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GREVE | Municipários de Cachoeirinha impõe trégua de 60 dias aos ataques da prefeitura

O prefeito de Cachoeirinha Miki Breier (PSB), frente à forte greve dos trabalhadores municipários, propôs adiamento de 60 dias das medidas de austeridade aprovadas em fevereiro. A assembleia da categoria decidirá sobre a proposta, que também obriga a prefeitura a pagar valores retroativos ao mês de março, nos temos das leis anteriores ao pacote do prefeito.

domingo 16 de abril de 2017 | Edição do dia

Na última quinta (13), a comissão de negociação do Sindicato dos Municipários de Cachoeirinha se reuniu com o prefeito de Miki Breier, com mediação do Ministério do Trabalho. Enquanto ocorria a reunião, conduzida pelo Setor de Mediação da Superintendência Regional do Trabalho, centenas de trabalhadores e apoiadores realizavam um ato na Praça da Alfândega. A greve já completava 39 dias. A juventude Faísca esteve no ato entregando arrecadações feitas entre os estudantes da UFRGS em solidariedade aos trabalhadores, que tiveram seu salário cortado pela prefeitura.

A prefeitura propôs uma trégua, com o adiamento de 60 dias na vigência do pacote de austeridade aprovado em fevereiro. A assembleia da categoria, que ocorrerá na próxima terça (18), quando a greve completará 44 dias, decidirá sobre a nova proposta.

Não se pode comemorar a vitória ainda. A prefeitura recuou, mas não sinalizou que revogará definitivamente as medidas contra os trabalhadores. Nestes 60 dias pretende buscar formas de concretizá-las e somente a luta dos municipários e municipárias pode derrubar de fato estes ajustes.

Nós do Esquerda Diário afirmamos desde já que, caso a categoria aprove a manutenção da greve, seguiremos em apoio aos trabalhadores nesta luta. Caso aprove a suspensão da greve, é necessário utilizar tempo de trégua dado pela prefeitura para preparar uma nova batalha em dois meses, e a página estará à disposição das municipárias e municipários para isso.

Veja abaixo a nota completa do SIMCA:

GREVE ENTRA NA SÉTIMA SEMANA
E GOVERNO PROPÕE TRÉGUA

Na última quinta-feira, dia 13/04, cerca de trezentos municipários foram à Porto Alegre para um ato político-cultural na praça da alfândega no 39º dia da greve. Todos concentraram-se em vigília durante toda a tarde até o início da noite enquanto a poucos metros ocorria a reunião de negociação. Subordinada ao Ministério do Trabalho, o Setor de Mediação da Superintendência Regional do Trabalho conduziu a reunião.

Conforme encaminhado pelo Comando de Greve, a comissão de negociação do SIMCA posicionou-se em defesa das contrapropostas de alteração das leis do pacotaço. O governo, no entanto, sugeriu a seguinte proposta que será levada à assembleia da categoria:

  •  Adiamento do início da vigência das leis aprovadas por sessenta dias, a contar da publicação dessa mudança;
  •  Neste período de sessenta dias, ficarão vigentes os termos das leis anteriores, retroagindo ao mês de março de 2017;
  •  A lei do vale alimentação, que já tinha vigência prorrogada por quarenta e cinco dias, caso não haja mudanças pelas negociações, passará a vigorar a partir de 01 de junho de 2017;
  •  Criação de grupo de trabalho, com representantes das partes, através de instrumento legal, que avaliará as condições financeiras do município com objetivo de buscar alternativas que atendam as necessidades financeiras apresentadas pelo governo e o conjunto das reivindicações apresentadas pela categoria;
  •  Definir uma regra de transição para os percentuais da progressão por merecimento e por tempo de serviço;
  •  A compensação dos dias de greve e a forma a ser aplicada será definida em reunião entre as partes na segunda-feira;
  •  A assembleia dos servidores ocorrerá até terça-feira e caso as propostas sejam aprovadas, a greve será encerrada na data da publicação das leis que compõem este acordo.

    A RESISTÊNCIA DA CATEGORIA É DECISIVA NA GREVE

    Essa sexta semana de greve já era avaliada pela categoria como decisiva para o movimento. Nos debates realizados em assembleia, no comando de greve e nas plenárias de mobilização, estava nítido o esgotamento por parte do governo que tentava de todas as formas desmobilizar a categoria. Fazendo uma breve memória da greve, diversas táticas foram utilizadas pelo governo ao longo desses últimos quarenta dias:

    1ª semana de greve: logo no primeiro dia de greve há um factoide na mídia que tenta associar o movimento a um episódio de arrombamento do gabinete do prefeito. Na versão veiculada na mídia, portanto, a greve inicia sob suspeita e já há indícios da tentativa de criminalização que estava por vir. O governo convocou o sindicato para negociação no terceiro e no quinto dia de greve. A comissão do SIMCA sustentou a defesa da revogação do pacote e sugeriu que emergencialmente fossem evitados os efeitos das leis de impacto imediato, no entanto, o governo formalizou proposta no dia 10/03 apenas prometendo compensações no futuro.

    2ª semana de greve: o movimento de greve ganha o apoio da comunidade que se mobiliza e passa a cobrar a responsabilidade diretamente ao prefeito. Na luta é revogada a portaria que reduzia o atendimento na educação infantil. Trabalhadores da saúde aderem massivamente à greve. A mobilização de rua reúne mais de mil manifestantes na Avenida Flores da Cunha. Os 38 dias da vitoriosa greve dos municipários de Florianópolis tem o testemunho de carne e osso diante da categoria. No dia 16 de março o movimento ultrapassa a ponte e oitocentos municipários lotam o Auditório Dante Barone na Assembleia Legislativa na Audiência Pública sobre a retirada de direitos dos servidores públicos municipais de Cachoeirinha.

    3ª semana de greve: As denúncias da audiência pública são entregues no MP. O governo intensifica as medidas de criminalização sobre o movimento de greve. As legítimas manifestações na via pública escrachando vereadores, prefeito e vice, são tratadas pelo governo como atos criminosos. A secretaria de educação, por sua vez, ameaça institucionalmente as escolas e faz chantagem com pedido de listas de grevistas. O movimento de greve responde com força ao assedio moral e ocupa a sede da Secretaria de Educação. A ação direta arranca uma nova negociação com o governo. Porém, na condução da reunião que ocorre dois dias depois, o governo eleva o tom da criminalização e pela voz da Secretaria de Segurança é anunciada a repressão ao movimento.

    4ª semana de greve: Tem início a greve de fome em frente à prefeitura e a mobilização passa a ser por 24h ininterruptas. Enquanto isso, o prefeito almoça com os empresários em busca de apoio. Após as duas últimas semanas de mobilização terem sido praticamente silenciadas pela mídia, desta vez o movimento ganha repercussão estadual. Não contentes com a proporção que tomou a greve, a provocação vinda do governo passa a ser mais ousada: prefeito e secretário de segurança acusam o movimento de greve de vinculação com os arrombamentos na prefeitura e um CC vinculado à secretaria de governança faz provocações aos servidores em greve de fome tentando forjar um conflito. A sessão ordinária na câmara adia a votação do projeto que reduz o vale alimentação após a pressão da categoria. No dia seguinte o comando de greve ocupa o legislativo. No dia 30 de Março a repressão brutal sobre o movimento deixa um saldo de 30 feridos e 3 detidos, registrando a maior covardia da história de Cachoeirinha. No dia 31 de março de 2017, mais de duas mil pessoas tomam a Avenida Flores da Cunha em repúdio ao massacre. Ministério do Trabalho e Ministério Público Estadual acolhem as denúncias da violação dos direitos nessa semana.

    5ª semana de greve: a greve dos municipários de Cachoeirinha chega a sua condição irrenunciável, conforme declaração lida em um mês completado do movimento: http://www.diariocachoeirinha.com.br/_conteudo/2017/04/noticias/regiao/2092803-servidores-divulgam-documento-sobre-a-greve.html
    O governo apela para o corte do ponto para tentar desmobilizar o movimento. A repercussão da greve ganha dimensão nacional com diversas manifestações de apoio que passaram a chegar de todo o país. A denúncia da repressão sobre o movimento de greve chega à comissão de cidadania e direitos humanos da Assembleia Legislativa para que a covardia não fique impune. As mobilizações de rua avançam no plano tático e o acesso à cidade é trancado com a tomada da ponte. Medidas de solidariedade são encaminhadas pela plenária de mobilização para garantir a permanência na luta após o corte do ponto. A análise política coloca o movimento na encruzilhada entre a consagração e a tragédia: http://www.ihu.unisinos.br/566491-a-tragedia-de-saco-e-vanzetti-e-a-greve-dos-municiparios-de-cachoeirinha-licoes-e-fantasmas-ressurgindo.

    6ª semana de greve: a convocação do sindicato já anunciava: “Semana decisiva para a vitória da categoria!” O distrito industrial da cidade amanhece com um piquete grevista em frente ao Centro das Indústrias de Cachoeirinha para dar o recado aos patrões que arrotavam com o prefeito o apoio ao ajuste. Nas primeiras horas da manhã de segunda-feira, dia 10/04, o governo convoca o sindicato para uma negociação que ocorre no dia seguinte e o prefeito pela primeira vez comparece na reunião. A expectativa da categoria é frustrada quando desrespeitosamente é apresentada a mesma proposta rejeitada há um mês pela categoria no dia 10/03. A comissão de negociação do SIMCA se retira e é referendada pela categoria a posição de voltar a negociar somente com a intermediação que ocorreria na quinta. Nas ruas é dada a resposta com uma forte mobilização que mais uma vez tomava a avenida principal da cidade. No Rio Grande do Sul, a greve ganha a solidariedade da mobilização dos servidores públicos estaduais em luta contra o governo Sartori, e diversas categorias de municipários da região metropolitana colocam o tema na ordem do dia nas assembleias.

    MUNICIPÁRI@S SÃO VITORIOS@S,
    MAS O AJUSTE AINDA NÃO FOI DERROTADO!

    Tod@s somos conscientes da heróica resistência que mulheres e homens municipári@s tem travado contra o injusto ajuste fiscal que ataca os nossos direitos. O golpe nos direitos que corta na nossa carne é o mesmo promovido em todo o país pelos governos e patrões. O sentimento de pertencimento com a greve d@s municipári@s vai além dos mais de 3 mil trabalhadores implicados nessa peleia. O suor e o sangue que vem sendo derramado nessa greve é de toda a classe oprimida. Caberá a assembleia geral dos municipários decidir, muito além de definir se aceita ou não a proposta de trégua, de que temos o dever de assumir a responsabilidade em sustentar a resistência conjuntamente com a classe oprimida deste país contra o golpe nos direitos.
    Sindicato dos Municipários de Cachoeirinha
    15 de Abril de 2017.

    PROGRAMAÇÃO DA SÉTIMA SEMANA DE GREVE

    SEGUNDA, DIA 17/04

    10h Concentração em frente à prefeitura
    12h Almoço coletivo
    13h vigília durante a reunião de negociação sobre a compensação

    TERÇA, DIA 18/04

    8h Concentração em frente à prefeitura
    12h Almoço Coletivo
    13h30min ASSEMBLEIA GERAL DA CATEGORIA na EMEF Jardim do Bosque
    18h Sessão da Câmara de Vereadores




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