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TERCEIRIZAÇÃO | Metrô-SP: Trabalhadores da Liderança fazem paralisação parcial contra descontos abusivos

Esquerda Diário vem abrindo espaço para as denúncias dos trabalhadores da empresa terceirizada Liderança, contratada pelo Metrô-SP para fornecer os postos de serviço de bilheteria e venda de créditos de bilhete único. Confira mais um relato de uma trabalhadora sobre processo de mobilização contra os descontos abusivos e por melhores condições de trabalho.

domingo 10 de março de 2019 | Edição do dia

A saída para os descontos abusivos e o desrespeito da empresa com estes trabalhadores é a organização e mobilização.

Durante a última semana os trabalhadores da Liderança cruzaram os braços após descontos indevidos em seus salários. A empresa, que lucra exorbitantemente ao pagar salários precários de 906 reais por operador, se sente no direito de descontar ilegalmente qualquer valor alegado como diferença de caixa do salário do operador, sem comprovação alguma, e registrando os operadores como atendentes, sem pagar nenhum valor de quebra de caixa por lidar com altas quantias em dinheiro, até 9 mil reais por turno por operador.

Já em péssimas condições de trabalho, com gavetas e cadeiras quebradas, focos de barata nas cabines, infiltrações, falta de armários, sem segurança nenhuma ao trabalharem em cabines sem nenhuma blindagem e com portas extremamente simples de arrombar, os operadores se organizaram e realizaram uma paralisação parcial na quarta e quinta feira. Um grupo de funcionários se colocou como comissão representante e realizaram uma reunião com um responsável da empresa, aceitando, nessa reunião, um acordo imposto pelo representante da Liderança que se resumia em aguardar uma resposta oficial da Liderança no dia 12, paralisar parcialmente a venda de bilhetes unitários (realizado pela Liderança nas linhas 2, 4, 5 e 15) e recarga de créditos de bilhete único nas cabines (realizada pela Liderança em todas as linhas) na quarta e quinta-feira. A justificativa dada pela comissão para aceitar a decisão da empresa foi que precisariam estar dentro da legalidade, que unir todos os operadores em prol do pagamento do salário já precário e em defesa de melhores condições de trabalho dependeria de respaldo jurídico.

O sindicato, que teria legitimidade para decretar greve dos trabalhadores da Liderança, em reunião com a comissão também se ausentou de responsabilidade apresentando falsas afirmações a respeito dos direitos dos operadores e simplesmente se limitou a notificar judicialmente a Liderança, ignorando a mobilização e a segurança frente as retaliações dos funcionários pela empresa.

O sindicato afirma que a greve só é efetiva para funcionários públicos, pois os mesmos têm estabilidade. Tomemos o exemplo dos metroviários, que não tem qualquer estabilidade pois são contratados pela CLT, não pelo regime estatutário. Os mesmos realizam greves periodicamente e dão exemplos de luta contra os ataques do governo, que não hesita em precarizar e sucatear o transporte em seu plano de privatizar e gerar lucro para empresas da cúpula de Doria. O motivo da força dessa categoria é a mobilização e organização, a discussão em assembleias para decisões soberanas e legítimas e o envolvimento de todos na política. O sindicato não serve para tomar decisões soberanas em sua diretoria e declarar ou destruir greves ao seu bel prazer, o sindicato deve servir como instrumento de luta para os trabalhadores, sendo que toda a mobilização deve surgir da base, daqueles que são explorados diariamente e sustentam a farra da elite política e empresarial.

Desonestamente, o sindicato colocou que "VR" é a bandeira do cartão no qual os trabalhadores da Liderança recebem o benefício de vale-alimentação, e que, portanto, os mesmos não poderiam cobrar que a empresa pagasse VR. Com tanto tempo de atuação, será que nenhum sindicalista sabe que VR é o benefício de vale-refeição? Como a empresa paga míseros 100 reais de vale alimentação, a maioria dos operadores não consegue se alimentar decentemente, já que o valor é insuficiente para arcar com os custos de uma compra mensal e muito menos daria para realizar refeições em restaurantes durante um mês. Seria muito pedir que o sindicato não mentisse para os trabalhadores sobre uma manobra da empresa para garantir que seus próprios funcionários não consigam sequer se alimentar adequadamente? O sindicato ainda se colocou a favor da passividade dos trabalhadores e aconselhou que esperassem até a decisão final da empresa, dia 12 de março, jogando a última pá de terra sobre a mobilização e dando o aval para que os trabalhadores abandonem a luta e aceitem de bom grado os abusos da Liderança.

O resultado do acordo com a empresa e com o sindicato foi óbvio: dois membros da chamada comissão foram demitidos pela empresa por alegações infundadas, em um dos casos a empresa alegou que um usuário solicitou que a funcionária fosse demitida pois "não tinha troco" para dar ao usuário. A Liderança segue cometendo estes e outros absurdos com seus trabalhadores sem "respaldo legal", sem consideração e sem acordos, tudo em nome do lucro e exploração.

O governo de Bolsonaro está do lado dos empresários e segue a todo vapor tentando aprovar reformas que só aprofundam os abusos aos trabalhadores, depositando seus esforços tentando fazer com que trabalhemos até morrer sem aposentadoria e defendendo o lucro dos empresários com unhas e dentes e mostrando a que veio. Doria no governo estadual não tardou a mostrar serviço defendendo o sucateamento dos serviços públicos, a restrição em realização de concursos e a entrega de empresas públicas aos empresários que o patrocinam.

Os metroviários já demonstraram apoio a mobilização dos trabalhadores da Liderança, defendendo o transporte público e de qualidade, trabalhos dignos e efetivação dos terceirizados com os mesmos salários e direitos, já que claramente sabem realizar os serviços igualmente, mas ganham salários discrepantes.




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