×

Mourão é inimigo das mulheres: Ontem seus heróis nos assassinavam, hoje querem que trabalhemos até morrer

Em entrevista ao jornal O Globo, o vice-presidente Hamilton Mourão abriu uma nova polêmica com sua opinião sobre o aborto. A enxurrada de reprovações dos fundamentalistas e a própria reação inacreditavelmente entusiasta por parte da imprensa progressista fortalecem uma ideia de que o General seria uma “voz moderada” dentro do governo Bolsonaro. O que de fato significa a opinião de Mourão sobre o aborto, sua postura e ações neste primeiro mês de mandato, além do legado que defende da brutal Ditadura Militar são como rachaduras em sua “máscara democrática”.

terça-feira 5 de fevereiro de 2019 | Edição do dia

Na última sexta, 1º, foi publicada uma parte da entrevista concedida pelo vice-presidente Mourão ao O Globo, onde já desde o título há uma sugestão de que o militar fosse um defensor de que o aborto seja uma opção livre da mulher [https://oglobo.globo.com/brasil/mourao-defende-que-aborto-seja-uma-opcao-da-mulher-23419002]. No entanto, um olhar atento ao que de fato foi dito e um breve resgate do que significou a herança da Ditadura Militar defendida pelo General mostra que este é um inimigo declarado das mulheres e dos direitos democráticos mais elementares.

Mourão não é a favor do direito ao aborto

Na entrevista, Mourão, com muitos dedos, fala sobre casos específicos onde ocorre estupro ou que quando as mulheres não tivessem condições de manter o filho “talvez” aí pudesse ter liberdade de escolher, e acrescentou ainda que aquela era sua opinião como “cidadão” e não como governo. Enquanto isso, as figuras reacionárias do bolsonarismo, como a ministra Damares Alves, vieram propagandeando neste primeiro mês de governo a tentativa de retroceder mesmo na já limitada lei que permite à mulher realizar aborto em caso de estupro, de anencefalia do feto ou de risco para a mãe, além de declarar que as mulheres devem reconhecer os estupradores como pais de seus filhos [http://www.esquerdadiario.com.br/Damares-quer-obrigar-mulheres-a-terem-filhos-frutos-de-estupro-com-Estatuto-do-Nascituro ]. Mas esses discursos que parecem divergir possuem uma essência comum: no que diz respeito ao livre direito ao aborto, Mourão, Bolsonaro, Damares e toda a corja que sustenta o governo, mantém a grave situação de milhares de mulheres mortas anualmente por abortos clandestinos, devido a sua criminalização e ilegalidade. Os matizes que apresentam não significam um compromisso com a vida das mulheres e o direito de decidirmos sobre nossos próprios corpos, como ficou evidente durante a Audiência Pública de discussão sobre o aborto via ADPF 442 em agosto do ano passado, quando sequer a descriminalização dessa prática foi aceita, ou seja, reafirmaram que as mulheres seguirão morrendo e as que sobreviverem aos procedimentos clandestinos poderão ser presas.

Os heróis de Mourão: perseguição, tortura e assassinatos de mulheres

Numa entrevista ao Globo News, durante a campanha eleitoral, Hamilton Mourão foi questionado a respeito das afirmações de Bolsonaro de que o Coronel Brilhante Ustra seria o seu “herói”, considerando o histórico de brutal torturador deste. Na ocasião, Mourão com sua simpatia por Ustra e defesa duma memória honrosa sobre a Ditadura, disse que “heróis matam”. E esta não é uma frase solta, ela tem um conteúdo consciente e uma defesa do papel assassino que os militares empenharam contra os movimentos sociais, os partidos revolucionários e todos aqueles que não se submetiam aos seus valores ultra-conservadores. Aos que diante da suposta defesa do aborto feita pelo vice-presidente, e da intencionada narrativa de que este é moderado, cabe relembrar que em especial às mulheres, esses chamados heróis tiveram prazer em esbanjar sua misoginia, realizaram os mais bárbaros atos de violência e ataque moral, assim como quiseram impor pela força o impedimento da decisão que estas tomaram de serem ativistas que se enfrentaram com o regime.

Muitas pesquisas realizadas nas grandes universidades, do país e de fora, assim como investigações feitas pela Comissão da Verdade (CV) mostram como as mulheres tiveram um tratamento em muitos casos mais violentos ou psicológica e moralmente mais degradantes devido ao gênero, que foi tido como uma via a mais de impor as torturas. São diversos os relatos de ex-presas políticas que conseguiram sobreviver. Inúmeros casos de estupros, espancamentos, inclusive de mulheres grávidas, abortos forçados ou partos antecipados de cesáreas a sangue frio, obrigação de que estivessem sempre nuas, negação de absorventes nos períodos menstruais, tiros nos seios, choques na vagina e obrigação de que os filhos vissem suas mães serem torturadas são alguns dos muitos mais atos que os heróis de Mourão e Bolsonaro praticaram e dos quais seguem impunes, graças a lei da Anistia.

São fatos odiosos e repugnantes, que marcam com sangue a nossa história e não podem seguir sendo exaltados. Ustra, defendido por Mourão e que recebe homenagens e estampa as roupas dos Bolsonaros, foi um reconhecido comandante dos torturadores, fez escola e ajudou a institucionalizar essa prática nos anos de maior recrudescimento da Ditadura, a partir das experiências da Operação Bandeirantes (Oban) até a criação do Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI). Dos mais de 500 mortos pelas mãos da Ditadura que foram já apontados pela CV, mais de 300 passaram diretamente pela chefia de Ustra, sendo que muitos estão ainda sem identificação e reconhecimento de seus restos mortais porque foram enterrados clandestinamente em valas como a de Perus, junto aos demais marginalizados e vítimas da miséria social.

Ustra é o ditador símbolo do que há de mais podre, mas também da Inteligência Militar anti-comunista, já que esteve ligado ao trabalhos especiais que mapeavam e buscavam liquidar distintas organizações revolucionárias de variadas tendências políticas. Esta é a mensagem de Mourão e do clã Bolsonaro, assim como dos defensores abertos da Ditadura que ganham terreno nos espaços que buscam decidir sobre nossas vidas. Nesse sentido é sintomática e gritante a medida de maior controle e repressão que Mourão aprovou, de restrição da Lei de Acesso à Informação, enquanto gozava de sua interinidade na ida de Bolsonaro a Davos. Agora não só o presidente, vice e ministros poderão decidir a respeito do sigilo de feitos do governo, mas uma enorme gama de assessores diretos, que atualmente é composta por muitos militares. Este é um passo a mais no autoritarismo e bonapartismo que está na direção do país, como o expresso pelo Judiciário que garantiu a eleição de Bolsonaro com várias manobras e impedindo o direito elementar de se decidir em quem votar.

Mourão e Bolsonaro estão unidos para que trabalhemos até morrer

Os matizes e disputas que possam se desenvolver ainda entre as diferentes alas do governo se contém quando o assunto é a Reforma da Previdência. Mais que isso, o discurso pseudo-moderado de Mourão serve para conter tensões e cooperar para esse grande objetivo. E nisto estão juntos também o ultra-neoliberal Paulo Guedes e Sérgio Moro. O tema ganhou maior destaque agora que está para chegar no Congresso mais uma vez, após derrota que os trabalhadores impuseram a Temer. E a grande questão é que os capitalistas têm pressa e ameaçam a sobrevivência de Bolsonaro no poder caso não passe esse ataque brutal, estão atentos sobretudo os imperialistas que deram suporte às medidas da Lava-Jato e do Judiciário para realizar o golpe institucional e, em tempos de crise, assegurar seus lucros e saques via Dívida Pública.

O Mourão “moderado” não é aliado das mulheres, nem nos direitos democráticos e nem nos direitos trabalhistas. Cabe ainda observar que na proposta debatida, onde aos trabalhadores querem impor a miséria e estender o trabalho até uma idade quase inalcançável, está reservado um ataque especial às mulheres, já que esta idade mínima é igualada à dos homens, desconsiderando as duplas e triplas jornadas [http://www.esquerdadiario.com.br/Trabalhar-ate-morrer-equipe-de-Bolsonaro-quer-igualar-idade-minima-para-mulheres-e-homens ]. Mas nós mulheres não podemos aceitar estes ataques e muito menos confiar que qualquer saída para nossos direitos virá deste governo reacionário em suas múltiplas faces. Na ausência de respostas diante do brutal assassinato de Marielle Franco que está para completar um ano podemos ver qual o lugar este governo reserva às mulheres e ativistas, eles estão com o setor mais degenerado da política e forças repressivas como os milicianos apontados como responsáveis por este crime. Devemos nos organizar nos nossos locais de trabalho, escolas e universidades e preparar junto aos nossos companheiros nossa luta ativa. Um primeiro passo é a construção de uma grande manifestação nacional neste 8 de março, onde sejamos uma voz contra o reacionário governo Bolsonaro e um obstáculo aos seus planos de nos fazer trabalhar até morrer.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias