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O “Black Friday” dos trabalhadores da Amazon: greves na Itália e Alemanha

Diego LotitoMadri | @diegolotito

sábado 25 de novembro de 2017 | 20:10

A greve começou na sexta-feira pela manhã e terminará no começo do mesmo sábado. Uma medida que colocou em risco o gigante varejista frente a impossibilidade de cumprir com a demanda de produtos vendidos durante o “Black Friday” (Sexta-feira preta), uma tradição estadounidense de grandes promoções que se transformou em um dos dias de maiores vendas. Produto da febre consumista, milhões se lançam a fazer compras após o feriado de “Thanksgiving”, ou Dia de Ação de Graças.

Há aqueles que dizem que é uma invenção de comerciantes dos anos ‘50, enquanto outros afirmam que vem de uma tradição mais infame. Contam que o dia depois do Dia de Ação de Graças escravos eram vendidos “com desconto”. Seriam aqueles que trabalhariam nas plantações durante o inverno norteamericano, quando os proprietários necessitavam de muita “ajuda” para a colheita nas suas terras.

Esta tradição tem sido adotada massivamente na Europa e Amazon é uma das empresas que mais tem feito propaganda deste dia de super vendas contra qual nesta sexta-feira os trabalhadores dos centros da Alemanha e da Itália realizaram paralisações.

Na Alemanha, o porta-voz do sindicato ver.di, Thomas Voss, declarou para a imprensa que por volta de 2500 trabalhadores foram à greve nos centros de distribuição da Amazon em Bad Hersfeld, Leipzig, Rheinberg, Werne, Graben e Coblenza.

“A maior varejista online do mundo quer conquistar vendas recordistas neste dia, mas os trabalhadores tem que conseguir um rendimento recorde não somente neste dia para que tudo funcione como a Amazon quer”, disse Stefanie Nutzenberger, membra do diretório da ver.di, para a agência Reuters.

Desde 2013, o sindicato tem pressionado por maiores salários e melhoras nas condições de trabalho para por volta de 12 mil trabalhadores na Alemanha. Os trabalhadores da Amazon denunciam os representantes sindicais, recebem salários mais baixos que trabalhadores de outras empresas varejistas e de compras à distância. Amazon defende no entanto que é um “empregador justo e responsável” que oferece “empregos atrativos”.

A greve na Alemanha contou com ações de solidariedade em Berlim e Leipzig organizados pela aliança “Make Amazon Pay” (Faça Amazon Pagar), das quais fizeram parte mais de 400 pessoas em cada ato.

Em Berlim, também estiveram presentes trabalhadores da Amazon da Polônia que também vêm lutando contra a precarização e os baixos salários e enfrentam as mesmas práticas anti-sindicais. Nas duas cidades foram realizados piquetes dos centros logísticos e manifestações e em Berlim conseguiram paralisar a saída de produtos durante um breve período.

Na Itália, a greve foi respaldada pelos sindicatos CGIL, CISL, UIL, UGL, afetando o único centro de distribuição na Itália que o grupo possui de venda online na província de Piacenza (norte da Itália).

Mais de 500 trabalhadores participaram da greve segundo os sindicatos, de uma planta de 1600 trabalhadores no centro de distribuição de Piacenza. Os trabalhadores pedem por melhoriais salariais já que, segundo os sindicatos, Amazon Itália “tem tido um crescimento enorme e o direito a ser redistribuído existe”, mas a patronal não deu o braço a torcer.

Após a ruptura de negociações com a patronal, os trabalhadores também decidiram não fazer nenhuma hora extra até o dia 31 de dezembro, coincidindo com a alta temporada de Amazon, um período na qual se vê obrigada a contratar trabalhadores temporais para manter sua distribuição.

O sindicato SiCobas também aderiu com sua plataforma à greve, muito ativo e também presente no distrito logístico piacentino, que organizou um piquete com bloqueio na entrada e saída de mercadorias, para afetar verdadeiramente as operações da empresas que se negou até agora a negociar ao menos uma das reivindicações dos trabalhadores.

Por volta de 300 trabalhadores organizados no SiCobas se concentraram desde as 9 da manhã para bloquear as portas do armazém de Amazon, enquanto por volta de 60 membros de outros sindicatos tentaram impedir que seus próprios filiados se unificassem em uma única medida de luta. Apesar disso, mais de 30 trabalhadores da CISL se unificaram na medida de luta contra seus próprios representantes que gritavam que “o piquete não serve, é ilegal”. Depois outros 130 trabalhadores de armazens próximos se unificaram também ao piquete em solidariedade aos seus companheiros da Amazon.

Amazon assegurou em um comunicado que os salários de seus trabalhadores “são os mais altos no setor de logística e incluem benefícios como descontos para compras na Amazon, seguro de saúde e assistência médica privada”, uma afirmação que contrasta com as denúncias dos sindicatos que evidenciam o nível de precariedade e superexploração que sofrem os trabalhadores da empresa.

A greve simultânea realizada pelos trabalhadores precarizados da Amazon na Alemanha e Itália, ameaçando paralisar as operações de um dos gigantes das vendas online, mostra a potencialidade da unidade da classe trabalhadora, não somente em escala nacional, mas internacional, para enfrentar a voracidade das multinacionais afetando seus lucros. Um caminho a seguir.




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