×

Reproduzimos artigo do renomado intelectual marxista americano publicado na revista Ideas de Izquierda, da Rede Internacional de Diários do Esquerda Diário. O artigo foi publicado originalmente no dia 10 de dezembro.

sexta-feira 20 de janeiro de 2017 | Edição do dia

Finalmente acredito que é possível entender porque estamos tão obcecados com os zumbis. A mortalha esfarrapada, o rangido no mato, as rápidas aparições vistas desde Pocatello até Lake Wobegone, o exército fantasmagórico de admiradores... Fomos advertidos com antecipação de que estava retornando, mas não fomos capazes de prestar atenção. Em vésperas de Natal a “nova” Biblioteca Nixon lançou uma custosa campanha de promoção nos jornais, convidando-nos a “descobrir como segue moldando nosso mundo o legado de Nixon”. Ele era um herói, sustenta o anúncio, que “protegeu o ambiente... terminou com a segregação nas escolas, pôs fim à guerra do Vietnã”. A biblioteca chama a que “compre os ingressos agora”.

Quase sessenta milhões de nossos cidadãos o fizeram. Alguns fizeram fila durante décadas, não saciados pelos anos de Reagan e Bush, esperando por uma revanche que seja mais fria e mais cruel. Outros – policiais, soldados, vice-diretores, garotos de fraternidade, maridos tradicionais – almejam um antiquado tacão de ferro que mantenha a linha para os de cor e as mulheres. Porém, tragicamente muitos, golpeados e desprezados pelas elites democratas e republicanas, simplesmente sentem curiosidade sobre o que há dentro da Caixa de Pandora, ou melhor ainda, da tumba de Nixon. Eventualmente descobrirão, como fizeram os míticos “hard hats” dos anos 70 [uma referência aos capacetes de trabalho usados por numerosos operários industriais; N. de R.], que o nacionalismo branco é uma dose final de veneno para o coração, não Viagra para as chaminés fabris.

Se o trumpismo parece muito empobrecido e áspero para constituir um verdadeiro avatar da coalizão Nixon, convido-os a ler as obras compiladas de Pat Buchanan [assessor da presidência Nixon e aspirante neoconservador para a candidatura republicana à presidência durante os anos 90; N. de R.]. Trabalhou severamente quarenta anos para trazer Nixon novamente à vida – ou melhor, sua própria idealização do Nixon essencial (sem Kissinger) – em uma candidatura presidencial baseada no nativismo, no nacionalismo econômico e no neoisolacionismo. Suas próprias tentativas para a nominação republicana nos anos 90 geraram repetidas faíscas que deu fôlego ao racismo sulista e o antissemitismo do Oriente Médio, mas seu fanatismo acabou sendo muito radioativo para os neoconservadores ao redor da dinastia Bush.

Desde a perspectiva da eleição de 2008, a melancolia de Buchanan pela era de ouro em que escrevia os discursos de Nixon, trabalhando com Daniel Moynihan e Kevin Philips para converter uma incipiente revolta branca em uma “nova maioria republicana”, parecia pouco mais de um febril clamor desde o lugar dos reacionários envelhecidos. Ainda mais obscura – ao menos para qualquer menor de 90 anos – resultava sua incessante invocação do slogan de “América primeiro”; o slogan do movimento isolacionista de 1939-41 que uniu brevemente pacifistas e socialistas, como Normam Thomas, com admiradores abertos do regime nazi, como Charles Lindbergh.

“O que forjou Trump?”, se perguntou o blog de Buchanan o dia anterior da eleição. “Trump não criou as forças que empurraram sua candidatura. Mas as reconheceu, entrou em conexão com elas e liberou uma escavação arqueológica de nacionalismo e populismo que não vai se dissipar de pronto”. O establishment republicano? “A dinastia [Bush] está tão morta como os Romanov”.

Também estão mortos, disse Buchanan, os estandartes tradicionais da democracia. Admite de imediato que Trump mentiu e intimidou em seu caminho até a nominação e agora até a presidência. “’Por que?, se pergunta um establishment alarmado. Por que, apesar de tudo isso, o apoio a Trump se manteve? Por que o povo americano não respondeu como havia feito em outros tempos? A resposta: somos outro país, um país de eles-ou-nós”.

Os “países de eles-ou-nós” são tradicionalmente, supostamente, o solo fértil para o fascismo. A opinião especializada se auto-enganou com respeito à incoerência das propostas de Trump, descartando que fora uma armação séria para uma política. Mas têm sentido e acabam sendo muito perigosas no dialeto da Nixolândia de Buchanan. A resistência necessita ler o original.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias