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UNE | O CONEB e a urgência de unificar os estudantes pela base contra Bolsonaro e seus ataques

Nos dias 28, 29 e 30 de Janeiro ocorrerá o Conselho de Entidades de Base da União Nacional dos Estudantes, conforme deliberação da diretoria da UNE em reunião no mês de Outubro. Um encontro que poderia ter um enorme potencial para organizar centenas de entidades de todo o país e debater um plano de lutas sério contra o Escola sem Partido, a Reforma da Previdência e todos os ataques de Bolsonaro às universidades, se não fosse pela lógica burocrática e rotineira com que sua construção é encarada pela direção nacional da UNE, a serviço de uma estratégia que constrói a passividade no movimento estudantil, enquanto aposta em uma oposição institucional com objetivos eleitorais para 2022.

Faísca Revolucionária@faiscarevolucionaria

quarta-feira 5 de dezembro de 2018 | Edição do dia

Um dos debates que mais se fortaleceu após a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro (PSL) foi sobre a necessidade da unidade contra seus ataques, frente ao qual está colocado como unificar forças à altura. Os franceses apontam o caminho. O movimento massivo e radicalizado, simbolizado nos coletes amarelos, já impôs um recuo a Macron: a unidade que precisamos está na força das ruas e de cada local de trabalho e estudo para enfrentarmos Bolsonaro, que se apóia no autoritarismo judiciário e nas Forças Armadas para destruir as condições de vida da classe trabalhadora (em sua maioria mulheres e negros) e nós, juventude, já mostramos disposição de luta.

O golpe institucional, juntamente com as eleições manipuladas pelo Judiciário, das quais saímos com mais de 150 agressões e ao menos quatro vítimas fatais, como Mestre Moa do Katendê e Laysa, colocam novas necessidades para o movimento estudantil. Precisamos ser uma força organizada desde as bases de forma democrática e independente das reitorias e do Estado.

Não podemos confiar que o STF, o Congresso e suas instituições, que deram o golpe institucional, são a via na qual apostamos para resistir aos ataques que o imperialismo quer implementar pelas mãos de Bolsonaro. Prenderam Lula, retiraram o direito de a população decidir em quem votar, deixaram o caixa 2 de Bolsonaro intocado, e censuraram até mesmo a própria UNE, removendo conteúdos de suas páginas. Bolsonaro declarou guerra contra nós, quer acabar com o movimento estudantil, “aparando os centros acadêmicos” e com o MBL tornar as entidades estudantis “obsoletas”. Tem medo do papel que nossas entidades podem cumprir, se aliadas aos trabalhadores, para massificar a luta pela base, porque quer fazer com que paguemos a crise dos capitalistas.

Bolsonaro quer cortar (ainda mais) verbas das ciências humanas, avançando na privatização do Ensino Superior e transformando o básico em EAD, censurar os professores em sala de aula e nos condenar a trabalhar até morrer, com a Reforma da Previdência, que colocará nossas entidades à prova, enquanto entrega o pré-sal e nossas riquezas nacionais ao imperialismo. Defende pagamento de mensalidade nas universidades, sendo as federais e os IFs alvos certos para o desmonte, e escolheu um ministro da Educação que comemora o golpe militar de 64, ligado às Igrejas para perseguir a nós e nossos professores com o Escola sem Partido.

A indignação que tomou as universidades e escolas frente ao primeiro e segundo turnos precisa conseguir se organizar desde as bases para enfrentar os ajustes que virão. Um espaço como o CONEB (Conselho Nacional de Entidades de Base) poderia ser de grande urgência se servisse para organizar a luta dos estudantes e ser parte de um plano de enfrentamento contra os ataques de Bolsonaro. Mas também para avançar na discussão de qual programa hoje responde à realidade de desemprego e endividamento na juventude, combinado à expansão irrestrita do acesso ao ensino superior público.

No entanto, a entidade controlada pelo PT, UJS e Levante Popular da Juventude segue a mesma estratégia que não unificou as lutas dos estudantes secundaristas e universitários contra o golpe institucional e que já aceitava passivamente os ataques de Dilma em 2015 desarticulando as resistências que partiam da juventude. Isso porque não se propõe a construir o espaço do CONEB pela base dos cursos, convocando assembleias e reuniões amplas para a tiragem de representantes, a partir de profundas discussões políticas que pautem com o conjunto dos estudantes seus desafios, para que iniciemos 2019 melhor preparados para enfrentar os planos de Bolsonaro contra o futuro da juventude e dos trabalhadores. Um exemplo é que no CAELL, Centro Acadêmico do curso de Letras USP, o maior CA da América Latina, onde o PT está novamente à frente da gestão, não foi chamado nenhum espaço para debater e eleger representantes para o CONEB.

O PT, o PCdoB (UJS) e a Consulta Popular fazem dois movimentos: no Congresso e na dita "grande política" se colocam na linha de frente da "Resistência Democrática", com 100 parlamentares em um total reacionário de 513, onde Bolsonaro não precisará do PT para aprovar seus ataques, buscando todo tipo de aliança, disposto a fazer crescer sua lista de traições históricas à classe trabalhadora, como a Reforma da Previdência aplicada no começo do mandato de Lula, a flexibilização das leis trabalhistas, os mais de 14 bilhões cortados por Dilma na Educação em 2015, assim como os quase R$ 12 trilhões entregues durante seus governos ao imperialismo pela Dívida Pública.

Enquanto isso, nas Centrais Sindicais, a CUT e a CTB fazem discursos inflamados contra as reformas onde seus aliados institucionais não os escutam, chamando dias nacionais de luta que não são construídos na base em lugar algum e ainda responsabilizam os trabalhadores e estudantes por não terem disposição de luta. É por isso que Haddad declara publicamente que sua estratégia de buscar barrar o Escola sem Partido será no STF, e nada move a partir dos grandes sindicatos de professores que o PT dirige.

Por sua vez, a Oposição de Esquerda, da qual fazem parte organizações como PSOL, UJC, Afronte, Juntos entre outras em vez de denunciar a estratégia que não permite que esses encontros sejam de base e realmente sirvam para organizar e mobilizar os estudantes, também não dão o exemplo como oposição, organizando de fato os estudantes nas entidades em que estão, como o DCE da Unicamp, e colocando a expressão conquistada por seus parlamentares e por Guilherme Boulos para exigir a unificação da juventude e dos trabalhadores nas lutas, desde cada local de trabalho e estudo, desde os sindicatos e entidades estudantis, denunciando o papel dessas burocracias para frear nossa organização. Contribuem dessa forma como ala que cobre pela esquerda a mesma estratégia eleitoral dos petistas.

A UNE precisa organizar nossa luta nacionalmente. Viemos batalhando para que essa entidade construa milhares de comitês em todas as universidades do país, para organizar a luta contra o Escola sem Partido, a Reforma da Previdência e os ataques de Bolsonaro. E agora queremos debater que frente à vitória do Bolsonaro e sua vontade de descarregar a crise nas nossas costas, não podemos encarar de forma rotineira os espaços tradicionais de organização do movimento estudantil, como o CONEB. Acreditamos que esse debate sobre como superar as burocracias estudantis e retomar nossas entidades como ferramentas de luta devem ser parte da construção desse encontro. Cada estudante que quer se organizar contra os ataques de Bolsonaro e dos golpistas deve ver em nossas entidades a necessidade de retomá-las para nossas mãos, pela base.

Essa superação tampouco pode ficar restrita ao caráter organizativo. Por trás do programa de educação pública, gratuita e de qualidade que o PT diz defender, está o fato que nem ao menos chegou aos 10% do PIB para a Educação quando era governo, mas sim alimentou os tubarões do ensino como a Kroton-Anhanguera e nas universidades públicas os jovens negros seguem sendo apenas 9%, enquanto em todo país são maioria. Por isso defendemos a estatização de todas as universidades particulares sob controle dos trabalhadores, professores e estudantes, junto ao fim do vestibular nas universidades públicas para radicalizar o direito ao ensino superior a toda a juventude.

Como forma de nos contrapormos a essa lógica formal, burocrática e rotineira que afasta as discussões das entidades e do movimento estudantil da realidade dos estudantes, propomos que o próximo CONEB debata um chamado, que seja aprovado nas assembleias de base em cada curso, sobre a necessidade de construirmos de forma unificada um encontro nacional com representantes eleitos e revogáveis pela base, para que possamos articular um forte plano de lutas contra os ataques de Bolsonaro.

É com essa perspectiva que convidamos a todes es estudantes a conhecerem e se organizarem na Faísca, juventude anticapitalista e revolucionária, e no Esquerda Diário, para batalharmos juntos por um movimento estudantil anti-burocrático que possa ser um aliado importante dos trabalhadores, para fazer com que os capitalistas paguem pela crise.




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