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COLUNA | O futuro da juventude é carregar uma bag nas costas?

220 mil mortos no Brasil, 14 milhões de desempregados, evasão das universidades, a incerteza da vacina. Em meio a isso, segundo levantamento feito pela consultoria IDados, 76,6% dos jovens de até 24 anos estão em postos de trabalho informal. A juventude está fadada a essa miséria?

sexta-feira 29 de janeiro de 2021 | Edição do dia

Se no período de ascenso econômico houve uma esperança de que era possível viver bem no capitalismo e ter uma melhora de vida, hoje vemos essa ilusão destruída. A crise econômica internacional de 2008 passou por diferentes momentos e segue forte. Nesse processo vimos uma série de consequências, dentre elas o desenvolvimento de um setor que podemos chamar de “perdedores absolutos” da globalização. Setores empobrecidos, precarizados (quando não desempregados), especialmente da classe trabalhadora, muitos deles jovens, que ficaram por fora do “pacto social” neoliberal.

Em um cenário de pandemia, que chegou aprofundando ainda mais a crise mundial, vimos Bolsonaro com seu negacionismo repugnante aprovar ataques como a MP 936, permitindo suspensão de contratos, corte de salários e deixando boa parte da população sem perspectivas.

Enquanto uns puderam ficar em suas casas de quarentena, outros, imersos no desemprego, tiveram que colocar uma bag nas costas e pedalar durante horas e horas para conseguir colocar comida na mesa. E o fizeram com medo de contágio e sem nenhum tipo de apoio das empresas de aplicativo, que não disponibilizaram sequer equipamentos de proteção.

Por outro lado, vemos as universidades cada vez mais restritas e com portas fechadas para a população negra e pobre. No ensino superior privado a evasão está crescendo muito. Estudo da Semesp (Associação Profissional das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo) aponta que 608 mil alunos desistiram ou trancaram matrícula durante o 1º semestre 2020, o que representa uma taxa de evasão de 10,1%. Segundo projeções do Semesp, a pandemia deve contribuir para elevar o porcentual de evasão no ensino superior para 34,1%.

Sabemos que as universidades públicas possuem um caráter extremamente elitista com o absurdo filtro social e racial do vestibular. Mas os jovens que conseguem furar essa barreira contam totalmente com as políticas de permanência estudantil após o ingresso, que estão sendo cada vez sendo mais atacadas.

Vemos isso na Unicamp, com a situação atual da moradia estudantil, que ficou dias sem luz, e com a reitoria que em 2020 queria mudar os critérios das bolsas e restringi-las ainda mais; na USP, de onde saiu relatos de que mães que moram no CRUSP ficaram sem comidas para dar a seus filhos; ou na UNB, onde os estudantes realizaram um ato essa semana em defesa da assistência estudantil e pelo pagamento do auxílio alimentação de fevereiro. Os casos são inúmeros e a verdade que se escancara é que a juventude de conjunto está enfrentando um cenário de precarização. O trabalho tem cada vez menos direitos, e as perspectivas de entrar e permanecer no ensino superior estão cada vez mais distantes.

Bolsonaro e todo o regime do golpe institucional querem descarregar a crise nas costas do povo pobre. Paulo Guedes agora faz uma chantagem com o auxílio emergencial ao afirmar que para voltar com a medida serão necessários “sacrifícios da sociedade”. Doria, que agora aparece como o “salvador da pátria” para alguns com sua demagogia em relação à vacina, apoiou junto a Rodrigo Maia e o STF a PEC do teto de gastos, a reforma da previdência e cortes nos direitos trabalhistas.

Será que essa é a única saída possível para a crise? Podemos afirmar categoricamente que não. Os entregadores, em maioria negros (pesquisa apontou que 66% dos entregadores presentes nos atos do ano passado se reconhecem como negros/pardos) mostraram em 2020 que essa realidade não passaria sem uma reação e realizaram paralisações gritando em alto e bom som que não são empreendedores, e sim força de trabalho. Se vimos com a pandemia que apenas uma classe é essencial para manter a sociedade funcionando, também podemos ter a certeza de que os trabalhadores podem dar uma saída para que sejam os capitalistas que paguem pela crise que eles mesmos criaram.

Para que isso seja possível é necessária unidade da nossa classe. A luta dos entregadores e da juventude é a luta dos trabalhadores. O conjunto dos sindicatos, em maioria dirigidos pelo PT e PCdoB, deveria ser linha de frente de organizar o conjunto das lutas ao invés de ficar a reboque dos golpistas, contando com a profunda adaptação de setores como o PSOL que hoje debate o absurdo apoio a Baleia Rossi na câmara dos deputados. É hora de tirar o véu da cruel fantasia de que nos aliar com golpistas pode ser a melhor alternativa para o momento.

“Digo adeus à ilusão
mas não ao mundo.
Mas não à vida,
meu reduto e meu reino.
Do salário injusto,
da punição injusta,
da humilhação,
da tortura, do horror,
retiramos algo e com ele
construímos um artefato
um poema
uma bandeira”

Seguindo as palavras de Ferreira Gullar, ergamos nossas bandeiras contra Bolsonaro e o regime do golpe institucional para arrancar desse mundo de exploração o futuro que merecemos.




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