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Patricia GalvãoDiretora do Sintusp e coordenadora da Secretaria de Mulheres. Pão e Rosas Brasil

terça-feira 27 de junho de 2017 | Edição do dia

Causou grande burburinho a notícia de que a protagonista do filme Mulher Maravilha, Gal Gadot, supostamente teria recebido 300 mil dólares para protagonizar o filme, o equivalente à 2% do salário do protagonista do filme Homem de Aço, Henry Cavill. Sucesso de bilheteria, o filme já teria arrecadado mais de meio bilhão de dólares no mundo todo. Embora a notícia não seja confirmada, fontes do site Buzzfeed que inicialmente soltou a notícia desmentiram os valores, o fato é que mesmo em Hollywood as mulheres ganham menos que os homens.

No início do ano, outra atriz israelense, Natalie Portman, vencedora do Oscar de melhor atriz em Cisne Negro, e considerada uma das atrizes mais bem pagas de Hollywood, revelou que ganhou 3 vezes menos que seu colega de filme, Ashton Kutcher por um papel na comédia romântica de 2011 Sexo Sem Compromisso. A disparidade salarial entre os sexos não poupa nem Hollywood.

Apenas a ponta do Iceberg

Se a desigualdade salarial não poupa nem a Mulher Maravilha, no mundo do trabalho ela continua a mostrar sua cara mais cruel. Entre a população mais pobre do mundo 70% são mulheres. Entre os analfabetos a proporção também se mantém. São também as mulheres que estão empregadas nos postos mais precários de trabalho e com os salários mais baixos. No Brasil são a imensa maioria nos serviços de call center e entre terceirizados, sobretudo do asseio.

De acordo com o site de empregos Catho, no Brasil as mulheres ganham menos que os homens em todos os cargos. Nos cargos operacionais a diferença salarial pode chegar à 58%. A média salarial nacional dos homens é de R$2.251,00, enquanto a das mulheres é de R$ 1.762,00. Quando o quesito é gênero e raça a diferença da média salarial entre homens brancos e as mulheres negras chega à 60%.

Reformas e terceirização para aprofundar as desigualdades

As mulheres além de receberem piores salários que os homens ainda estão sujeitas à dupla jornada. Segundo dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE de 2011, as mulheres trabalhadoras, além da jornada de trabalho, cumprem cerca de 21,8 horas a mais de jornada de trabalho somente com o trabalho doméstico em casa. Esse trabalho não remunerado é creditado às mulheres desde muito cedo e não cessa com a aposentadoria. Ou seja, as mulheres que já recebem salários menores que os homens, ainda realizam por toda a vida o trabalho doméstico não remunerado. Trabalham muito mais e ganham muito menos.

As mulheres também são maioria nos setores mais precários. Com a aprovação do PL da Terceirização, a precarização tende a aprofundar ainda mais as desigualdades salariais. Hoje a terceirização atinge principalmente o setor do asseio e conservação. Nestes postos de trabalho estão majoritariamente mulheres negras. Os menores salários e as piores condições de trabalho também estão no asseio. À mulher é creditada historicamente a responsabilidade pelo cuidado da casa, sua limpeza e a educação dos filhos. Não à toa são as atividades mais mal remuneradas, não chegam a ultrapassar o salário mínimo.

A reforma da previdência que quer aumentar o tempo de contribuição e a idade mínima para aposentadoria das mulheres, e para os trabalhadores de conjunto, ignora a dupla jornada das mulheres, nos fazendo trabalhar até morrer. A reforma trabalhista além deixar vulnerais as gestantes e lactantes, permitindo que exerçam suas funções em locais insalubres, flexibiliza as relações de trabalho, facilitando ao patrão explorar seus trabalhadores, favorecendo acordos negociados com o patrão em detrimento de direitos conquistados pelos trabalhadores.

A absurda discrepância salarial entre o super homem e a mulher maravilha no mundo hollywoodiano é só a ponta do iceberg. Embora o machismo não seja invenção do capitalismo, o sistema se aproveita da opressão para melhor explorar os trabalhadores de conjunto. Assim, os baixos salários pago às mulheres ajudam os patrões a pagar menos aos seus trabalhadores e aumentarem seus lucros, no dividindo por gênero e raça. A luta contra a desigualdade salarial e o machismo deve estar de braços dados na luta contra o capitalismo.




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