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Oprah Winfrey recentemente declarou que as pessoas deveriam votar em Clinton mesmo que não gostassem dela. Afinal, “ela não vai para sua casa”. Mas, os policias de Clinton estão nas casas das famílias negras e é justamente por isso que muitos de nós não estão votando nela.

terça-feira 8 de novembro de 2016 | Edição do dia

Para muitos camaradas negros essa tem sido uma eleição difícil para o estômago. Nós temos dois candidatos que nós preferiríamos que não estivessem se elegendo junto com seus partidos. Muitos ícones e líderes afro-americanos hesitaram em defender ambos os candidatos. Ainda sim, um por um, muitos saíram da toca para apoiar a Clinton.

Algumas semanas atrás, no programa de televisão do bispo TD Jakes, Oprah Winfrey declarou apoio a Hillary Clinton para presidência. Ela explicou que não havia realmente “uma escolha” entre os candidatos – dizendo que Hillary é a única alternativa viável. Winfrey então começa a simular um diálogo com alguém que estivesse indeciso em relação ao voto, e que indiscutivelmente tinha o maneirismo de uma mulher negra: “Eu só não sei se eu gosto dela.” E diante disso, a baronesa da mídia responde, “ela não vai pra sua casa.” Ela argumenta: você não precisa gostar da Clinton, você não precisa convidar ela pra sua casa, você só precisa votar nela. Com todo respeito, Sr. Winfrey, Hillary já está nas nossas casas de diversas maneiras.

Se nós voltarmos para 1994 (e nós podemos ir ainda mais), ela era um dos maiores adeptos de seu marido, quando o antigo presidente Bill Clinton assinou o projeto de lei mais criminoso na história: a Lei de Controle de Crimes Violentos de 94. Em 1996 ela rotulou jovens negros como “superpredadores”, “sem consciência ou empatia”, e disse que “nós podemos falar sobre como eles chegaram a esse ponto, mas primeiro nós temos que trazê-los aos nossos calcanhares¹”. Vinte anos depois e não são só as crianças negras mais, mas toda a comunidade negra vem sofrendo punições muito mais duras que seus compatriotas brancos.

O resultado da lei (e as estatísticas falsas e a retórica por trás dela) colocou as instituições judiciais e a nação como um todo em pânico. Não havia correlação entre o aumento de prisões de negros e o declínio do índice de crimes. Michelle Alexander, como professor de Direito e autor do livro “A Nova Lei Jim Crow: Encarceramento em Massa a Era do Daltonismo”, apontou que a lei que a Sra. Clinton apoiou negou o apoio financeiro necessário para que os viciados em drogas pudessem ser recuperados para sociedade. Era um projeto de lei que impedia aqueles com passagens policias de receberem apoio de moradia.

A base lógica da lei era de “ser dura como o crime”. Entretanto, no mesmo ano em que Clintou aprovou a lei, o teórico em crime James Q. Wilson admitiu que “um grande aumento na população carcerária só pode produzir uma redução modesta no índice de crimes.” Esse é o mesmo Wilson que criou a Teoria das Janelas Partidas, que aumentou o policiamento e a centrificação. Ele sabia que o projeto de lei para o crime de Clinton não iria ser endereçada ao crime. Isso é algo que os pesquisadores e teóricos progressistas também vêm dizendo. A lei não funciona, porém já era tarde demais para aqueles que não queriam ouvir.

Para qualquer um que estivesse ouvindo, a Sra. Clinton também mostrou apoio para outro projeto de lei: A Reforma do Bem Estar Social de 1996, conhecida como a Lei de Responsabilidade Pessoal e Oportunidade de Emprego. Em sua biografia, “Living History”, Clinton orgulhosamente se vangloriou pelo apoio a esse projeto de lei, que tirou famílias pobres da rede de segurança que eles dependiam desde o Novo Acordo². A garota propaganda da lei foi Lillie Harden, uma mãe solteira negra de Little Rock, Arkansas, que disse que a lei a ajudou a ir do bem-estar social ao trabalho. De um tablado na Casa Branca, Harden e os políticos viram Clinton assinar o projeto.

Os progressistas veemente se opuseram a lei e levaram alguns funcionários nomeados do escritório de Clinton a renunciar seus cargos quando ela foi aprovada. Em 2002, Harden teve um derrame e não pode pagar por $450 dólares mensais para suas receitas médicas, algo que ela tinha antes do projeto de lei ser aprovado. Depois da sua morte, em 2014, Harden refletiu sobre seu papel na aprovação do projeto, “Não valeu a pena no final.” A história de Harden não é um caso isolado. Muitos outros pela América tiveram serviços negados que uma vez foram acessíveis. Sob a lei, o fundo bem estar social caiu para $54 bilhões de dólares.

Então… vamos olhar novamente para as casas negras que “Hillary” não está indo visitar. Os homens estão sendo rotulados, presos e erroneamente condenados, sendo arrancados de suas casas. Eles são impedidos de estar com suas famílias e pessoas queridas. Quando eles são soltos eles têm dificuldade de conseguir moradia pública e até mesmo de conseguir votar, os homens negros presos formalmente têm tido muitas dificuldades. O resto da família está cada vez mais pobre e se há alguma emergência médica, a rede de segurança não existe mais e seu sustento está prejudicado. Parece que embora Clinton, sem sequer pisar na casa de milhões de negros americanos, deixou uma nítida pegada.

Então a relutância de muitos afro-americanos em votar não é porque ela não sabe fazer o “dab”, ou que ela parece uma completa idiota fazendo o “whipping” e o “nae nae³”. Mas sim porque existem algumas gerações com poder de voto que tiveram a péssima experiência do que a Sra. Clinton é capaz de oferecer para suas casas através da legislação. Clinton negou acesso a educação, acesso a moradia e negou acesso a saúde. Sem nem mencionar sua polícia estrangeira ou seu protocolo em relação a imigração. Nós sabemos o que significa ter um Clinton na Casa Branca.
Bem, e sobre ela sendo o “mau menor”? Um filho do Satanás é um filho do Satanás e o demônio e sua prole não são bem-vindos na minha casa.

Kashema Hutchinson – a escritora deste artigo – está atualmente trabalhando no seu doutorado em Educação Urbana. Seu doutorado foca na atenção e na importância na educação urbana assim como na pedagogia culturalmente sustentável.

Nota do Tradutor:

¹Bring to the heel: Expressão norte-americana que significa disciplinar pelo ato de submissão, ou, literalmente, trazer ao calcanhar.

²The New Deal foi o nome dado a uma série de programas governamentais de 1933 e 1937, do presidente Franklin Roosevelt com o objetivo de recuperar a economia americana da recém crise de 29, A Grande Depressão.

³Dab, Whipping e Nae Nae são danças recentemente populares nos EUA e virais na internet.

Tradução: Eduardo Pinho




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