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OFENSIVA IMPERIALISTA | O “humanitarismo” selvagem dos Estados Unidos na Venezuela e no mundo

A “ajuda humanitária” é utilizada pelos Estados Unidos para justificar a ingerência em outros países, uma máscara que cai quando relembramos de sua aliança com monarcas e regimes que violam os direitos humanos.

segunda-feira 25 de fevereiro de 2019 | Edição do dia

Em nome da “democracia” ou defendendo uma desinteressada “ajuda humanitária” diante de uma situação econômica catastrófica, o governo dos Estados Unidos justifica sua aberta intervenção golpista contra a Venezuela.

A mídia alinhada à direita e a embaixada americana repetem exaustivamente as imagens dessa “ajuda humanitária” desinteressada, contra um governo supostamente ditatorial. Repetem e repetem, procurando criar um senso comum de que a intervenção imperialista no destino de um país não está errada.

Mas o que eles escondem, intencionalmente, é que nem sempre é desaprovado pela Casa Branca ser um ditador e massacrar milhares de pessoas, bloquear um país levando milhões a fome e ao desespero, prendendo opositores ou sumindo com jornalistas incômodos. Na verdade, pode-se fazer tudo isso e ser considerado um aliado “estratégico” para os interesses imperialistas e até ser recompensado com milhões e milhões de dólares em investimentos.

O recurso utilizado pelo imperialismo não é novo, vários países do Oriente Médio ou da América Central sofreram as consequências da “ajuda humanitária” e a defesa da “democracia” como justificativa para intervenção direta ou indireta dos EUA. A lista é extensa ainda mais se somarmos o relacionamento dos Estados Unidos com ditaduras militares na América do Sul e as guerras ao redor do mundo.

Os Estados Unidos lançaram a guerra contra o Iraque com base na absoluta mentira sobre a existência de armas de destruição em massa nas mãos do regime daquele país e, então, incapaz de sustentar a mentira, usou o objetivo de levar “democracia” e garantir a estabilidade como forma de manter a invasão. O balanço foi que, somente no período das guerras entre 1991 e 2003, os bomdardeios no país acompanhados por um embargo econômico ao povo, todos apoiados por republicanos e democratas, tiraram a vida de 2 milhões de pessoas, o mais criminoso na história, porque foram apenas “danos colaterais” na realização de seus objetivos supremos.

Mas, voltando ao presente, o governo de Donald Trump aprofundou as relações com vários países onde abusos e violações de direitos humanos são uma marca registrada, mas essas alianças há muito atravessam os governos democratas ou republicanos.

Certamente o caso que mais se destacou no último período foi o apoio dos Estados Unidos à monarquia saudita, especialmente depois que o príncipe herdeiro foi implicado no assassinato do jornalista Khashoggi, opositor da casa real saudita.

Menos cobertura da mídia tem a guerra e o bloqueio contra o Iêmen. Em 25 de março de 2015, uma coalização internacional liderada pela Arábia Saudita lançou um ataque aéreo ao grupo dos houthis no Iêmen, desencadeando um conflito armado.

Segundo as Nações Unidas, os anos de guerra e especialmente o bloqueio imposto pelos sauditas deixaram 70% da população com a necessidade de ajuda humanitária urgente, 7 milhões enfrentam a fome e milhares já morreram de cólera. Os bombardeios pela coalizão e pelos Estados Unidos mataram centenas de civis, incluindo muitas crianças. Neste caso a vocação “humanitária” do governo dos EUA desaparece após a fumaça das bombas.

A Casa Branca também não parece preocupada em manter uma relação tão próxima com um país que, segundo dados da Anistia Internacional de 2015, impôs a pena de morte a 158 pessoas, a maioria decapitadas, por terem cometido alguma ofensa contra o Islã, incluindo ser homossexual.

Mas se o amigo “saudita” de Washington parece demais há outro que não fica pra trás. O Egito tornou-se um aliado chave dos Estados Unidos e também da Alemanha e outras potências, a tal ponto que o atual secretário de Estado americano, Mike Pompeo, passou a dizer “Os Estados Unidos apoiam fortemente o Egito”. Esta excelente relação foi fundada sob o governo do presidente egípcio Al Sisi, ex-general do exército e responsável pelo golpe contra Mohamed Morsi em 2013. Depois do golpe de Estado, Al Sisi reprimiu, assassinou e enviou para prisão dezenas de milhares de opositores. Em 14 de agosto de 2013, as forças egípcias invadiram Rabaa al-Adawiya, bastião da oposição ao golpe militar e assassinaram mais de 800 pessoas. Nenhum policial foi acusado, mas em vez disso, 739 pessoas foram presas, incluindo vários líderes da Irmandade Mulçumana. O governo declarou a Irmandade Mulçumana (principal organização de oposição no país) como terrorista no final de 2013 e o ex-presidente Morsi e outros líderes desse grupo foram condenados à prisão perpetua ou morte.

Al Sisi em seus anos de governo mandou para a prisão mais de 65.000 opositores. “As autoridades do Egito praticaram tortura, o desaparecimento forçado de centenas de pessoas e dezenas de execuções extrajudiciais”, disse a Anistia Internacional.

As eleições presidenciais, nas quais Al Sisi foi eleito, ocorreram depois que foram impedidos de se apresentar como candidatos para as eleições todos os rivais, exceto um, relacionado ao marechal. Assim, o atual presidente venceu com 97% dos votos, com 41% de participação.

Enquanto aviões da força aérea americana descarregam toneladas de “ajuda” na fronteira da Venezuela, Trump reduziu de 300 milhões a 60 milhões a contribuição dos EUA a Agência das Nações Unidas para os refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA). O resultado é o agravamento de uma situação extremamente desumana para os 1,9 milhões de pessoas que vivem na Faixa de Gaza permanentemente perseguidas pelo colonialismo israelense. O governo dos EUA apoiou os cortes de energia e água em Gaza, as ações criminosas do Estado de Israel contra o povo palestino (entre eles contra milhares de crianças) e através do veto protegeu o governo israelense antes de cada resolução condenatória da ONU.

Um exemplo mais próximo da América é a siuação no Haiti. O país mais pobre da região foi invadido durante anos por tropas da ONU, com os EUA à frente, sob a suposta intenção de “estabilizar a democracia” e trazer “assistência humanitária”. O resultado dessa missão denominada Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH), que contou com tropas da Argentina e do Brasil entre outros países, foram múltiplas as violações dos direitos humanos durante a ocupação, sob o pretexto de consolidar “a paz” e levar ajuda humanitária. Junto com isso, o governo da ilha teve que realizar o plano de austeridade planejado pelo organismo internacional.

A economia do Haiti, onde mais da metade dos 10 milhões de habitantes sobrevive com menos de 2 dólares por dia, cresceu apenas 1,4% em 2018, um dos mais baixos da região. Os protestos vêm acontecendo há semanas contra o plano de austeridade do governo de Jovenel Moise, um empresário da indústria da banana que venceu em uma eleição onde apenas 21% da população votaram.

Nada disso preocupa a comunidade internacional imperialista que, do Grupo Central, composto por um representante especial adjunto do Secretário-Geral da ONU, os embaixadores da Alemanha, Brasil, Canadá, Espanha, Estados Unidos, França, União Européia, e um representante especial da OEA, chamou ao “diálogo”.

A lista pode continuar com o apoio de Trump a outros governos responsáveis pela violação de direitos humanos. Mas é impossível deixar de lado outros exemplos eloqüentes de como as credenciais democráticas e humanitárias dos Estados Unidos nada mais são do que uma cobertura cínica de seus interesses imperialistas: a fronteira com o México e a prisão de Guantánamo em Cuba.

A detenção de milhares de imigrantes, a separação de crianças de seus pais quando eles são detidos pela patrulha de fronteira ou os repetidos ataques xenófobos do presidente Trump contra imigrantes mostram que a “ajuda humanitária” só esta disponível quando servem para encobrir os interesses imperialistas.

Por outro lado, as denuncias de torturas e violações dos direitos humanos dos detidos na prisão de Guantánamo têm sido permanentes nos últimos anos, incluindo desde os governos republicanos até o mandato do democrata Barack Obama. A prisão ilegalmente instalada em território cubano é uma amostra permanente da interferência agressiva dos Estados Unidos contra a ilha, que mantém sob um bloqueio econômico que dura há décadas.

Fica claro o cinismo tanto da oposição de direita venezuelana e dos governos de direita da região, seguindo o imperialismo, que utilizam a “ajuda humanitária” enquanto são defensores ativos de uma série de medidas de bloqueio e embargo de petróleo que trarão mais dificuldades e privações ao povo trabalhador da Venezuela.

A situação aguda que vivem milhões de pessoas devido a situação econômica catastrófica produzida pelas políticas de Maduro são utilizadas para justificar um golpe contra o governo venezuelano. Mas não há nada de bom no horizonte para os trabalhadores nas mãos do imperialismo e de Guaidó, que já anunciou um “Plano País” antipopular e anti-operário se conseguir chegar ao poder.




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