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Alegando que “Essa discussão veio importada de países com viés socialista” o governo reacionário de Bolsonaro através de seu Ministro da Saúde opera a retirada de direitos das mulheres mostrando a cara mais misógina dessa extrema direita.

quarta-feira 8 de maio de 2019 | Edição do dia

A luta das mulheres contra a violência é uma luta histórica. Não é diferente quando falamos sobre a maternidade e o direito aos nossos corpos. O machismo é explícito nos hospitais e salas de parto, onde as parturientes são apenas mais um pedaço de carne sem direito a decidir sobre seu corpo e como será o pré e o pós parto.

O termo até então era usado para se referir a procedimentos considerados violentos, praticados durante o parto por parte de profissionais da saúde, como cesáreas feitas sem o consentimento da mãe e o corte entre a vagina e o ânus, para aumentar o canal de parto, chamado de episiotomia. Isso dentre tantas outras barbaridades que não de hoje ocorrem no processo do parto como analgesia sem consentimento da parturiente, proibições das mais absurdas, tais quais as que se referem a mãe se mover ou ter autonomia em escolher posições e formas de parir. Para além, claro, da violência psicológica.

E justo agora, representantes deste governo abjeto que já deixou bem clara sua intenção incansável de promover ainda mais o machismo e perpetuar os enferrujados grilhões do patriarcado, colocam ainda mais as manguinhas de fora.

Abolir o termo sob a esfarrapada e lunática desculpa de se tratar de embate ideológico contra o “socialismo” é mais um dos covardes artifícios utilizados agora pelo Ministério da Saúde, com o claro objetivo de que nós mulheres, estejamos ainda mais subordinadas aos ditames dessa cultura de opressão e exploração.

Os números não mentem: Diversas mulheres foram entrevistadas pela Folha de São Paulo e das que tiveram parto normal, 53,5% sofreram episiotomia quando em menos de 10% dos casos o procedimento seria de fato necessário. Ainda mais repugnante é a manobra de Kristeller, pressão no útero para a saída do bebê, aliás , manobra contra indicada que foi imposta a 36% das mulheres entrevistadas.

Alto também é o índice de mulheres privadas de seu direito legal em ter acompanhante em tempo integral durante o trabalho de parto.

Obviamente o peso que recai sobre as mulheres trabalhadoras, negras e pobres é ainda mais brutal, já que a estas não há sequer a escolha primordial sobre seus corpos e centenas de milhares morrem vítimas de abortos clandestinos também. Nos últimos meses, o aumento de feminicidios também toma conta da mídia e ceifa a vida de milhares de mulheres. Claro reflexo dessa política ultra conservadora, que através de suas incansáveis investidas em prol da manutenção do machismo à serviço do capitalismo, tenta a todo custo fazer crer que a vida das mulheres pouco ou nada importa.

Débora Rosa, professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), acredita que a nova ordem pode deixar mulheres mais vulneráveis. “Essa discussão fez muitos médicos repensarem procedimentos para não serem processados. Agora, pode ser que esses profissionais pensem que não haverá punição por violência obstétrica”, afirmou ao “Uol”.

Além disso, a mudança pode dificultar a identificação de crimes. “A mulher corre o risco de processar um hospital público por episiotomia, por exemplo, mas o juiz não considerar violência obstétrica já que o termo, para o ministério, nem existe”, destacou a advogada Ruth Rodrigues, da ONG Nascer Direito, repudiando o despacho.

É uma verdadeira afronta à todas as mulheres, mães, filhas e trabalhadoras as palavras do relator Ademar Carlos Augusto: “O que a gente percebe é um movimento orquestrado de algumas instituições de trazer para o médico obstetra a responsabilidade pela situação caótica que está a assistência à gestante”. E a demagogia fétida continua: “Essa discussão veio importada de países com viés socialista”, fazendo clara referência a memorável luta das mulheres na Argentina e na Venezuela.

Ignora o relator e a corja de Bolsonaro que a força das mulheres é imparável, capaz de historicamente, arrancar direitos e sendo sempre um grande motor nas mais diversas batalhas nacionais e internacionais contra o machismo, o patriarcado e o capitalismo.

É com esta moral que cada mãe, cada trabalhadora, cada jovem, negra, trans, ombro a ombro com a classe trabalhadora de conjunto, deve cerrar os punhos e lutar. Em cada casa, em cada local de trabalho e de estudo, mulheres à frente! Contra cada ataque, contra Bolsonaro e sua corja é preciso garantir que não somente o parto seja humanizado, mas que a gestão da saúde seja feita pelos trabalhadores e sob controle popular.

Assim, o momento único que é o parto será de fato livre e escolha da mulher.




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