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TURQUIA | ’O golpe falido fortalece as tendências reacionárias do governo turco’

O falido golpe de Estado da noite de 15 a 16 de julho está presente no coração de numerosas discussões que tiveram lugar neste último sábado, no marco da Universidade de Verão Internacionalista e Revolucionaria, encontro organizado pelos diários da FT na Europa. Os camaradas turcos e curdos, que militam no seio da Organização Revolucionária Internacionalista (RIO) da Alemanha, apresentaram uma primeira análise da situação na Turquia. Através do Esquerda Diário entrevistamos Baran Serhad, membro da direção da RIO.

segunda-feira 18 de julho de 2016 | Edição do dia

Como está sendo analisada a tentativa de golpe de Estado da noite passada, sexta-feira ao sábado?

“A tentativa de golpe por um setor do exército turco surpreendeu a todo mundo, acima de tudo, é sintoma de uma crise mais profunda que atravessa o regime islamoconservador de Erdogan. Depois das primeiras horas de grande confusão, a situação foi se aclarando progressivamente. Se trata de um setor minoritário do exército que saíram dos quartéis, no entanto Erdogan terminou por retomar o poder”.

Quais foram as razões para o golpe?

Em seu comunicado, os militares acusaram o governo de AKP e Erdogan de serem responsáveis pelo fracasso político turco no exterior. Porém, não encontraram apoio algum, nem a nível nacional nem internacional. A nível dos setores da burguesia turca, incluindo organizações patronais mais laicas e hostis a Erdogan, condenaram o golpe de Estado. Em relação aos chanceleres ocidentais, não duvidaram durante nenhum segundo em condenar o golpe e chamar pelo “restabelecimento da ordem constitucional”. O Departamento de Estado norteamericano afirmou, apesar dos atritos entre a Casa Branca e Erdogan, seu apoio ao presidente, às instâncias da União Européia e do governo alemão.

Alguns analistas sugeriram, num primeiro momento, que Erdogan poderia estar por trás do golpe de Estado, ou que ele “havia desejado passar”, para logo instrumentaliza-lo pelo AKP e fortalecer suas intenções presidenciais e bonapartistas.

“Está é uma hipótese para se levar em consideração”, responde Barand Serhad, “porém não altera o fundamental: a necessidade de definir uma posição política independente frente a estes fatos”.

“Os combates entre a polícia, que se posiciona ao lado do governo, e dos militares golpistas, foi muito violento, tendo sido a rádio tomada pelos militares durante duas horas, sem falar dos voos rasantes sobre Estambul e Ankara por parte da aviação militar. Podemos considerar diferentes causas para o golpe, avaliar inclusive a possibilidade de um autogolpe de Estado. Porém, o que é seguro, independente de uma possível manipulação, é que, em última instância, o golpe permite a Erdogan reforçar o presidencialismo e suas políticas fortemente reacionárias”.

“De agora em diante, Erdogan tem todo o terreno livre e já começou, anunciando uma ‘limpeza’ ou ‘caça as bruxas’ contra os golpistas, que se transformarão em mais políticas repressivas contra toda a população, a oposição e o povo curdo”, conclui Baran Serhad.
“É preciso considerar o fato de que o conjunto das coordenadas políticas e geopolíticas foi transformado, tanto a nível interior como a nível regional. Por hora, é uma das frações reacionárias em disputa, que triunfou. Resta saber por quanto tempo. Mas, para o mundo do trabalho, da juventude e das classes populares da Turquia, sem falar nos Curdos, o panorama se obscurece um pouco mais”.

“O que reafirmamos é a necessidade de seguir lutando por uma alternativa política independente para os trabalhadores, as mulheres e o povo Curdo”.

Tradução: Julia Rodrigues




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