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ELEIÇÕES ARGENTINAS | O Estado de S. Paulo entrevista Nicolás Del Caño, principal personalidade da esquerda argentina

O jornal O Estado de S. Paulo entrevistou o candidato a presidente pela Frente de Esquerda e dos Trabalhadores na Argentina e dirigente do PTS, Nicolás Del Caño, sobre os resultados eleitorais e a política da FIT neste segundo turno. A própria grande imprensa e a burguesia brasileira tem de reconhecer a importância da figura de Del Caño, o que a esquerda ainda não fez. Como referência da esquerda argentina, Del Cãno superou os 800 mil votos numa eleição bastante polarizada entre os candidatos da burguesia Daniel Scioli e Mauricio Macri, o que configura a melhor votação da esquerda desde a redemocratização em 1983, com mais de 1 milhão de votos para deputados, convertendo a FIT na quarta força política nacional. Isto mostra uma clara mensagem aos candidatos patronais de que camadas significativas dos trabalhadores, das mulheres e da juventude estão dispostos a batalhar nas ruas contra o ajuste que aplicará o candidato que vença. Neste segundo turno, o PTS na FIT chama claramente a votar nulo para não cair na armadilha do "mal menor" propagandeado pelos kirchneristas, que abriram caminho para a direita, da mesma forma que Dilma e o PT fortaleceram a direita com a aplicação dos ajustes neoliberais. Somente uma postura independente pode orientar a construção de uma alternativa classista e anticapitalista para a crise econômica e política dos governos "progressistas" burgueses na América Latina.

quinta-feira 5 de novembro de 2015 | 15:05

’Direita argentina teve o caminho aberto após o ajuste brasileiro’

Com pouco mais de 800 mil eleitores, líder de parte da esquerda argentina prega voto em branco no segundo turno

Buenos Aires

*QUEM É: Nicolás del Caño, de 35 anos, surpreendeu ao ganhar a interna da Frente de Esquerda contra Jorge Altamira, de 73 anos, dirigente histórico. Deputado, também contrariou previsões ao tornar-se a quarta força no primeiro turno.

Os 812 mil votos conseguidos dia 25 pelo candidato Nicolás del Caño (3,23%), representante do bloco mais à esquerda na eleição argentina, ganharam peso extra ao superar a diferença entre o governista Daniel Scioli e o conservador Mauricio Macri, de 737.386 votos (2,93%). Del Caño , que prega o voto em branco no segundo turno do dia 22, relaciona a forte votação da direita argentina a ajustes da esquerda na região.

Por que pedir voto em branco?

NdC: Antes mesmo do primeiro (turno) já tínhamos deixado claro que Daniel Scioli, Mauricio Macri e Sergio Massa, que não entrou no segundo turno, planejavam um ajuste, políticas duras contra a juventude e setores populares. A única maneira de expressar uma saída independente é o voto em branco.

Não pensou em uma estratégia como a de Massa, que colocou no papel propostas suas que os candidatos precisariam seguir para conseguir seus eleitores?

NdC: Tanto Scioli quanto Macri pretendem gerenciar os negócios dos grandes capitalistas. Não pretendem avançar nas demandas dos trabalhadores. No Brasil, isso ficou claro, Dilma (Rousseff) fez no segundo turno uma campanha contra a direita e (contra) um ajuste e hoje está aplicando um ajuste brutal. Já conhecemos isso na Argentina.

Nenhuma das suas propostas poderia ser adotada pelos dois?

NdC: A principal, salário mínimo equivalente ao custo da cesta básica mensal, quem proporá isso? Ninguém. Não querem terminar com trabalhos no mercado negro pra garantir a rentabilidade das empresas.

Pesquisa diz que 54% de seus eleitores votarão em branco, 15% escolherão Scioli e 5%, Macri. Como vê essa distribuição?

NdC: O kirchnerismo alega que Scioli é um "mal menor". Respeitamos quem pensa assim, mas esse voto também dará poder a um ajuste e à repressão. Na campanha de Scioli já admitem que adotarão algumas propostas de segurança de Massa.

A imagem de Macri em geral está mais ligada à dos empresários. Sua campanha os coloca no mesmo nível?

NdC: Quem mandou um emissário falar com os fundos abutres foi Scioli (que enviou um governador aliado aos Estados Unidos). Por isso, houve uma divisão governista. Com certeza, a grande maioria não vota em Macri categoricamente. Companheiros podem ter dúvidas em apoiar Scioli como suposto mal menor. Muitos nem vão votar, o que não aparece nas pesquisas.

Qual seria o impacto para o Mercosul e a América Latina da eleição de um ou de outro?

NdC: Na América Latina, os governos pós-neoliberais, como o do PT, aplicando as políticas de ajuste que vem aplicando, abriram caminho à direita argentina. Além disso, o Kirchnerismo escolheu um candidato tão parecido com Macri que abriu caminho a um setor que disse "em vez da cópia, fico com o original". Um triunfo de Macri poderia tornar mais valentes setores da direita, mas é preciso esperar. É necessário atenção. Os grandes capitalistas sabem que os governos de hoje no Brasil e na Argentina são convenientes a seus interesses.

A maneira como começou o segundo governo de Dilma influenciou a eleição argentina?

NdC: Aqui, por muito tempo, o governo usou o exemplo do PT. Hoje, o kirchnerismo não pode usar esse caso, porque em seu discurso promete o contrário, diz que quem vai desvaloriza a moeda e concretizar um plano de ajuste será Macri. É com certeza um ponto a menos de apoio para o kirchnerismo.

Não ter ido ao debate no primeiro turno tirou votos de Scioli?

NdC: Não é possível saber se foi o debate, mas o fato é que a campanha governista não conseguiu crescer e isso levou ao resultado surpreendente do primeiro turno, tão apertado.

Quem ganhará?

NdC: Está muito aberto, não tenho palpite. Acho é que será decidido por pouco. Não acredito que se confirmem essas pesquisas que apontam Macri com uma vantagem clara (as primeiras lhe dão pelo menos 5 pontos de vantagem). Estão distorcidas. Antes, não estava tão claro se haveria segundo turno, agora não saberemos até o fim quem vai ganhar.

Para ver mais da cobertura do Esquerda Diário sobre as eleições da FIT na Argentina

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