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CORONAVÍRUS: USP | Número de trabalhadores do hospital da USP contaminados pelo coronavírus cresce, é preciso liberar já o grupo de risco

Recebemos a informação de que pelo menos 10 trabalhadores do Hospital Universitário da USP (HU) estão com a covid-19 e mais de uma dezena aguarda o resultado dos testes. Os funcionários que fazem parte do grupo de risco, ou seja, que são maiores de 60 anos ou possuem alguma comorbidade não foram liberados e correm risco iminente de contaminação. É urgente proteger esses trabalhadores e liberá-los do trabalho.

sexta-feira 10 de abril de 2020 | Edição do dia

Em diversos países do mundo cresce o número de pessoas infectadas com o novo coronavírus. Espanta o número de profissionais da saúde contaminados. Na Espanha mais de 14% dos casos da covid-19 eram de trabalhadores dos hospitais. Isso coloca em alerta todos os trabalhadores que estão na linha de frente do combate.

A direção do Hospital Universitário, sob o comando de Paulo Ramos Margarido e a reitoria da USP, comandada por Vahan Agopyan, resistem em liberar os funcionários do hospital que fazem parte do grupo de risco. Alegam que com a saída desses profissionais, o quadro de funcionários diminuiria em 30%. No entanto, nem Vahan nem Margarido aceitam abrir contratação emergencial para tirar os trabalhadores que correm mais risco da linha de frente. Ou seja, arriscam a vida desses trabalhadores ao invés de contratar mais profissionais.

Vale lembrar que foi essa mesma reitoria que fechou mais de 300 postos de trabalho no hospital, com dois PIDVs (Plano de Incentivo à Demissão Voluntária), e manteve as contratações congeladas desde 2014. Isso resultou no fechamento dos prontos socorros infantil e adulto, desde 2017, e na desativação de mais de 50 leitos.

Através de intensa luta de funcionários e da comunidade USP e do Coletivo Butantã na Luta, foi conseguida uma verba de 20 milhões de reais na Alesp para contratar pessoal para o hospital. Porém, mesmo com essa verba extra a reitoria se mostrou intransigente em abrir contratação. Isso porque seu objetivo, desde 2014, diga-se de passagem, é desvincular o hospital, entregando-o para fundações privadas, como é hoje o Hospital das Clínicas, gerido pela Fundação Faculdade de Medicina.

Veja aqui: Reitoria quer entregar o HU para planos de saúde e fundações privadas

Os funcionários do HU que testaram positivo para a COVID-19 ou que estão aguardando o resultado dos testes são de diversos setores, administrativo, laboratórios, nutrição e enfermagem. Ou seja, não apenas aqueles que estão em contato direto com paciente estão correndo risco de contágio. No entanto, o Hospital tomou a postura absurda de racionar máscaras entre os funcionários, fornecendo-as apenas para aqueles que estão em contato com pacientes. Além disso, já houve pedido de racionamento de álcool gel e a direção do hospital não providenciou até o momento roupas privativas para vários setores que não são da enfermagem, mas lidam com pacientes, como o setor de raio-x, aumentando a exposição dos trabalhadores e seus familiares ao vírus.

Saiba mais: Hospital da USP raciona máscaras colocando os trabalhadores em risco iminente

Ou seja, além de manter os trabalhadores do grupo de risco na linha de frente, trabalhando, nem a reitoria nem o superintendente do HU providenciam condições mínimas de trabalho para esses profissionais. Pior, lançam um comunicado mentiroso dizendo que o HU está livre da COVID-19, como se fosse possível numa pandemia um hospital se manter sem o vírus. Embora o HU não seja referência para receber os doentes da covid-19, muitos pacientes chegam buscando outras especialidades e acabam recebendo o diagnóstico também de contaminação pelo novo coronavírus. Além disso, 7 funcionários contaminados e outros com suspeita já são a prova cabal que o HU não está livre da COVID-19.

Por que o HU não garante testes para seus funcionários?

Por dia são disponibilizados apenas 4 kits de testes para a covid-19. Isso num hospital com mais de mil funcionários efetivos e terceirizados. Caso um paciente seja atendido no HU ele também não é imediatamente testado, já que a orientação do governo Dória é só testar os casos graves. Se um paciente dá entrada no hospital e está contaminado pelo coronavírus, porém sem sintomas, pode contaminar todos aqueles que entrarem em contato com ele se os procedimentos de segurança forem afrouxados. Por isso é fundamental testar todos, funcionários e pacientes.

Testar, testar e testar, essa deveria ser a palavra de ordem. Sem a testagem é como navegar na escuridão, sem saber o que nos espera e quando é seguro desembarcar. Sem testes para os funcionários é impossível saber quem está ou não contaminado e quais devem ser as políticas para segurança dos trabalhadores e para manutenção do atendimento. A testagem pode ajudar a descobrir quais protocolos para o uso de EPIs são necessários e como deve se organizar o hospital para evitar o contágio de funcionários. Não se trata de testar todos a cada minuto, mas sim a partir de identificar e afastar os contaminados, inclusive os que não apresentaram nenhum sintoma ou sintomas leves, traçar novos protocolos de segurança para conter a exposição do vírus e pensar a periodicidade dos testes para aqueles que estão na linha de frente. No entanto, se apenas 4 kits por dia é disponibilizado, demoraria quase um ano inteiro para testar só os funcionários do hospital, sem considerar os pacientes. É entregar os profissionais da saúde para a doença e até a morte.

Falta transparência do hospital!

Além de baixar memorandos absurdos como o que determina o racionamento de máscaras, a direção pouco informa os funcionários sobre os colegas contaminados e sobre a liberação do grupo de risco. Tudo é discutido a portas fechadas e os trabalhadores que arriscam suas vidas, que estão verdadeiramente na linha de frente do combate não tem informações e não podem opinar sobre as políticas em relação ao hospital frente à essa pandemia.

Essa postura irresponsável já começa a colher seus frutos podres. Foram dois trabalhadores da USP mortos pela covid-19. Um deles do grupo de risco, Manoel Nunes Souza, de 71 anos, que não foi afastado do trabalho. A morte de Manoel é responsabilidade da USP e da empresa Albatroz, que cuida da vigilância.

Veja aqui: “Estou trabalhando, a empresa não está liberando os idosos”, escreveu trabalhador terceirizado da USP morto pela COVID-19

Por isso, a vida dos trabalhadores do HU não pode esperar. Os funcionários que fazem parte do grupo de risco precisam ser liberados imediatamente e é urgente abrir contratações emergenciais para os postos de trabalho desses funcionários e para garantir o pleno atendimento do hospital.

Não vamos ficar esperando para contar nossos mortos. A reitoria da USP e a Superintendência do Hospital Universitário precisam mudar radicalmente de postura, abandonar o descaso com os trabalhadores e com a saúde, garantindo transparência absoluta, EPIs adequados e em quantidades suficientes para todo o hospital, testes para todos os funcionários e pacientes, contratação emergencial imediata e liberação do grupo de risco. Só assim podemos esperar um hospital livre da covid-19 e sem arriscar a vida dos trabalhadores da saúde que merecem não apenas nossas palmas, mas nossa disposição para lutar por condições de trabalho dignas.

Veja aqui o boletim do Sintusp denunciando a situação dos trabalhadores do hospital:




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