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SUPERSALÁRIOS UNICAMP | O começo do fim: Pra quem? Resposta ao reitor

No último dia 27, José Tadeu Jorge, professor e atual reitor da Universidade Estadual de Campinas, escreveu ao jornal Folha de S.Paulo um artigo de opinião intitulado “O começo do fim”.

sábado 5 de setembro de 2015 | 00:00

Segundo Tadeu, o teto fixado em R$ 21.613,03 reais para o cargo de professor nas universidades estaduais paulistas, que é 6,5 vezes maior que o salário mínimo necessário segundo o Dieese, pode ser o começo do fim para as universidades que vão ter salários menos atrativos e que podem assim baixar seu nível de qualidade, ou seja, o reitor justifica os supersalários da universidade, inclusive o seu próprio, que é de cerca de 50 mil reis, com a justificativa de que foi com esses salários que a universidade se tornou mais atrativa e pode conformar seu padrão de excelência, estando nos maiores rankings de educação do mundo, e que ainda “responsabilidade, compromisso social e planejamento tornaram-se princípios fundamentais dos projetos dessas universidades”. Porém é preciso questionar a quem serve esse padrão de excelência das três estaduais paulistas e com quem elas têm compromisso de fato.

É destacado no cenário universitário brasileiro a alta qualidade do conhecimento produzido pela USP, UNESP e UNICAMP, mas as universidades dos grandes rankings também são as que mais produzem conhecimento para a iniciativa privada, as que contam com trabalhos altamente precarizados da terceirização, as que impõe um filtro social para impedir que a juventude pobre e negra adentre as portas da universidade pelo conhecimento e aos poucos que entram é deixado inúmeras barreiras para permanecer por conta da falta de assistência estudantil, além da falta de segurança que as mulheres sofrem pelos campi e a omissão da reitoria em casos de racismo, machismo e LGBTfobia. E tudo isso o reitor que vale 50 mil pela sua “excelência”, deixa de colocar em seu texto, contando somente a história daqueles que conformam uma burocracia acadêmica que parece intocável com altos salários e descolada da realidade da maioria dos trabalhadores.

Quem adentra as portas das estaduais paulistas?

Para entrar nas três universidades estaduais paulistas, os estudantes devem passar pela barreira do vestibular, que conforma um filtro social deixando a juventude negra e pobre excluída dela. Além disso, somente na UNESP tem cotas étnico-raciais e na USP que acaba de aderir por meio do ENEM, cotas insuficientes, mas que escancaram o atraso da Unicamp que não tem um sistema de cotas para a graduação, além disso, o ano de 2015 foi o que menos entraram estudantes de escola pública em sete anos, mostrando claramente o caráter de classe da universidade, que serve à elite paulistana. E para aqueles que conseguem penetrar essa barreira social do vestibular, são colocadas inúmeras dificuldades em permanecer, com moradias precarizadas, e poucas bolsas, sendo ainda bolsas trabalho, em que o estudante que já encontra inúmeras barreiras para entrar e permanecer ainda tem que trabalhar para a universidade em troca da bolsa, muitas vezes cumprindo um papel de um funcionário especializado, mas sem direito algum. E os que se levantam contra a precarização e a favor de uma educação pública que sirva a esses setores são fortemente penalizados pelas reitorias, como a expulsão dos 17 estudantes da UNESP em 2014, que foi revertida com muita resistência e luta.

Mas aos negros e pobres que não conseguem adentrar as portas da universidade pelo conhecimento, só é deixado uma única porta, a da terceirização, com trabalhos altamente precários, em condições absurdas e ganhando baixíssimos salários. Temos poucos negros em nossas salas, mas estão presentes limpando e servindo nos restaurantes. E para as mulheres e LGBTs só é deixado insegurança, espaços escuros, truculência da segurança e nenhuma ação das reitorias para acabar com as centenas de casos de estupros e LGBTfobia, só na USP esse ano foram apurados mais de 110 casos de estupros, mas a única ação dessa reitoria é colocar a polícia que mata em Osasco no campus para manter a universidade ainda mais elitista, impedindo que os negros, pobre e trabalhadores ingressem pela porta da frente.

Qual a tarefa do Movimento estudantil?

Diante de todo esse cenário, em que nos é colocada uma falsa dicotomia entre defender a universidade pública de um lado, mas sem questionar como ela é, e defender que ela seja privatizada de outro, aos estudantes cabe abrir outro caminho, resistir ao desmonte da universidade pública, que querem os setores mais conservadores da sociedade para que a iniciativa privada lucre ainda mais com a educação, mas ir além, questionando os altos salários e a desigualdade absurda de condições dos demais trabalhadores, e mostrando que defender a universidade pública não é defendê-la como ela é atualmente, meritocrática, elitista e excludente, a saída é uma universidade que ofereça carreiras bem estruturadas e ótimos salários e condições de trabalho para todos, que produza conhecimento para a classe trabalhadora, com os LGBTs, as mulheres e juventude negra e pobre dentro da universidade conhecendo sua história, produzindo conhecimento para resolver seus problemas, e não servindo e sendo mortos pelas polícias. Precisamos de uma universidade que tenha a terceirização, a opressão e exploração não só como objeto de estudo, mas como pragas a serem extintas de toda a sociedade.




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