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DEBATE COM OS GRANDES JORNAIS | O golpe é uma janela para tempestivos ataques e o secular ódio aos trabalhadores

Debate com os editoriais dos três grandes jornais da elite nacional, o que eles apontam nesse dia histórico de sequestro do voto popular. Se para eles é hora de lições da década petista e de preparação a "tempestivos" ataques a nossos direitos, para nós trabalhadores também é hora de lições para organizar nossa resistência,

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

quarta-feira 31 de agosto de 2016 | Edição do dia

Concluída a farsesca encenação de “defesa do país” pelo oligárquico Senado vamos enfim à votação final do impeachment dentro de horas. Senhores de ondas de rádio e TV, de trabalhadores escravizados como Ronaldo Caiado, ex-condenados por desvio de dinheiro público, notórios inimigos dos trabalhadores todos vestiram suas mais galantes cores nos últimos dias de inquérito de Dilma Roussef. A partir de hoje é dia da verdade, dos planos verdadeiros. A grande mídia já acordou em outro tom. O tom de amanhã.

Sempre vanguarda do atraso ou de ao menos proclamá-lo em bom som, O Estado de São Paulo estampa em três iracundos editoriais um ódio de classe enjaulado por anos. No editorial “O fim do torpor” com toda uma verve ingrata cospe em Lula que tantos serviços prestou à elite nacional (como dizia Lula que nunca lucrou tanto). Sua verve beira o racismo e xenofobia dos barões bandeirantes nomeando-o de “o retirante nordestino”. Este editorial soma-se a outros dois que destilam ódios mais “diversificados” que o destinado a Lula. Em “Condições para voltar a crescer” cita dados econômicos e exorta Temer e os governantes “dos quais o País espera decisões corretas e tempestivas.” Tempestivas, rápidas, fulminantes. Endereço: direitos da classe trabalhadora.

Por fim a tríade do grito contido nas gargantas dos Jardins, Morumbi e de Higienópolis é o editorial “Tigre de Papel” onde destila seu secular veneno aos manifestantes que assustaram a avenida paulista (sic) e termina com nova exortação, essa dirigida ao tempestivo e democrático, à la Ulstra, ministro da justiça Alexandre de Moraes, é “preciso detê-los”.

Como de praxe o concorrente matutino paulista, a Folha de São Paulo reserva sua mão esquerda (ou menos destra) para o editorial para deixa-la livre na cobertura geral do periódico. No editorial “Janela ainda aberta” discorrem sobre a situação de baixo crescimento da economia mundial e iminente aumento das taxas de juros pela FED ianque para concluir tal como o Estadão na exortação dos ataques Express: “é crucial avançar logo no ajuste das contas públicas. A janela de juros baixos globais ainda estará aberta por algum tempo, mas talvez não muito” (grifo nosso).
Com a outra mão montaram o jornal no dia de hoje e estampam com destaque em sua página web o “confronto de defensores de Dilma com a PM”. Sem editorializar vão pelo caminho do Estadão, chamar a tigrada. Da Rota e da Abin (ex-SNI).

No matutino carioca O Globo lemos em editorial “Dilma chega vulnerabilizada à votação” um compêndio da lisura do processo do impeachment para concluir que o motivo último do afastamento da presidente, e conseqüente seqüestro do voto popular, é que ela “se recusou a dizer o que faria contra a crise econômica caso o impeachment fosse derrotado. Demonstrou que a hipotética volta a presidência seria um salto no escuro”. Tal como parte dos editoriais dos irmãos Folha e Estado trata-se da agenda econômica do golpe. A agenda de amanhã a preocupação.

Essa agenda, por trás dos discursos patrióticos e responsáveis dos nobres oligarcas senatoriais também se anteviu na longa sessão do impeachment. Ao contrário do franco reacionarismo na Câmara e da advogada Janaína, no senado se fez gala de defesa dos desempregados e dos trabalhadores. Um impeachment pela economia em prol dos trabalhadores. Ocultando que querem aumentar a idade de aposentadoria em dez anos, privatizar estatais, congelar salários de professores e outras medidas de ataque “tempestivo”. Para a elite brasileira hoje é dia de balanço da longa década petista como se vê em um dos editoriais do Estadão, mas antes de mais nada, da agenda do futuro. De PM e retiradas de direitos, logo exorta a Folha, sem “saltos no escuro” relembra o Globo.

A ascensão do PT ao poder em 2002, no marco de crise do neoliberalismo em todo continente tinha aspectos de “frente popular preventiva”, aspectos de um tipo de governo de conciliação de representações dos trabalhadores com a burguesia usada como forma de governo anormal para contenção de um protagonismo da classe trabalhadora. Tinha aspectos “preventivos”, pois não vivemos um 2001 argentino ou os levantes camponeses e indígenas bolivianos e equatorianos. Feitos seus serviços de conter esse iminente ascenso e descontentamento, tendo se normalizado como um governo burguês normal, o PT já não tinha mais utilidade no poder, foi expulso a pontapés com requintes de xenofobia paulistana como lemos no Estadão.

Como dizia o revolucionário russo Leon Trotsky falando de “frentes populares” propriamente ditas, como a Espanhola em meio a Guerra Civil e como a Francesa depois da onda de greves com ocupações de fábrica que atingiu dez mil empreendimentos industriais naquele país “a democracia burguesa só pode servir à burguesia. O governo de "Frente Popular" dirigido por Blum ou Chautemps,Caballero ou Negrin é tão somente "um comitê para administrar os negócios comuns de toda a classe burguesa". Quando este comitê se sai mal em seus negócios, a burguesia expulsa-a do poder a pontapés.” (Trotsky, 90 anos do Manifesto Comunista).

Se para os grandes jornais burgueses e para a elite é tempos de lições e preparação do ataque, para nós trabalhadores também é. Tempo de refletir os evidentes limites da conciliação de interesses dos trabalhadores com os empresários, como sempre quis o PT (“todos lucram”) e de capitular passo a passo ao mal maior com a justificativa de correlação de forças e “mal menor”. Como dizia o marxista sardo Antonio Gramsci:

Um mal menor é sempre menor que um subsequente possivelmente maior. Todo mal resulta menor em comparação com outro que se anuncia maior e assim até o infinito. A fórmula do mal menor, do menos pior, não é mais que a forma que assume o processo de adaptação a um movimento historicamente regressivo cujo desenvolvimento é guiado por uma força audaciosamente eficaz, enquanto que as forças antagônicas (ou melhor, os chefes das mesmas) estão decididas a capitular progressivamente, em pequenas etapas e não de uma só vez (...)” (Cadernos do Cárcere, Caderno 16, §25)

Estas lições são cruciais para liberarmos o que o Estadão já está liberando: ódio de classe. Ódio visível nas redes sociais, na juventude que insiste, apesar do PT não querer resistir ao golpe, em ir às ruas. Só liberando esse ódio, organizando e coordenado as lutas verdadeiramente superaremos os entraves que coloca o PT e seu controle da poderosa CUT e outros movimentos sociais para derrotar a agenda que começa hoje. A agenda de “tempestivos” ataques aos direitos da classe trabalhadora.




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