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ANTONIO POMPEO | O Adeus de Antonio Pompêo: militante, negro e ator.

Encontrado morto no último dia 5, em seu apartamento no Rio de Janeiro, vamos resgatar a história desta importante figura negra para a dramaturgia brasileira e sua trajetória de militância em torno da questão negra.

sexta-feira 8 de janeiro de 2016 | 00:00

Nascido na cidade de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, Antônio Pompêo fez sua estreia como ator aos 12 anos, no filme Xica da Silva (1976), tendo realizado diversos filmes entre as décadas de 1970 e 1980, como O Cortiço (1978), Nunca Fomos Tão Felizes e Quilombo (1984) este último tendo interpretado o papel de Zumbi dos Palmares, ao lado de Zezé Motta, sua futura namorada, no papel de Dandara, e também tendo participado do filme Xangô de Baker Street, de Jô soares. Sua carreia foi acompanhada de sucessos também na TV, como A Moreninha (1975), O Tempo e O Vento (1985), Kananga do Japão (1989), O Rei do Gado (1996), A Casa das Sete Mulheres (2003) e Balacobaco (2012), sendo este seu último trabalho na televisão. Sua carreia não se restringe apenas a seus trabalhos com ator, tendo sido também artista plástico.

Militante do Movimento Negro e um dos atores negros de maior visibilidade na TV aberta e no cinema do País, Pompêo foi diretor de Promoção, Estudos, Pesquisas e Divulgação da Cultura Afro Brasileira da Fundação Palmares, tendo no período de julho de 2007 a outubro de 2008 acumulou a função de presidente-substituto e diretor do Departamento de Fomento e Promoção da Cultura Afro-brasileira da Fundação Cultural Palmares, vinculada ao Ministério da Cultura. O ator também era um dos idealizadores do projeto “A Cor da Cultura”, projeto educativo de valorização da cultura afro-brasileira. A iniciativa se converteu em material de apoio pedagógico utilizado em todo o país para formação de professores e para estudantes de História e Cultura Afro-Brasileiras. O projeto a Cor da Cultura teve seu início em 2004 e, desde então, tem realizado produtos audiovisuais, ações culturais e coletivas que visam práticas positivas, valorizando a história da cultura afro-brasileira, fruto de uma parceria entre o Canal Futura, a Petrobras, o Cidan – Centro de Informação e Documentação do Artista Negro, entre outras entidades, como a TV Globo e a SEPPIR - Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República, que desde 2003 possuía status de Ministério, que perdeu no final do ano passado, quando foi rebaixada pela Presidente Dilma Roussef.

Uma das mensagens mais marcantes deixada para o ator foi de sua ex-companheira das telas e da vida, a também atriz Zezé Motta, que postou uma mensagem de despedida em sua conta no Facebook: "Em choque, e com muito pesar que comunicado a perda do meu amigo e grande ator Antônio Pompêo. Juntos, trabalhos em Xica da Silva, Quilombo, entre tantos outros projetos no cinema, na televisão foram mais de 05 novelas onde tivemos a oportunidade em estarmos juntos... A dor é grande! Pompêo foi um grande ator, mal aproveitado. Não teve o reconhecimento que merecia e acho que morreu de tristeza. Tínhamos uma relação que não tinha nome. Eu era namorada, mãe, madrinha, tudo ao mesmo tempo. Pompêo foi um grande amigo, companheiro, irmão… Meu amigo estava recluso, deprimido com a falta de oportunidades de trabalho… Essa é a realidade Descanse em paz meu amigo."

No Facebook, seu irmão, Oscar Pompêo agradeceu aqueles que escreveram para seu irmão “Amigos, o corpo de meu irmão Antonio Pompêo será transladado e sepultado em São José do Rio Preto (SP). Agradeço ao Sindicato dos Artistas do Rio de Janeiro e SP a ajuda, pois sem eles não seria possível. Agradeço aos amigos que nesse momento de dor estão juntos. Me perdoem, estou sem palavras mais”.

Antônio Pompêo também era engajado na luta contra o racismo e na valorização do negro. Combativo, o ator sempre se posicionou contra o preconceito. Em 2010, Pompêo publicou um artigo nas páginas do GLOBO sobre o tema: “O racismo é uma serpente de muitas cabeças. Damos um golpe no seu corpo e ela se multiplica.

Precisamos lutar para que essa igualdade exista e que todos possam participar”. Como legado a característica do ator-questionador social, que lutava contra a repetição, nos palcos midiáticos, da opressão ao povo negrx, que dava aos artistas negrxs papéis estereotipados, como de empregadas domésticas, escravos, malandros, bandidos e alcoólatras.

A arte deveria passar pela contestação profunda de seus modelos opressores, racistas, machistas, homofóbicos e etc, ajudando a refletirmos sobre isso e nos provocar a mudar nossas concepções sobre estas coisas. Infelizmente sua luta não evitou que ele mesmo se tornasse uma vítima, em um mar de atrizes e atores que não conseguem se manter em papéis que não sejam os entendidos como “papéis para negros”, ou em que os protagonistas não sejam apenas personagens históricos, mas sim personagens do dia a dia, em que outros negros possam ver fortaleza e talvez vislumbrar uma saída para fora do mundo de exclusão social a qual o negro está submetido. Saída esta que deve romper os limites impostos por esta sociedade racista em que ele viveu e na qual nós hoje temos que seguir lutando em busca de um mundo livre de toda opressão, possível de ser construído apenas sobre as ruínas da sociedade anterior e seu sistema, sobre as ruínas do capitalismo.

O ator foi encontrado morto em sua casa nesta terça-feira (5), será sepultado em São José do Rio Preto, sua cidade natal, no interior de São Paulo. O corpo do artista foi preparado no Rio de Janeiro, onde morava, para o traslado. A informação foi divulgada pelo irmão de Antonio, Oscar Pompêo, que espera a chegada do corpo para anunciar a data do funeral.

Sentiremos a sua falta, Antônio.




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