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TRIBUNA ABERTA | O genocídio da população negra ocorre a passos largos com a anuência do Estado Brasileiro

TRIBUNA ABERTA I O genocídio da população preta, pobre e periférica age assim: de um lado mata nossos jovens a cada 23 minutos e por outro, impede que as mães e familiares chorem suas mortes.

sexta-feira 5 de março de 2021 | Edição do dia

Foto: Cléber Jericó.

No mês de agosto de 2015, 23 pessoas foram executadas e por homens encapuzados na região oeste Grande São Paulo. Aos 8 de agosto houve seis assassinatos em Itapevi, Carapicuíba e Osasco. No dia 13 de agosto mais 17 mortos e 7 feridos em situação análoga em Osasco e Barueri. A maior das chacinas ocorridas no Estado de SP, excetuando a mortandade executada também por agentes do Estado no Carandiru. em 1992 - onde teriam ocorridas 111 mortes, mas até hoje estes números são questionados.

Teriam sido praticados por vingança em razão da morte de um policial militar e um guarda municipal. Segundo as investigações, apurou-se a participação dos Policiais militares Fabricio Eleutério, Thiago Henklain, Victor Cristilder e o Guarda Civil Municipal de Barueri Sergio Manhanhã. Houve muita mobilização popular, das entidades de defesa dos direitos humanos, da sociedade civil como um todo e dos meios de comunicação com postura mais consequente. Os acusados foram condenados a principio a penas superiores a cem anos.

Menção especial ao Movimento das Mães de Osasco, por meio da Associação 13 de agosto criada a partir do triste fato ocorrido. Mas infelizmente a defesa dos policiais obteve a anulação das sentenças de dois dos policiais envolvidos, Cristilder e Manhanhã, a estratégia de defesa foi alegar que os acusados não conheciam os demais responsáveis da chacina. Importante destacar que testemunhas, bem como provas materiais evidenciam justamente o contrário.O fato é que nesta sexta-feira última, 26 de fevereiro de 2021, os réus acima citados, foram absolvidos dos crimes pelos quais haviam sido condenados cada um, na média,a mais de cem anos de prisão.

Uma das passagens mais cruéis que ocorreram no julgamento de Cristilder e Manhanhã, foi a estratégia que a defesa apresentou ao inverter o tribunal, colocando a Dona Zilda Maria de Paula, mãe de uma das vítimas da chacina que perdeu seu único filho, no banco dos réus. A defesa usou 122 páginas de prints das redes sociais da Dona Zilda como maneira de inverter a acusação, criminalizando a sua luta e organização política - dentre os prints estavam fotos dela juntamente com as Mães de Maio. A defesa teve a pachorra de associar essas mães ao tráfico e à criminalidade, como maneira de desqualificar a busca por justiça.

Essa estratégia foi usada porque a ausência de argumentos favoráveis aos acusados era evidente. A pergunta que fica é: se as provas testemunhais e materiais apresentadas no primeiro julgamento levaram à condenação da cada um dos réus a mais de duzentos anos somados, como pôde o Tribunal de Justiça de São Paulo refutar todo o apresentado e anular o julgamento, simplesmente? Sabemos que essa é uma estratégia de um Estado racista, terrorista e genocida que criminaliza a pobreza. Que para manter a economia capitalista, faz dos corpos dos trabalhadores, corpos descartáveis e que se não servem para produzir riquezas para o Capital, devem ser eliminados.

Terrivelmente, temos vivido no último período, o aprofundamento da postura ameaçadora, por vezes nas entrelinhas, por vezes explícitas das “forças de segurança”. E de ações violentas realizadas por membros das forças armadas e forças auxiliares. Situações como no caso dos soldados do exército no Rio que resultaram na morte do músico Evaldo dos Santos Rosa, homem negro que foi alvo inicial dos tiros e de Luciano Macedo que foi em seu socorro, onde foram disparados 257 tiros em abril de 2019. E, infelizmente, muitas outras ações de elevada carga de violência desnecessária, e por vezes letal de policiais militares. E de envolvimento rotineiro das milícias em chacinas várias e outros crimes, no país todo, merecem um tratamento e solução muito além do que nos tem sido prestados, pelo Comando destas forças e pelo Estado.

O genocídio da população preta, pobre e periférica age assim: de um lado mata nossos jovens a cada 23 minutos e por outro, impede que as mães e familiares chorem suas mortes. A criminalização dos meninos negros faz com que ser negro seja o motivo que justifique suas mortes. E não devemos nos enganar, ao passo que o racismo é estruturante da nossa sociedade, ele é parte fundamental do Capitalismo. A economia é racista, o acúmulo de riquezas no mundo ocidental se devem em razão da venda de pessoas negras escravizadas. As pessoas negras estão na base da economia, com os trabalhos mais precarizados e são a força de trabalho descartável e, por isso, "matável". Não ha outra saída: contra o racismo e o capitalismo, apenas a luta das trabalhadoras e trabalhadores organizada e combativa! Basta do genocídio da população negra!




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