Apesar das férias de verão, milhares de estudantes saíram nesta terça-feira às ruas da capital da Argélia, de maneira tão numerosa quanto há algumas semanas atrás. A multidão segue pedindo a queda do velho regime.
quinta-feira 22 de agosto de 2019 | Edição do dia
Milhares de estudantes saíram nesta terça nas ruas de Argel, capital da Argélia, pela 26a terça-feira consecutiva para manifestarem contra o regime atual e as negociações da Instância de Diálogo Nacional, que tenta buscar uma saída para a crise política e social que vive o país há seis meses.
Apesar das férias estudantis, o protesto estava mais cheio do que nas semanas anteriores e contou com o apoio de muitos cidadãos que se uniram ao longo da manifestação, realizada sob um aparato policial muito menor do que em outras ocasiões.
Como aponta o jornalista Khaled Drareni em sua conta no Twitter, "Esta terça-feira, 20 de agosto de 2019, é um ponto de inflexão. As mobilizações estudantis foram mais numerosas que as das terças anteriores e centenas de pessoas se uniram à marcha cantando as mesmas consignas. Os estudantes mostraram novamente que são a locomotiva da Revolução 22/2 (em relação à data que as mobilizações começaram)"
Ce mardi 20 août 2019 est un tournant
Les étudiants étaient plus nombreux que les mardis précédents, des centaines d’autres citoyens ont rejoint le cortège scandant les mêmes slogans
Les étudiants ont encore prouvé qu’ils étaient la locomotive de la Révolution du 22/2#Algerie pic.twitter.com/fk6aiye2qX— Khaled Drareni (@khaleddrareni) August 20, 2019
Os manifestantes levaram cartazes contra o governo interino de Abdelkader Bensalah e Karim Younes, coordenador da Instância, sob o lema "Queremos um presidente eleito pelo povo e não pelos Emirados Árabes e pela máfia".
Também criticaram a participação da União Geral dos Estudantes Livres (UGEL) em uma reunião com a Instância que ocorreu domingo passado e a acusaram de "legitimar"um processo de diálogo rechaçado pelo movimento de protesto.
Por outro lado, o "Hirak" (movimento de protestos) prometeu fortalecer sua presença a partir de setembro próximo e continuar sua atividade até que se cumpram suas demandas: a saída do atual gabinete e sua substituição por uma administração tecnocrata, a liberação dos detentos e o fim das agressões contra manifestantes.
A Instância de Diálogo foi criada nos finais de julho por Bensalah para abrir uma via de diálogo entre os diferentes atores políticos, a sociedade civil e representantes do "Hirak".
Pouco depois, a equipe de diálogo ameaçou com a suspensão das negociações e, inclusive, com sua dissolução no caso de não cumprir suas reivindicações, qualificadas pelo chefe do Exército e novo homem forte do país, Ahmed Gaid Salah, de "imposições".
Desde o 22 de fevereiro passado, centenas de estudantes argelinos manifestam a cada terça-feira, primeiro contra o quinto mandato do presidente Abdelaziz Bouteflika e, após sua renúncia, contra o velho regime que trata de se manter no poder.
Nesta terça, voltaram a demonstrar que os e as jovens podem se colocar à frente das mobilizações e potencializá-las pedindo a queda de todo o regime, alimentando uma saudável desconfiança dos objetivos da Instância de Diálogo Nacional, que busca desviar os protestos e negociar entre setores do establishment político, econômico e militar um novo Governo, sem tocar no essencial do questionado velho regime.
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