Publicamos aqui o poema de Sara Fernandes.
quinta-feira 16 de julho de 2020 | Edição do dia
bolso cheio de grana
cheio de joelho
cheio de pé
o dia é espelho
do outro que passou
e daquele outro
bolso cheio de evangelho
cheio de podre conselho
cheio de porco fardado
cheio de assassinato
cheio de sangue
o dia não dorme na pálpebra
de quem teve seu pescoço pisado
sua cara espremida contra o asfalto
o espanto sempre nos toma o fôlego
mas esse cenário é velho
da violência contra o povo
pobre e negro
descarregada na cara dura
por esse racista aparelho
mas assemelho
que com a fúria negra
que se levanta nos eua
e em todos os cantos do mundo
arrancaremos de vez dos pescoços
esses sujos joelhos
e esse seu bolso cheio, bolsonaro
e de toda a sua corja imunda
ficarão é cheios de medo
cheios de desespero
seu receio de um "país vermelho"
será é pouco, esteja avisado,
se expandirá para um mundo
que não mais aceitará
a opressão e exploração
goela abaixo
nossos dias não mais espelho
do que será passado
onde versos de lamento
serão ultrapassados
ergueremos, lado a lado,
vida plena de sentido
onde nossos sonhos não mais
interrompidos ou frustrados.
[fotografia: erik mcgregor, junho de 2020. protesto contra a violência policial em nova york]