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GREVE USP | Na USP de Alckmin, quem luta pela educação fica sem salário

A greve de 2016 das universidades estaduais paulistas já entrou para a história como uma das maiores mobilizações de professores, estudantes e funcionários de USP, Unesp e Unicamp das últimas décadas.

terça-feira 14 de junho de 2016 | Edição do dia

Setores que tradicionalmente são menos adeptos das mobilizações, como a Medicina ou engenharias, já tem mostrado a disposição de mudar essa história e estão em luta em defesa da educação. Ontem a Medicina da Unicamp, depois de vários dias de paralisação, aprovou sua entrada na greve. Na USP, a mobilização de médicos e demais funcionários do Hospital Universitário (HU), ao lado dos estudantes da saúde – um dos setores mais mobilizados da universidade – tem dado grande visibilidade a uma das pautas centrais da greve: a luta contra o desmonte já em curso e a desvinculação do HU da USP e sua atribuição à uma OSS(Organização Social de Saúde).

A responsabilidade é do governo Alckmin

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, reconhecidamente representa um dos setores mais à direita do tucanato. Ele é responsável diretamente pela situação de calamidade da universidade. Quando foi conquistada a autonomia universitária, com uma histórica greve das universidades em 1988, as três estaduais paulistas tinham como orçamento um repasse anual médio de verbas equivalente a 11,6% do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) do estado. Ao se atribuir uma destinação fixa, esse percentual foi imediatamente reduzido para 9,57%. Desde então, foram diversas lutas pela restituição do patamar de seu orçamento anterior, sendo que a greve de 2005, por exemplo, impôs à Assembleia Legislativa a aprovação desse aumento, que em seguida foi vetado pelo então governador, o “eterno” Alckmin.

Nem mesmo as promessas que fez são levadas adiante pelo governo, que havia se comprometido a aumentar as verbas proporcionalmente à expansão da universidade quando foi construído o novo campus da EACH (USP Leste) ou incorporado o campus da Faculdade de Engenharia Elétrica de Lorena. Nem um centavo a mais foi destinado com essas e outras expansões, como os diversos campi da Unesp que têm muitas vezes péssimas condições de permanência estudantil (e essas expansões ainda estão muitíssimo aquém do necessário para garantir o direito universal ao ensino superior no estado), diminuindo assim, proporcionalmente, a verba em relação a cada estudante. E a situação é ainda pior: nem mesmo o que é estipulado em lei é cumprido pelo governo. Numa verdadeira “pedalada fiscal”, Alckmin simplesmente deu um calote de cerca de R$ 573 milhões nas universidades apenas nos últimos dois anos, sendo que aproximadamente metade desse valor seria destinado à USP, de acordo com cálculo feito pelo Fórum das Seis.

A reitoria é parceira de Alckmin no desmonte e arrocho

Os reitores da USP tem sido fieis e submissos ao governo ao implementar na universidade as medidas de desmonte da universidade. Entre elas está o PIDV (Programa de Incentivo à Demissão Voluntária) feito em 2014, que levou a centenas de demissões e a consequências como o atual fechamento do Pronto Socorro infantil do HU durante a noite, ou as intermináveis filas de atendimento. Cursos como a Letras já amargam a falta de professores, depois que a reitoria acabou, numa canetada, com a medida que obrigava a reposição imediata de docentes aposentados ou falecidos (medida que, aliás, foi conquista da importante greve dos estudantes da FFLCH em 2002).

Agora, o atual reitor Marco Antonio Zago anunciou um novo corte orçamentário de R$ 370 milhões de reais. De acordo com o representante dos funcionários no Conselho Universitário, Bruno Gilga, o corte significa na prática o fechamento da USP, já que a quantia é maior do que todo o orçamento - de verbas de ensino, pesquisa e extensão, a gastos com materiais, equipamentos, reformas, treinamentos, passando por uma série de outros itens - de todas as mais de quarenta unidades de ensino de toda a USP, capital e campi do interior, cuja soma chega a outros R$242,5 milhões.

Sem salário para quem defende a universidade

Alckmin e Zago se aliam para passar por cima da lei em sua sanha repressora contra os que lutam contra o desmonte. O reitor da USP determinou o corte de salários dos trabalhadores da universidade em greve, uma completa ilegalidade, conforme denunciado por diversos juristas, e explicamos aqui e aqui. Em sua intransigência, Zago zomba da história greve ao não marcar nenhuma reunião de negociação e, ainda por cima, sair de férias em meio a essa luta contra suas medidas.

A luta segue, com solidariedade operária e novas ações

Mesmo com salários cortados, colocando em jogo o sustento de suas famílias, os trabalhadores da USP seguem firmes na luta, lutando contra essa medida autoritária e mostrando uma impressionante disposição de defender a educação pública.
A próxima ação unificada da greve será o grande ato das três universidades na Avenida Paulistanessa quarta-feira, dia 15, às 11h, em que a mobilização irá para as ruas mostrar suas pautas para a população e colocar uma luta que é em defesa de todos, pois é não apenas pela manutenção da universidade e dos serviços que presta por meio, por exemplo, do HU, mas é também pela democratização de seu acesso, lutando pela implementação imediata de cotas.

Em meio à sua greve os trabalhadores da USP também tem mostrado que a solidariedade operária aos demais setores é parte de sua luta, e manifestaram-se contra o brutalmassacre LGBTfóbico em Orlando, além de estarem organizando uma campanha de arrecadação de cobertores e agasalhos para os moradores de rua, frente às bárbaras mortes deles por frio em decorrência da completa negligência dos governos.




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