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CRISE POLÍTICA | No dia em que rejeição ao governo Dilma bate recorde, PDT e PTB deixam base aliada

Adriano FavarinMembro do Conselho Diretor de Base do Sintusp

sexta-feira 7 de agosto de 2015 | 01:00

Na mística da política brasileira, o mês de agosto é conhecido como o “mês das bruxas” ou o “mês do cachorro louco”. Foi quando Getúlio se matou, Jânio renunciou, JK morreu e Costa e Silva teve um AVC...ah! E o Congresso caçou Collor de Melo... só pra ficar nos episódios mais famosos, que simbolizaram uma reviravolta na política do país. Mais recentemente também podemos citar a morte de Eduardo Campos, então pré-candidato a presidente pelo PSB.

Porém, místicas e superstição à parte, a realidade do mês de agosto para a presidente Dilma não está nada fácil e pesquisa realizada pelo Datafolha entre 04 e 05 de agosto mostram que sua popularidade atingiu o menor patamar já apurado pelo instituto em suas pesquisas nacionais sobre a Presidência. Com 71% de desaprovação e apenas 8% de aprovação, seu governo está pior avaliado do que o de Collor de Melo, que possuía 68% de desaprovação às vésperas do processo de impeachment que o levou a renunciar ao cargo em 1992.

Além da menor popularidade, 66% dos entrevistados acham que o Congresso deveria abrir um procedimento de afastamento da presidenta.

O mau desempenho da economia, que em vista da dinâmica internacional de manutenção da crise na Europa, recuperação débil nos EUA e desaceleração da China, tende a permanecer ou se aprofundar no caminho da recessão. Os reflexos imediatos disso na realidade do trabalhador, com a alta da inflação e o aumento da taxa de desemprego, são elementos fundamentais para a diminuição da popularidade da presidenta. Mas não é só isso. O escândalo da Lava jato e da corrupção na Petrobrás se aproxima a cada dia da alta cúpula do partido do governo, o PT, de membros proeminentes de sua base (já não mais tão) aliada e de empresários de sustentação do governo.

Outro elemento combinado que afeta a popularidade da presidenta é, por um lado, a polarização das eleições do ano passado, na qual a vitória apertada do governo solidificou uma base de oposição militante, e por outro, a decepção dos seus eleitores ao verem a política do governo Dilma se tornar a mesma defendida pela oposição tucana. Com a ajuda de um banqueiro, Dilma vem aplicando ajustes que afetam diretamente a vida do trabalhador, Medidas Provisórias que cortam na aposentadoria e no seguro-desemprego, diminuição de trabalho com diminuição do salário, aumento da terceirização, cortes de gastos sociais... só pra citar algumas das políticas impopulares e contra os trabalhadores do primeiro semestre do governo Dilma, que ela havia, durante as eleições, atribuído ao seu adversário – esse sim, defensor descarado dessas políticas –, Aécio Neves, do PSDB.

Nesse sentido, mais do que um místico “mês de mau-agouro”, a atual impopularidade da presidenta em agosto tem bases econômicas e políticas muito concretas. Por falar em política, do mesmo modo que a crise política afeta a popularidade de Dilma, a sua reputação afeta as suas alianças políticas e alimenta a própria crise. Ninguém quer se ver aliado ou próximo de uma presidente com tão baixa reputação. Não à toa, dois grandes partidos da base aliada, responsáveis pelo peso de 44 deputados na Câmara, dos quais 60% possuíam fidelidade nas votações com o governo, se declararam hoje “independentes” e se afastam da base do governo, o PDT e o PTB.
O mês de agosto mal começou. As chamadas “pautas-bombas” – aquelas que, se aprovadas, ou afetam o ajuste fiscal do governo ou o desgastam politicamente – estão sendo apresentadas ao Congresso, e na primeira delas, o governo já sofreu uma derrota. O Tribunal de Contas da União ainda irá apresentar um relatório das “pedaladas fiscais” do governo, reconhecendo ou negando, e com isso permitindo a abertura de processos de impedimento. A Operação Lava-Jato continua e se aprofunda. A rebeldia da base aliada se tornou ruptura de bancadas e quiçá, pode se tornar saídas de Ministérios. Manoel Dias (PDT), Ministro do Trabalho disse que “os próximos passos serão naturalmente dados. Não se afasta [a possibilidade de deixar o ministério]”.

O PMDB, como bom partido fisiológico, busca manter a institucionalidade do Estado Brasileiro pós-ditadura, e se divide entre quem ora morde e ora assopra o governo (Cunha e Renan), mantendo sempre uma posição equilibrada de comando para segurar o leme ou deixar o barco na hora certa (Temer). Todos os partidos, porém, sejam da oposição ou do governo, estão na expectativa dos atos chamados para o dia 16 de agosto e na expectativa dos nomes de políticos que serão envolvidos por Janot na operação Lava Jato. Os seus resultados é que dirão se Dilma entrará ou não para a história como mais um elemento simbólico da “mística” do mês de agosto.




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