o PT e sua burocracia sindical, a CUT/CTB, demonstram de que podem levar adiante os ajustes. E a cobrança bate na porta. Numa clara mensagem intimidatória, o colunista Joe Leahy adverte que "Dilma atrapalhou o trabalho de Levy", com seus zigzags nas metas fiscais e o escândalo da Petrobrás, retrocedendo a ofensividade positiva do economista da Universidade de Chicago.

A linha editorial do periódico britânico segue sendo que retirar Dilma deixaria a situação ainda mais volátil, já que não há claras alternativas à presidente que poderiam disciplinar o movimento de massas. Entretanto, a advertência foi dada, "não toquem em Levy pois os mercados reagirão"; o sentido dos ajustes é a rapidez, não a dúvida.

E com isto nem Lula nem Dilma tem problemas, apesar das fricções ocasionais. Querem o ajuste no menor tempo possível, mas sem que isto fique impresso na figura do PT, daí a exigência de que Levy "negocie". O imperialismo dá mostras que o que mais lhe interessa no momento, não é a saída de Dilma mas o aprofundamento de seus negócios no país e os ajustes.




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