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1/5 NA ARGENTINA CONTRA O GOLPE | No 1 de maio, ato internacionalista em Córdoba se posiciona contra o golpe no Brasil

Às 20:00 do sábado, o salão da União e Benevolência de Córdoba começava a encher-se de trabalhadores de diversos setores estatais e fabris da cidade. Estavam presentes os trabalhadores e trabalhadoras docentes e da saúde, como Cecília Ibarra, enfermeira que havia sido reeleita, nesse mesmo dia, como delegada de seus companheiros do Hospital Rawson e as companheiras da ex-Secretaria de Tratamento e Cuidados Hospitalares, que estão lutando contra as demissões e a precarização do trabalho que impõe o governo provincial de Schiaretti.

segunda-feira 2 de maio de 2016 | Edição do dia

Uma importante delegação de trabalhadores da Valeo, acompanhados pela comissão de mulheres, trocava opiniões e experiências com os trabalhadores da Minetti, que no ano passado tiveram uma queda de braços com a patronal que queria impor um plano de ajustes e demissões. De Jesus Maria chegaram os operários da fábrica de sabão Guma, que formam parte da “Agrupación Bordó” e que se apresentaram nas eleições do sindicato dos saboneteiros no mês de junho. Trabalhadores da Volkswagen e de outras fábricas de autopeças conversavam com jovens trabalhadores de fábricas metalúrgicas, um dos setores onde tem havido mais demissões e suspensões nos últimos tempos. Os trabalhadores do jornal “La Mañana”, de Córdoba, também em luta contra as demissões, se surpreenderam com a quantidade de gente presente.
A juventude da cidade, de distintas escolas secundárias e faculdades da Universidade de Córdoba e Vila Maria, também estiveram presentes. De Rio Cuarto chegou Guadalupe Fantin, professora e candidata de sua região pelo PTS.

“Confiem em nós”

Depois de desfrutarem da comida, se deu início os discursos, começando por um trabalhador da Guma, que saudou a recuperação do Sindicato dos Pneus pelos trabalhadores. Contou que na fábrica estavam acostumados a trabalhar com a pressão da patronal, suportando demissões e desrespeitos, “até que tivemos contato com o companheiro Franco Villalba da ’Agrupación Bordó’ de saboneteiros e outros companheiros do PTS. Há 6 meses houve uma demissão e foi a primeiro vez que fizemos uma paralisação. Logo, 30 companheiros formamos a ’Agrupación Bordó’, para poder lutar melhor e recuperar o sindicato”. Destacou também a colaboração da legisladora Laura Vilches, que doou parte de seu salário para o fundo de luta que formavam. “Nos ajudou muito ver Nicolás del Caño lutando na Panamericana junto aos trabalhadores, isso nos tirou o temor porque vimos que há dirigentes que lutam no congresso e nas ruas junto conosco”. Emocionado, o trabalhador concluiu dizendo a todos os presentes: “Confiem em nós, se há que sair a luta, Guma vai estar lá”.

Em seguida, subiram ao palco os trabalhadores da Valeo e sua comissão de mulheres, que contaram como começaram a unir as esposas dos trabalhadores com as operárias da fábrica para colaborar com a luta, conquistando há alguns meses a reincorporação de uma trabalhadora.

Um dia de luta

Hernan “Bocha” Puddu, dirigente do PTS e delegado despedido da Iveco, fez menção à mobilização que haviam realizado as centrais sindicais na sexta-feira, marcando a contradição entre a força que podem demonstrar os trabalhadores tomando a capital do país e as burocracias sindicais, que dizem que o primeiro de maio é um dia de festa. “Os socialistas revolucionários sabemos que não é assim, que nosso primeiro de maio é um dia de luta. Homenageamos os mártires de Chicago, que já em 1886 lutavam contra a escravidão assalariada e foram assassinados por isso. Esses operários prognosticaram que seu movimento ia se tornar mais forte do que nunca, e tinham razão”. Depois explicou porque o internacionalismo do PTS não é apenas de palavras, mas que se faz concreto: “Marx dizia que a luta da classe operária é nacional em sua forma, mas é internacional em seu conteúdo. Em toda América Latina há uma ofensiva reacionária, e se se fortalece a direita com o golpe institucional no Brasil, se fortalece o Macri [na Argentina]”.
Bocha recordou a luta que deu, em 2008, junto a outro delegado na Iveco, para que os contratados fossem considerados trabalhadores iguais aos efetivos. “Eu fui despedido, mas fincamos uma bandeira de que os contratados são companheiros como os efetivos e que há que defender-los com a mesma garra. E hoje me dá muito orgulho ver que somos a única corrente de esquerda em Córdoba que tem companheiros como Walter Silva, demitido da VW mas reincorporado, companheiros da Valeo, onde também teve trabalhadores reincorporados. O ano passado conhecemos os companheiros da Minetti e da Guma. Isso demonstra que temos muitas ideias e que lutamos para ganhar. E por isso queremos convidar mais companheiros e companheiras a que se somem a nossa organização”.

Contra o ajuste do PT e o golpe institucional da direita

Rita Frau, professora e militante do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT), Brasil, subiu em seguida. Saudou os trabalhadores e jovens presentes e contou que em sua cidade, Rio de Janeiro, o MRT também está intervindo na greve da educação e nas ocupações de escolas. Com respeito ao processo de impeachment que está se desenvolvendo no país, colocou: “Todos ficamos espantados com os discursos reacionários dos deputados, onde citaram a igreja, os militares, os latifundiários e até mesmo os torturadores da ditadura. Nenhum deles fundamentou seu voto nos motivos administrativos alegados no impeachment. Isso demonstra que o governo que querem impor, com Temer à frente, pretende realizar um ajuste sobre os trabalhadores ainda superior ao que Dilma vem realizando. O combate contra o golpe é uma questão de princípios, se trata de combater o avanço da direita e o ataque às liberdades democráticas que mais cedo que tarde, usarão contra a classe trabalhadora”. A companheira desenvolveu como tem impactado na classe trabalhadora brasileira o ajuste que tem realizado o PT. “No início do governo do PT havia 4 milhões de trabalhadores terceirizados, hoje são 12 milhões. Há ajustes na saúde e na educação, milhares de demitidos. Isto está provocando um rechaço à Dilma na classe trabalhadora. Porém os sindicatos filiados à CUT tem impedido que os trabalhadores lutem contra esses ajustes. Por isso, rechaçamos o golpe por motivos diferentes do PT, que defende esta democracia para os ricos. Nem com os mesmos métodos que o PT, que defende a conciliação de classes”.
Porém, no Brasil nem todas as correntes de esquerda opinam igual ao MRT: “Alguns setores da esquerda dizem que não há golpe e defendem o chamado para eleições gerais, outros veem o golpe mas fazem um seguidismo ao PT. Mas os trabalhadores e os jovens vem lutando, como no Rio de Janeiro, onde há dezenas de escolas ocupadas pela educação. Nossa tarefa é avançar na mobilização independente dos trabalhadores e da juventude para lutar contra o golpe e por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, que ataque a impunidade do sistema político e faça os capitalistas pagarem pela crise, que avance sobre os problemas estruturais do país como a reforma agrária, que acabe com a polícia assassina, que legalize o aborto, que todos os políticos ganhem igual uma professora e que todos os juízes sejam eleitos por voto popular e sejam revogáveis”.

Lutar por uma nova sociedade

Finalmente subiu ao palco a legisladora de Córdoba pelo PTS, Laura Vilches, que relembrou como, desde o início da crise capitalista mundial, os governos tem resgatado as empresas e os bancos enquanto aumenta o desemprego, a precarização e a miséria dos trabalhadores e setores oprimidos em todo o mundo. “Há uma direita racista, anti-imigrante, que quer dividir os trabalhadores, enquanto veem o sofrimento porque passam fugindo das guerras e da fome. Os capitalistas são capazes de construir muros e campos de concentração onde colocam, como se fossem animais, os trabalhadores imigrantes”. Porém, essa mesma experiência desperta um enorme ódio, pois os problemas da classe operária e da juventude seguem sem resolução. Isso dá origem a fenômenos políticos pela esquerda que expressam o descontentamento de grandes setores, como o Podemos, no Estado Espanhol, ou Bernie Sanders, nos EUA. “No mundo se discute se a saída da crise vai ser pela direita ou pela esquerda. Nós cremos que pode ser pela esquerda, quem têm que pagar [pela crise são] os capitalistas que a geraram, e por isso temos que construir uma alternativa política dos trabalhadores, das mulheres e da juventude”.
Voltando à Argentina, colocou que o Kirchnerismo nos fez acreditar que se podem conciliar os interesses dos trabalhadores e dos patrões. “Porém, tem sido eles que começaram com os ajustes e os vemos na Terra do Fogo, em Santa Cruz e em Santiago de Estero. Os vemos com o escândalo das empresas de Lárazo Báez e os Panamá Papers. São os partidos políticos que fazem acordos com os fundos abutres. São os partidos que se tiraram foto com o cartaz do “NiUnaMenos” mas despedem as trabalhadoras que lutam contra a violência machista todos os dias”. Vilches terminou convocando todos os presentes a organizarem-se contra a exploração e as misérias as que nos submete o capitalismo. “Assim como os capitalistas se organizam, nós também [devemos]. Desde o PTS usamos todas as armas possíveis para conquistar essa organização, por isso colocamos em pé um jornal digital como ’La Izquierda Diario’ e um programa de televisão semanal, editamos livros, nos organizamos com as mulheres do ’Pan y Rosas’, fazemos falas nas universidades. Ninguém disse que é fácil, mas se vermos a força enorme que tem os trabalhadores, as mulheres e a juventude podemos colocar em pé, como fez a Revolução Russa, uma nova sociedade onde a exploração e todas as humilhações a que nos submetem comecem a ser parte do lixo da história”.

Para finalizar o ato, todos os presentes entoaram A Internacional, o hino dos trabalhadores. A celebração continuou com números musicais como “En Clave de Luna”, o grupo de festa “La Candelaria”e Ariel Luna. A banda Industrial Blues Band, com vários trabalhadores da Volkswagen entre seus integrantes, fechou a noite.

Tradução: Mauro Sala




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