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CINEMA NACIONAL | O filme Aquarius: quando a crítica de Reinaldo Azevedo se torna um elogio

Criticando o filme “Aquarius” ainda em maio, Reinaldo Azevedo afirmou que “ter público nunca foi uma questão para cineastas de esquerda. A eles basta mamar nas tetas das estatais e do estado”. Para sua tristeza, “Aquarius”, nos seus quatro primeiros dias de exibição, já é a segunda maior estreia do cinema nacional em 2016.

quarta-feira 7 de setembro de 2016 | Edição do dia

Com um orçamento de apenas cerca de R$ 3 milhões de reais, o filme já arrecadou mais de R$ 700 mil nos primeiros dias de exibição. Algo bem diferente do que queria acreditar Reinaldo de Azevedo.

Depois do protesto do diretor do filme, Kleber Mendonça Filho, e do elenco contra o golpe em curso no Brasil no festival de cinema de Cannes, o filme causou polêmica. Reinaldo Azevedo apelou para que “as pessoas de bem” boicotassem o filme. O tiro saiu pela culatra e sua frase foi divulgada no cartaz publicitário do filme. Moral da história: a crítica de Reinaldo Azevedo é um elogio.

Além dessa polêmica, o filme tem causado outras. Foi primeiro classificado para dezoito anos, em função de algumas poucas cenas de sexo no filme, depois teve a classificação reduzida para dezesseis anos. “Se Clara [personagem de Sonia Braga] subisse no andar do prédio dela para ver o que está acontecendo e ela visse um homem sendo executado com três tiros na cabeça, o filme provavelmente seria [indicado para] 14 anos”, provoca o cineasta.

Para além das polêmicas, no entanto, está um filme que realmente merece ser visto. Contando a história de Clara, uma senhora de classe média alta que luta contra uma construtora para se manter no apartamento que passou a vida inteira, o filme aborda de forma mais ou menos sutil as contradições que vive a classe média brasileira.
O filme tem vários ingredientes e abre um leque amplo de reflexões. Questiona a moral sexual conservadora das novas gerações, traz à tona a questão do câncer de mama, do sexo depois do 60, da desigualdade social, entre outras.

O filme não questiona somente a moral dos personagens coxinhas e empresários ligados ao ramo da construção civil. Traz à tona também uma reflexão crítica sobre as relações cordiais da classe media progressista com os trabalhadores precarizados.
Sob o risco de revelar algo do desfecho da trama, não poderíamos deixar de elogiar a metáfora conclusiva do filme: de uma classe média que está tendo seu edifício corroído por dentro, atacada pela mesma elite dominante que, em última instância, alimenta seus privilégios. Reinaldo Azevedo, rei dos coxinhas, não poderia deixar de se incomodar com a critica sútil de um diretor que não deixa de se posicionar sobre a realidade brasileira também fora das telas.




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