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INTERNACIONAL | Milhares de pessoas saem as ruas dos Estados Unidos para exigir “muito mais que quinze dólares”

Juan Andrés GallardoBuenos Aires | @juanagallardo1

quinta-feira 12 de novembro de 2015 | 22:28

Junto a demanda pelos US$15, escutou-se nas ruas de várias cidades o grito pelo direito de sindicalização, pela reforma migratória e pelo movimento Black Lives Matter (a vida dos negros importa). A campanha por um salario mínimo de quinze dólares a hora (em inglês fight for 15 ou apenas FF15) iniciou-se há 3 anos, em novembro de 2012, com algumas manifestações isoladas frente as principais cadeias de Fast-Food (redes de lanchonete de comida rápida).

O movimento foi dirigido pelos trabalhadores e trabalhadoras das empresas de Fast-Food, que têm os piores salários e os postos mais precários. Porém nesses últimos anos, esse movimento avançou e se estendeu a nível nacional. Foram realizadas inúmeras manifestações nas cidades mais importantes do país com piquetes, greves e marchas, além de uma serie de protestos sincronizados em todo país, como o ato da última terceira-feira.
Uma campanha que virou nacional.

Os trabalhadores das rede de fast-food se transformaram em um símbolo para todos que trabalham em condições precárias nos EUA. O nível de repercussão foi tal que entrou para o debate nas últimas eleições de meio mandato (eleições realizadas a cada dois anos após as eleições presidenciais), onde alguns estados americanos levaram a votação emendas para conceder aumentos parciais nos salários, que seguindo a média do país paga sete dólares a hora. Isso é, um salário mínimo que, segundo os dados, está a abaixo do valor da cesta básica, além disso considerando que muitos dos empregos são part time (meio período) e o trabalhador nem sequer pode completar uma jornada de 8 horas. Assim como nos últimos anos, o próprio Presidente Barack Obama teve que falar do assunto em público, o impacto a nível nacional se estende também às próximas eleições presidenciais e, como intitula o jornal The Washington Post: “Uma campanha de trabalhadores está mudando o rumo do debate de 2016 para o problema do salário mínimo”. E continua “votem pelo não, o movimento FF15 já mudou o rumo da discussão”. O jornal americano comenta o assunto com preocupação e alarme, expressados na opinião dos republicanos Donald Trump (empresário e apresentado de TV) e Doutor Ben Carson (ambos pré-candidatos), que encabeçam as pesquisas. O jornal também comenta que durante o debate presidencial de terça-feira a noite, Trump e Carson negaram que não contemplariam um aumento salarial. O alerta feito pelo Washington Post é que não se pode especular que os trabalhadores mais precários e aqueles de baixo nível de educação tenham pouco peso nas urnas, já que o debate sobre o salario mínimo se tornou uma questão nacional, transformando-se em um problema político que já estava presente na campanha eleitoral. E cita como exemplo o episódio ocorrido nas redes sociais durante o debate republicano de terça-feira: Um perfil do movimento FF15 na rede social enviou uma mensagem de texto a seus partidários dizendo:

“Notícia de última hora: Donald Trump acaba de dizer que “Os salários já são muito altos”.

A resposta do perfil FF15 a essa citação foi: “Nos vemos em novembro de 2016”.

Foi a partir dessa perspectiva que o debate sobre o aumento salarial foi incluído na pauta por todos os pré-candidatos do partido democrata, já que o setor mais afetado é, majoritariamente, parte de sua base eleitoral ou influencia diretamente nela. O peso das exigências de salario mínimo se deu também a nível local. Em algumas cidades e estados se votou por aumentos parciais de salário. Nesta terça-feira, enquanto acontecia o último ato, o governador do estado de Nova York, Andrew Cuomo, anunciou um aumento progressivo do salario dos funcionários públicos do estado até chegar aos quinze dólares por hora em 2018. O prefeito da cidade de Pittsburgh na Pensilvânia fez um anúncio similar e há alguns meses a cidade de Los Angeles também se pronunciou. Em Seattle, a campanha impulsionada pela conselheira de esquerda, recentemente reelegida, Kshama Sawant, conseguiu convocar eleições para o aumento salarial graduado desde 2014 até 2018. Na maioria dos casos não se trata de um aumento que irá beneficiar todos os trabalhadores (em alguns casos, apenas para funcionários públicos) e muito menos um aumento imediato de US$15 por hora, mas sim um aumento graduado. Essas modificações demonstram a magnitude do problema e a abrangência nacional da campanha.

Muito mais que 15 dólares a hora.
O mais interessante e inovador das manifestações da última terça-feira em todo o país, é que foi possível observar a junção de diferentes reivindicações que foram aparecendo na cena política norte americana no último período. Trate-se de diversos setores que vão desde os imigrantes (latinos e outras nacionalidades) sem documentos reivindicando reformas migratórias, jovens que fizeram parte do movimento Occupy Wall Street que mostrou a desigualdade em relação ao 1% (elite) da população mais rica que governa o país, até os milhares de afrodescendentes, que desde a revolta de Ferguson, colocaram-se de pé contra o racismo impregnado no Estado e suas instituições.

Junto aos cartazes dos atos de terça-feira pedindo um salario mínimo de 15 dólares, também foi possível ver outras demandas como, “somos 99%”, “por uma reforma migratória” ou “Black Lives Matter”. Esta confluência não parece estranha, uma vez que é uma característica marcante da luta por salários mínimos que afeta os setores que formam esses movimentos sociais. Se trata, em sua grande maioria, de jovens que fazem parte da geração dos Millenials (nascidos após a década de 1980); muitos deles são afrodescendentes e latinos e também estão lado a lado com os trabalhadores deslocados das indústrias e que acabaram por trabalhar nos setores de serviços, que é o setor com os salários mais devassados e com as piores condições de trabalho.
Por hora, o contexto parece indicar que a luta pelos US$15 não só se tornou algo importante em todo o país, mas também estendeu sua influencia e suas demandas a nível nacional, incluindo as de outros setores. É um fato interessante a se considerar, pois ele expressa, embora de maneira inicial, a unidade nas ruas, o que poderia ser chamado de "a soma de todos os movimentos". Para os políticos democratas ou republicanos “a soma de todos os medos".

Tradução para Português: Cassius Vinicius J.




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