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Greve automobilística nos EUA | O United Automobile Workers (UAW) conquistou uma grande vitória: o que isso significa?

Texto escrito por James Dennis Hoff e traduzido para o português a partir da versão em espanhol do Semanario Ideas de Izquierda

sábado 18 de novembro de 2023 | Edição do dia

Em 25 de outubro, após 41 dias de greve, o sindicato United Automobile Workers (UAW) alcançou um primeiro acordo contratual provisório com a Ford. Em apenas quatro dias, a General Motors e a Stellantis seguiram seu exemplo e concordaram com aumentos salariais, bônus e pacotes de benefícios quase idênticos, encerrando uma das greves automobilísticas mais importantes, dinâmicas e notórias das últimas décadas. Essa greve histórica paralisou simultaneamente , pela primeira vez, plantas e instalações das "Três Grandes" da indústria automobilística nos Estados Unidos. [1]

Embora os membros da UAW ainda estejam debatendo e votando nos acordos provisórios, e embora não tenham alcançado tudo o que pretendiam (como demonstra o recente voto CONTRA ao acordo tentado na planta de Flint, Michigan, provavelmente poderiam ter obtido mais se as bases estivessem na liderança), esta é uma vitória para os trabalhadores automotivos. Os ganhos desses contratos propostos são substanciais e representam um significativo restabelecimento das concessões salariais e de benefícios que a liderança sindical anterior havia feito às Três Grandes nos últimos 15 anos. O sindicato não apenas garantiu aumentos salariais de 25% ao longo do contrato, com 11% no primeiro ano e um bônus de assinatura de 5.000 dólares, mas também deu passos significativos em direção à eliminação dos níveis salariais nas três montadoras e conseguiu recuperar os ajustes pelo custo de vida que protegerão esses salários contra a inflação no futuro.

Além dessas questões fundamentais, o sindicato pôde usar a greve para pressionar as três empresas automobilísticas a fazerem grandes investimentos em novas fábricas e garantir a sindicalização das plantas de baterias e veículos elétricos (VE), o que contribuirá para proteger empregos e salários à medida que a indústria se volta para a produção de VE. Isso inclui a reabertura da planta de montagem de Belvidere, em Illinois, e a inclusão da planta de baterias Ultium Cell de Warren, Ohio, no contrato, uma medida que incorporará cerca de 1.000 trabalhadores ao sindicato. No entanto, de todos os sucessos alcançados neste contrato, o mais importante pode ser a inclusão do direito de greve pelo fechamento de plantas, uma vitória significativa contra possíveis demissões e fechamentos patronais que mantém a opção de greve na mesa no futuro.

Mas a greve da UAW não é apenas uma vitória dos trabalhadores automotivos; é uma vitória de toda a classe trabalhadora, que tem observado atentamente e tirado lições. As conquistas alcançadas nesses acordos, possíveis graças aos mais de 50.000 membros da UAW que finalmente entraram em greve e a todos os outros que os apoiaram, são uma demonstração do poder que os trabalhadores podem exercer quando se organizam e permanecem unidos e solidários. Isso, por sua vez, tem inspirado trabalhadores em todo o mundo, muitos dos quais compareceram aos piquetes e manifestações de solidariedade, como no México, para apoiar a UAW, adicionando calor considerável ao novo movimento operário, ainda latente, que está se formando nos Estados Unidos.

Aprender as lições dessa greve e ajudar a construir o poder e o ativismo de nossos sindicatos, e do novo movimento operário em geral, é uma tarefa importante que tanto os trabalhadores sindicalizados quanto os não sindicalizados devem assumir, especialmente neste momento de crescente crise política, econômica e ecológica marcada pela ofensiva imperialista e sionista sobre a Palestina.

Enquanto a polícia continua matando impunemente, enquanto pessoas trans e mulheres continuam sendo privadas de seus direitos democráticos, enquanto os Estados Unidos desperdiçam centenas de bilhões de dólares dos contribuintes e inúmeras vidas para impor seu poder no exterior, e enquanto as bombas financiadas pelos Estados Unidos continuam caindo sobre Gaza, é imperativo que construamos sindicatos capazes de adotar uma postura contra a opressão e o imperialismo, bem como contra a exploração.

Uma greve histórica para toda a classe

A greve da UAW é, sem dúvida, uma das ações sindicais mais importantes dos Estados Unidos em décadas. No entanto, a greve não foi construída no vazio e não teria sido possível sem a mudança massiva na consciência da classe trabalhadora e na luta laboral que ocorreu nos últimos anos. Desde a onda de greves de professores que começou em 2018, o levante de 2020 contra a violência policial, a explosão de novas organizações nos locais de trabalho lutando por sindicatos que se seguiu à pandemia, e as greves massivas de 2023 (que incluíram quase 200.000 atores e escritores), a classe trabalhadora americana vem reconstruindo lentamente a militância que perdeu diante da ofensiva neoliberal reacionária das últimas quatro décadas.

Foi essa nova combatividade e esse espírito de crescente consciência de classe que pavimentou o caminho para a greve da UAW, que, por sua vez, contribuiu para catalisar o poder já em desenvolvimento do novo movimento operário. Isso ficou claro no início da greve, quando mais de 12.000 trabalhadores da UAW, que inicialmente abandonaram seus postos de trabalho na Ford, Stellantis e GM, se uniram a milhares de simpatizantes e foram inundados de solidariedade de sindicatos, sindicalistas, ambientalistas e trabalhadores de todo o mundo, cujas ações deixaram claro que a luta deles era a nossa luta. De fato, não muito depois do início da greve, pesquisas mostraram que impressionantes 78% das pessoas nos EUA apoiavam a UAW contra as Três Grandes, um número muito maior do que o apoio a Trump ou Biden.

A UAW e seus aliados então se comprometeram com uma batalha de várias semanas que eventualmente incluiu um em cada três trabalhadores do setor automotivo do sindicato. Mesmo enquanto outros membros continuavam a trabalhar e receber seus salários habituais, esses trabalhadores responderam ao chamado e corajosamente sacrificaram seus próprios meios de vida para ir às linhas de piquete em defesa de seus colegas de sindicato. Eles compareceram sob frio e chuva, marcharam diante das portas, bloquearam caminhões e veículos de entrega, e usaram piquetes rigorosos para enfrentar os gerentes anti-greve e os pelegos que tentavam substituí-los.

Desafiando as leis antissindicais que proíbem os grevistas de bloquear as entradas dos locais de trabalho, os piquetes se tornaram uma escola de guerra onde os trabalhadores enfrentaram não apenas o poder dos empregadores, mas também o do Estado. E foi precisamente esse espírito de militância e dedicação à luta diária que permitiu à UAW forçar primeiro Biden e depois Trump, e depois toda a indústria, a reconhecer que desta vez era diferente. Os esforços de organização dos trabalhadores da fábrica da GM em Flint, Michigan, que recentemente votaram contra o contrato proposto porque não previa pensões para os contratados após 2007, também são uma demonstração da militância da base da UAW e de sua vontade de continuar lutando.

Embora a militância e o poder da base e a retórica combativa do novo líder da UAW, Shawn Fain, tenham dado a impressão de que se tratava de uma greve ofensiva, na realidade esses acordos visavam recuperar o que havia sido perdido em contratos anteriores. Antes desta greve, a UAW estava há quase duas décadas em uma situação difícil. Após a crise econômica de 2008, quando as montadoras conseguiram se manter vivas graças aos resgates do governo, os líderes da UAW concordaram com uma série de concessões significativas na equivocada ideia de que o que era bom para a empresa era bom para os trabalhadores. Essa abordagem, amplamente difundida entre o sindicalismo "amarelo" (aliado dos patrões), que foi hegemônico durante a era neoliberal, havia sido o princípio organizacional dominante da UAW até a ascensão de Fain ao poder no início de 2023, e havia levado a décadas de declínio na militância e no poder do sindicato como uma ferramenta de luta.

Como era de se esperar, as Três Grandes se beneficiaram imensamente da ofensiva neoliberal e dos bilhões recebidos do governo federal para acumular lucros recordes, nenhum dos quais foi devolvido aos trabalhadores. Quando o sindicato finalmente foi à greve em 2019, seguiu o antigo modelo de tentar arrancar migalhas fazendo greve em uma única empresa. Isso foi em grande parte um fracasso que resultou não apenas em aumentos salariais abaixo do esperado, que pouco fizeram para reparar os danos dos 11 anos anteriores, mas também foi seguido por fechamentos de fábricas e demissões em massa que deixaram uma cicatriz duradoura na memória dos membros do sindicato.

Para recuperar essas concessões e enfrentar as demissões, a nova liderança da UAW sabia que precisava fazer mais do que mobilizar para mais uma greve. Eles tinham que apresentar reivindicações ambiciosas que inspirassem e energizassem os afiliados, tinham que atacar as três montadoras ao mesmo tempo e, o mais importante, tinham que fomentar a solidariedade de toda a classe; e foi isso que fizeram. Ao apresentar agressivamente um conjunto de reivindicações ousadas e sem precedentes, acompanhadas de uma retórica de luta de classes e solidariedade, a UAW conseguiu criar uma greve que captou a atenção dos trabalhadores em todo o país, que rapidamente viram a luta como sua. Através de uma denúncia sistemática e coordenada dos super-ricos, incluindo CEOs e executivos das Três Grandes, Fain e a UAW conseguiram chamar a atenção para como os ataques ao padrão de vida e ao bem-estar dos trabalhadores automotivos faziam parte de um ataque mais amplo aos trabalhadores em todo o mundo, e reafirmaram o que todo defensor dos sindicatos sabe: que as conquistas dos membros dos sindicatos contribuem para elevar o padrão de vida de todos os trabalhadores. Na verdade, apenas alguns dias após a proposta da Ford, a Toyota aumentou espontaneamente os salários de seu pessoal de produção em 9% e a Honda em 11% para evitar possíveis tentativas de organização pela UAW e competir com as Três Grandes em um mercado de trabalho ainda estreito.

Em discurso após discurso, Fain aproveitou a atenção da mídia em torno da greve para falar não apenas aos seus membros, mas a toda a classe, sobre desigualdade, exploração, dignidade do trabalho e o poder da solidariedade e da arma da greve. Através de eventos programados regularmente no Facebook com audiências ao vivo de mais de 60.000 pessoas, ele falou sobre como as empresas privatizam os benefícios e socializam as perdas; a importância da solidariedade entre trabalhadores de diferentes sindicatos e entre trabalhadores sindicalizados e não sindicalizados, tanto nacional quanto internacionalmente; e enfatizou repetidamente que são os trabalhadores que fazem a economia funcionar. Em um comício realizado em Belvidere, Illinois, em 9 de novembro, Fain reiterou este ponto ao dizer à audiência de membros da UAW que retornariam aos seus postos de trabalho naquela localidade: "os trabalhadores dirigem esta economia, e nós, trabalhadores, temos o poder de fechar esta economia se não estiver funcionando para a classe trabalhadora". Essas demonstrações de raiva e solidariedade de classe confrontam diretamente a política do sindicalismo empresarial e o chauvinismo trabalhista americano, que considera os trabalhadores estrangeiros, e às vezes até os trabalhadores de outras empresas, como concorrência. De fato, Fain afirmou diretamente que os trabalhadores sindicalizados de outras empresas automotivas não deveriam ser vistos como concorrentes, mas como futuros membros da UAW, minando assim os esforços do patronato em dividir os trabalhadores. Ele também trouxe à tona com frequência as lutas dos trabalhadores mexicanos superexplorados na indústria automotiva, deixando claro que a única maneira de impedir que os empregadores usassem a ameaça de fechamento de fábricas e a deslocalização era unir toda a classe trabalhadora internacional em vez de competir entre si.

Mas não era apenas uma estratégia para obter um bom contrato ou recuperar algumas concessões das Três Grandes. Em muitos aspectos, essa greve foi a primeira batalha do que poderia ser o início de uma UAW revitalizada e combativa. Fain e a nova liderança do sindicato parecem genuinamente determinados a aproveitar o impulso dessa greve para ajudar a UAW a continuar crescendo, bem como para impulsionar o florescente novo movimento operário. O sindicato deixou claro que planeja organizar agressivamente outras empresas automotivas como Toyota, Hyundai e Tesla, e os trabalhadores da fábrica da Tesla em Fremont, Califórnia, já formaram um comitê de organização com a UAW. Em um movimento que teria parecido impossível apenas quatro anos atrás, eles também estabeleceram a data de vencimento dos três contratos para 30 de abril, de modo que qualquer greve futura ocorreria no Dia do Trabalhador, e depois instaram todos os outros sindicatos do país a fazerem o mesmo para poderem realizar uma greve conjunta, desafiando e minando significativamente as draconianas práticas antissindicais implementadas pelas empresas. Essa medida, se implementada, desafiaria e minaria em grande parte a proibição de greves solidárias da Lei Taft Hartley, aumentando significativamente o poder político dos sindicatos.

A orientação combativa da atual liderança do sindicato não é resultado de uma mudança "de cima para baixo". Fain chegou à liderança do sindicato como resultado da falência da liderança sindical oficial que permitiu o avanço neoliberal sobre os trabalhadores do setor de autopeças e do cansaço da base do sindicato automotivo com a burocracia fossilizada da AFL-CIO e com novas ideias na base trabalhadora, injetadas de energia pelas novas gerações de trabalhadores que estão revigorando o movimento operário como um todo.

A construção de um verdadeiro movimento operário combativo, independente e de luta de classes requer autoorganização

Esta greve e as conquistas significativas alcançadas representam claramente uma mudança em relação à fracassada estratégia sindical empresarial dos antigos líderes da UAW. No entanto, reverter um sindicato tão massivo quanto a UAW, com seus quase 400.000 afiliados, não é tarefa fácil e não pode ser feito de cima para baixo. Apesar das grandes ambições de Fain, de sua retórica de luta de classes e de sua admiração pelo combativo ex-presidente da UAW, Walter Reuther, o sindicato ainda está controlado e limitado por uma direção burocrática que continua a impedir a autoorganização de seus membros e permanece vinculada ao Partido Democrata imperialista.

Muitas das críticas de Fain à "classe bilionária", por exemplo, ecoam a retórica da campanha das primárias de 2020 do senador Bernie Sanders, e seus laços cada vez mais estreitos com o presidente Biden e outros políticos do Partido Democrata mostram as contradições inerentes ao modelo burocrático verticalista do sindicalismo. Essa relação com o Partido Democrata, que recentemente culminou no apoio não oficial de Fain a Biden, representa um perigo existencial para a UAW e o movimento sindical. O Partido Democrata, afinal, é a ferramenta que o Estado utiliza para amarrar mais firmemente as direções sindicais, a fim de evitar que exerçam todo o seu poder. Precisamente nesta greve, vimos como Biden tentou usar seu "apoio" à greve para impulsionar um acordo rápido e revitalizar sua imagem progressista, preocupada com as questões da classe trabalhadora, visando sua corrida pela reeleição.

Essas contradições foram evidentes durante toda a campanha da greve. Como tática, a greve de braços caídos foi um método inovador de perturbação que manteve a patronal em suspense em cada momento e muitas vezes a confrontou entre si.

Anunciar novas paralisações a cada semana também permitiu ao sindicato manter a atenção da mídia e manter a greve nas manchetes. No entanto, essa estratégia também limitou o número de membros da UAW que puderam participar da greve. Muitos dos centros de produção mais importantes, incluindo a maioria das plantas de motores, eixos e transmissões, continuaram funcionando, permitindo que empresas como a GM continuassem a maior parte de sua produção sem interrupções. Isso não apenas significou que nunca toda a força da greve foi utilizada (uma razão, talvez, pela qual o sindicato não obteve mais de suas reivindicações, incluindo o restabelecimento total das pensões na GM), mas também, dado que a greve foi em grande parte contida e controlada de cima para baixo, significou que muitos trabalhadores ficaram à margem da luta e do processo de tomada de decisões. Na verdade, os trabalhadores da indústria automobilística não apenas não decidiram quando iniciar a greve, mas até mesmo a decisão de voltar ao trabalho enquanto os Acordos Tentativos eram discutidos foi tomada unilateralmente antecipadamente, sem nenhum debate ou contribuição das bases.

Conseguir bons contratos é importante e os sindicatos precisam de lideranças combativas, mas a autoorganização do movimento operário e das bases é fundamental para construir o poder necessário para desafiar verdadeiramente a patronal e a tirania do capital, ou seja, a forma como as decisões sobre a produção são tomadas por uma pequena minoria com fins lucrativos, não de necessidade. Se quisermos fazer isso, precisamos insistir que greves como essas sejam lideradas de baixo para cima por comitês de greve em cada local de trabalho, onde as decisões sobre onde, quando e como fazer greve sejam debatidas e discutidas abertamente, e que as negociações sejam públicas e abertas a todos os membros durante todo o processo de negociação. Como Luigi Morris – trabalhador de armazém na UPS e sindicalizado – e eu explicamos em nosso artigo "Ahora más que nunca, la clase obrera necesita sindicatos independientes y democráticos":

Para construir sindicatos verdadeiramente democráticos, precisamos capacitar ao máximo os membros de base, pois é lá que reside o poder de qualquer sindicato. Isso significa criar assembleias abertas e democráticas para discussão, debate e tomada de decisões regulares entre todos os membros do local de trabalho. Significa uma negociação aberta e transparente e a eleição direta de delegados sindicais e membros do comitê de negociação, sujeitos a revogação imediata pela maioria do sindicato. E significa a eleição direta de líderes sindicais locais e nacionais dentro do local de trabalho, comprometidos com os interesses da classe trabalhadora, sujeitos a revogação imediata e que não ganhem mais do que o salário anual do trabalhador médio.

Isso também – e isso é importante – deve incluir o direito dos trabalhadores, coletivamente, não apenas da direção e das equipes de negociação, de decidir quando encerrar a greve e quando voltar ao trabalho. Fain afirmou que o retorno ao trabalho na Ford foi uma decisão tática, destinada a pressionar as outras empresas automobilísticas que ainda não haviam chegado a um acordo, e embora isso possa ser verdade, continua enfraquecendo a posição do sindicato para continuar lutando por mais, e deveria ter sido decidido pelo conjunto dos trabalhadores.

O UAW deve posicionar-se contra o genocídio em Gaza, a opressão e o imperialismo

Possivelmente a maior contradição e limitação da nova direção do UAW e do movimento trabalhista nos Estados Unidos em geral seja o seu silêncio generalizado sobre a opressão estatal e seu apoio, e por vezes cumplicidade, com o imperialismo estadunidense, conforme evidenciado na crise aberta pela Palestina com a principal central sindical, a AFL CIO, alinhada com Biden. Com algumas exceções, como a defesa dos direitos trans pelos trabalhadores da Starbucks e o apoio ativo à libertação palestina pela ILWU, a maioria das lideranças sindicais tem se concentrado quase exclusivamente nas chamadas demandas de "pão e manteiga" por salários, benefícios e condições de trabalho, evitando confrontar o Estado em questões políticas.

Quando os sindicatos intervêm na política, geralmente é para obter legislação diretamente relacionada aos direitos dos trabalhadores ou na forma de meras resoluções. Essa timidez é, em parte, resultado da cooptação histórica dos sindicatos pelo Estado e pelo Partido Democrata, que ofereceram legalidade e proteções limitadas em troca de paz trabalhista e conformidade ideológica. O resultado é que o movimento trabalhista sindicalmente organizado diminuiu significativamente e o que resta tem se burocratizado e enfraquecido politicamente. As lideranças tradicionais se afastaram por mais de meio século de uma estratégia de luta de classes para outra de conciliação e reconciliação de classes com nada menos que um regime imperialista.

Esse projeto de reconciliar os trabalhadores com os interesses do Estado tem produzido e continua sendo reforçado por uma perspectiva ideológica que considera os interesses dos sindicatos, e dos trabalhadores estadunidenses em particular, como ligados às fortunas do Estado e separados de questões mais amplas de opressão e exploração dentro e fora do país. Quando líderes, por outro lado progressistas como Fain (que critica a "classe multimilionária"), sobem orgulhosos em palcos adornados com as barras e estrelas, falam com orgulho de como o UAW ajudou a construir armas para o "arsenal da democracia" ou gravam vídeos felizes com o presidente dos Estados Unidos, estão cobrindo a repressão estatal das lutas mais amplas da classe trabalhadora e abrindo uma brecha entre os trabalhadores de seu país e aqueles que são vítimas da violência imperialista estadunidense. Isso se aplica igualmente às bases de sindicatos como o UAW, muitos dos quais compartilham essa visão.

A nova burocracia de esquerda à maneira de Fain está seguindo essa deriva com o contínuo silêncio do UAW nacional sobre a crescente ocupação israelense dos territórios palestinos e seu massacre genocida de mais de 11.000 civis em Gaza, perpetrado com armas fornecidas pelos Estados Unidos e seus aliados. O argumento de que tomar partido em tais eventos ou usar o poder dos trabalhadores para confrontar os autores de tais atrocidades está, de alguma forma, fora do escopo dos sindicatos apenas divide ainda mais a classe trabalhadora onde ela é mais poderosa: nos locais de trabalho, onde já está bem organizada e tem o potencial de causar distúrbios massivos em prol da justiça.

Neste período de crises e guerras que ameaçam o bem-estar e os meios de subsistência dos trabalhadores em todo o mundo, é mais importante do que nunca que os sindicatos se libertem das correntes ideológicas e estruturais do Partido Democrata e do Estado, aprendendo novamente a usar o poder de sua força organizada e seus métodos de luta para travar lutas políticas e anti-imperialistas em favor de toda a classe. As importantes vitórias alcançadas pela greve do UAW e pelo movimento operário cada vez mais fortalecido ao qual contribuiu demonstram que as condições estão maduras para construir uma alternativa independente classista do Partido Democrata, especialmente considerando a possibilidade de que o movimento operário se funda com o movimento pela Palestina, algo que Biden e todo o establishment bipartidário, junto com as patronais, querem evitar a todo custo, inclusive, diga-se de passagem, também apoiam o Estado sionista de Israel.


[1General Motors, Ford e Fiat Chrysler, N. do A.





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