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No olho do furacão da CPI da COVID, cresce o rechaço aos militares na política

Pesquisa realizada pelo PoderData revelou que saltou para 45% aqueles que consideram a presença dos militares no governo como ruim. Aprofunda-se a contradição das Forças Armadas, que de instituição do Estado passam a se identificar cada vez mais como

segunda-feira 3 de maio de 2021 | Edição do dia

Os militares que em anos recentes já foram a instituição com maior prestígio no regime veem sua aprovação na opinião pública cair cada vez mais. Pesquisa PoderData realizada de 26 a 28 de abril, com 2.500 pessoas, mostra que 45% dos entrevistados avaliam como “ruim” a presença de militares no governo e na política. É a 1ª vez no levantamento em que a rejeição lidera.

A proporção aumentou 10 p.p. em relação à última pesquisa, de julho de 2020. Difícil ser mera coincidência que em boa parte desse período o general Eduardo Pazuello permaneceu no cargo de ministro da saúde, assumindo a catastrófica gestão da crise sanitária, servindo de capacho para as ações negacionistas de Bolsonaro, tendo na crise de oxigênio em Manaus uma das mais expressões mais fúnebres do descaso do governo em relação às vidas humanas.

Os militares, que desde o início do governo Bolsonaro viram sua presença se espraiar para todas as esferas do governo, em meio a pandemia se tornaram ainda mais cúmplices da assassina gestão sanitária desse governo. A CPI da COVID que nessa semana convocará o ex-ministro Pazuello pode colocar ainda mais holofotes na atuação dos militares, se tratará de uma decisão política do restante do regime o quanto desejam arrastar os militares para o centro da guerra de desgaste contra Bolsonaro.

Entretanto, até o momento, na linha de fogo da artilharia do bonapartismo institucional está apenas Pazuello. Existem ameaças para que os outros generais Braga Netto e Luiz Ramos também sejam convocados, mas são meros tiros de advertência que servem de intimidação para comprometer essa ala dos militares que seguem dando sustentação a Bolsonaro. A política do bonapartismo institucional é aumentar a separação entre os militares e o governo bolsonarista, que por sua parte segue tentando esticar a corda e comprometer os generais em seu projeto autoritário.

Como as declarações do general Mourão e do ex-chefe do Exército Edson Pujol mostram bem, o dilema para os militares não está em qual lado da contenda se posicionar, mas em como desvincular a imagem das FFAA do governo ao mesmo tempo que mantém as muitas posições conquistadas em diferentes cargos na máquina pública. “Pazuello, quando o Bolsonaro lhe proibiu de comprar vacinas, você deveria ter pedido demissão. Obedecendo, você se ferrou e nos ferrou junto”. Da mesma forma, Mourão cinicamente disse que os erros de Pazuello não podem ser confundidos com toda a instituição militar.

Desde que saíram definitivamente da caserna para retomar os palcos políticos, os militares sabiam bem do risco de comprometerem o pouco prestígio que conseguiram aglutinar se resguardando da política após a redemocratização. Porém, o acúmulo de poder recente nas diversas operações que lhes foram confiadas - como o comando da missão da ONU no Haiti, a intervenção federal no Rio de Janeiro, entre tantas outras GLOs - fez aumentar o apetite das altas patentes pelo controle orçamentário e de enormes montantes de verba pública. São hoje os administradores diretos da corrupção inerente ao sistema capitalista, ocupando com milhares de quadros inuneras esferas do Estado. Independente do governo que suceda o atual, os militares seguiram cumprindo esse papel superior no regime político brasileiro do pós golpe.

A tentativa da grande imprensa e do PT de separar os "bons" dos "maus" militares é uma burla, já que todo o alto comando apoiou o golpe institucional de 2016 e é responsável pela catástrofe econômica e social.

Uma saída como o impeachment, que colocaria o general Mourão no poder, só serviria para preservar esse novo lugar dos militares. Só há uma forma de reconduzir os generais e sua intervenção na política de volta à caserna, que é através de uma nova Assembleia Constituinte Livre e Soberana que revogue todos os entulhos autoritários presentes na Constituição de 88, assegurados através da transição tutelada por eles. Nessa assembleia dispositivos como a LSN, a lei da Anistia e o artigo 142 poderiam ser revogados, fortalecendo a luta dos trabalhadores contra o autoritarismo desse regime do golpe, e sua autoorganização fortaleceria o caminho da luta por um governo dos trabalhadores de ruptura com o capitalismo.

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