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CULTURA | Morre David Corrêa, maior vencedor de sambas-enredo da Portela

segunda-feira 11 de maio de 2020 | Edição do dia

Se despede do samba carioca o grande compositor David Corrêa, aos 82 anos, no Hospital Marcílio Dias, no Lins, Zona Norte do Rio. Internado desde sábado (2), após complicações renais, faleceu nesta tarde de domingo (10). Segundo a escola, familiares disseram que atestado de óbito informou que a causa da morte foi Covid-19.

O compositor foi maior vencedor de sambas-enredo da Portela, respirando a alegria pueril e a inspiração fascinante que é o carnaval, como cantou no samba-enredo em 1973, "Pasárgada, o amigo do rei":

"[...] Senti palpitar meu coração

Na passarela,
Um reino surgia
Quanta alegria
Desembarquei feliz
Tudo era fascinante
Nesse mundo pequenino
Até relembrei os dias
Do meu tempo de menino

Nas brincadeiras de roda
Rodei pelo mundo afora[...]"

Em 1975, Silvinho da Portela e Clara Nunes no carro de som, defenderam o samba "Macunaíma" com muito fôlego e dedicação, auxiliados por Candeia e pelo próprio compositor David Correa. Composição que carrega uma forte manifestação com olhar crítico, o retrato do Brasil, baseado na obra de Mário de Andrade, importante autor do Modernismo brasileiro, aliás, seu fundador, poeta e romancista brasileiro. Fechando o samba e o espetáculo na avenida com o vislumbre de escapar da realidade sistêmica, que no Brasil, injusta, marcada pela escravidão e suas consequências, para a infinitude de um mundo outro como a beleza do espaço:

"Vou-me embora, vou-me embora
Eu aqui volto mais não
Vou morar no infinito
E virar constelação"

Além da Portela, o compositor quebrou a tradição e compôs para outras escolas, sendo autor em outras agremiações como Mangueira, Salgueiro, Estácio e Imperatriz. Cantores como Elza Soares, Almir Guineto, Maria Bethânia, Reinaldo e outros muitos gravaram suas canções.

Foto: David Corrêa (à dir.) com Clara Nunes e Candeia no desfile da Portela de 1975 – Reprodução/gresportela.org.br

A perda é incomensurável para a cultura carioca e brasileira. Apesar do incerto resultado do atestado de óbito do compositor, é mais um caso que escancara o cenário de descaso dos governos, em meio a pandemia, com o desmonte da saúde pública que afeta profundamente a vida dos trabalhadores e da população pobre. Como se não bastasse a dor dos familiares e amigos, precisam velar seus queridos às cegas de não saber o real motivo da morte, num contexto onde não se tem testes massivos, onde não se construiu leitos de forma a impedir o colapso das UTIs, não aumentou o número de respiradores do estado de forma qualitativa enquanto o bolso dos capitalistas transborda em lucros.

O Esquerda Diário se solidariza com a imensa perda para familiares e amigos do compositor David Corrêa.


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