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VIOLÊNCIA POLICIAL | O Rio quer saber onde Amarildo está: 3 anos desaparecido e a violência racista da polícia só aumenta

Se antes o caso já ganhava ressonância na sociedade através do questionamento “Cadê o Amarildo?”, foi durante as mobilizações de Junho de 2013 que o desaparecimento de Amarildo ganhou muito mais visibilidade e ao mesmo tempo confluía como mais um elemento de indignação levantado naquele período, principalmente em relação à violência policial e ao projeto repressivo das UPP.

Artur LinsEstudante de História/UFRJ

quinta-feira 14 de julho de 2016 | Edição do dia

Mesmo com toda a repercussão do caso Amarildo, a violência racista da polícia não deixa de continuar. Desde seu desaparecimento, vimos Cláudia Silvia Ferreira ser arrastada e morta pela viatura da polícia, o dançarino DG sendo “confundido” com traficante e ser morto pela UPP do Pavão-Pavãozinho, Caio Daniel Faria ser morto pela polícia civil enquanto jogava bola em Manguinhos, os 4 meninos brutalmente assassinados pela polícia em Costa Barros com mais de 111 tiros e mais recentemente o caso de Jhonata Alves, morto pela polícia no morro do Borel por carregar um saco de pipoca e dessa maneira sendo “confundido” com um traficante, dentre tantos outros milhares de negros e negras que são mortos cotidianamente pela violência policial anonimamente, enquanto a maioria desses assassinos de farda continuam soltos e exercendo suas funções.

A violência racista da polícia não é novidade para o povo negro, desde muito antes das UPP as favelas conheciam o caráter da presença do Estado nas suas vidas: a repressão e o genocídio. Nesse sentido a UPP em seu início foi vendida pelo governo e a grande mídia como algo favorável para o povo negro, pois acabaria a ditadura do tráfico e finalmente a favela seria integrada ao Estado.

No entanto, as favelas sempre foram parte do Estado, mas sentindo na pele sua força repressiva, através dos camburões e fuzis como elementos de controle social. A polícia foi fundada desde os tempos do império tendo como uma de suas principais funções caçarem negros. No pós-abolição todo o povo negro foi vítima de uma política higienista do Estado de embranquecimento e apartheid social, através da proibição de práticas da cultura negra e sob vigilância perpétua da polícia para verificar se o negro estava trabalhando, caso contrário era mandado para a prisão por estar “vadiando”.

Nesse sentido, as UPP significam uma continuação e ampliação da tradição política brasileira de controle social e criminalização do povo negro. E depois do desaparecimento de Amarildo ficou mais escancarada a falência e ineficiência da UPP para pacificar ou mesmo proteger as favelas. Nada de bom poderia vir das mãos da instituição mais racista do Estado brasileiro, ou seja, da polícia.

O povo negro precisa responder ao racismo institucional e aos ataques que vêm sofrendo através da militarização das favelas e aos ajustes fiscais de áreas sociais, como da saúde e educação, pois em tempos de crise os primeiros a serem afetados são os mais pobres, e os mais pobres nesse país são os milhares de negrxs que sofrem com o aumento do desemprego, do trabalho informal, com os cortes na saúde que fecham hospitais e com a inflação fazendo aumentar os gastos com alimentação, como o aumento absurdo do feijão.

E mesmo nesse contexto de calamidade social, o governador do Rio Francisco Dornelles (PMDB) ao priorizar as Olímpiadas e não a população, buscou um empréstimo de 3 bilhões de reais para ser usado no aparato policial da cidade para a “segurança” no megaevento. Vemos ainda a política de militarização como prioridade do governo, em vez de usar esse dinheiro para pagar os salários do funcionalismo público, dos professores e para ampliar a rede de hospitais e escolas públicos, por exemplo.

O assassinato de Amarildo não será esquecido, assim como tantas outras chacinas históricas como a da Candelária e de Vigário Geral, para sempre lembrarmos o caráter racista de todas as polícias. Não é só a Polícia Militar que mata. A luta do povo negro precisa se colocar contra todas as polícias, que são treinadas em suas academias militares que o alvo a ser perseguido é o negro, suspeito desde o início justamente pela cor de sua pele. E foi por essa lógica que Amarildo foi sequestrado, torturado e assassinado.

Pelo fim de todas as polícias! Pelo fim da UPP! Amarildo não será esquecido! E isso precisa se ligar a que todos os crimes cometidos por policiais sejam julgados por júris populares, de modo a combater a absoluta impunidade aos policiais em nosso país.




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