Nesta terça-feira, 7, o jornal “O Globo” divulgou que Rodrigo Janot pediu a prisão dos quatro peemedebistas de grande destaque (Renan, presidente do Senado; Cunha, presidente afastado da Câmara; Jucá, ex-ministro de Temer e Senador; Sarney, ex-presidente) foi pedida pelo procurado-geral. O pedido ocorreu devido às gravações reveladas pela delação premiada de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, e as diversas denúncias contra Cunha por suas contas no exterior.
terça-feira 7 de junho de 2016 | Edição do dia
Antes de ser efetivado, o pedido de prisão ainda deve ser analisado por Teori Zavascki, que é o relator da Lava Jato no STF. As gravações trazidas à tona feitas por Sérgio Machado revelaram alguns detalhes dos bastidores do golpe institucional armado para colocar o golpista Temer na presidência, que incluíam um pacto proposto por Romero Jucá para barrar a Lava Jato, o medo de Sarney da delação de Marcelo Odebrecht e seus acordos com os tucanos para efetivar o golpe, a cumplicidade da mídia, particularmente a Folha e a Globo, em relação ao golpe, as propostas de Renan Calheiros em relação ao golpe e para frear a Lava Jato, entre tantos outros podres dos bastidores dos golpistas.
Quanto a Cunha, não foi preciso nenhuma gravação subitamente desenterrada para revelar o que todos já sabiam sobre as diversas denúncias contra ele, de suas contas ilegais no exterior, suas articulações e manobras para evitar o andamento de seu processo no Conselho de Ética da Câmara, etc. Tudo já era bem conhecido há muitos meses. A procuradoria alega que o afastamento de Cunha da Câmara realizado em 5 de maio não foi suficiente pois ele continuaria atrapalhando o andamento das investigações contra ele, tanto na justiça quanto no Conselho de Ética, do qual um dos membros relatou à procuradoria que estaria sofrendo ameaças por parte de Cunha.
Foi com base nisso que Janot pediu a prisão de todos – e para Sarney, por sua idade avançada (86 anos), a prisão domiciliar com o uso de tornozeleira eletrônica.
As diferentes medidas da Lava Jato e do judiciário para atingir seus fins
Cabe, no entanto, o questionamento sobre os diferentes pesos e medidas que a Lava Jato dá ao andamento dos processos. No caso de Delcídio do Amaral, que era líder do governo no Senado, as denúncias foram expostas rapidamente com o objetivo claro de desgastar o governo petista e torná-lo um alvo mais fácil para o impeachment. O mesmo pode ser dito das operação cinematográfica da condução coercitiva de Lula pela Polícia Federal, ou do vazamento quase instantâneo das gravações de conversas entre Lula e Dilma sobre a manobra de colocar Lula no ministério a fim de tentar impedir o avanço do impeachment. Enfim, tudo o que os mandantes da Lava Jato podiam fazer foi feito, com a maior presteza, para ajudar no andamento do golpe.
Já as denúncias de Cunha foram tratadas com, para usar um eufemismo, grande morosidade pela mesma Lava Jato. As justificativas que hoje Janot dá para a prisão de Cunha hoje são exatamente as mesmas que já estavam aos olhos de todos desde dezembro. As gravações de Sérgio Machado foram guardadas por meses antes de serem finalmente reveladas, um constraste gritante tanto com as de Delcídio como as de Lula e Dilma. Cada passo disso foi calculado pelo judiciário, que quis esperar que Cunha fizesse o trabalho sujo de encaminhar a votação do impeachment na Câmara para, com essa tarefa resolvida, poder ser removido com o propósito de dar um ar de “seriedade” à Lava Jato e tentar convencer a todos que não se tratava de um golpe, mas sim de uma operação para “limpar a corrupção”, como procuram vender. Depois da vergonhosa e escandalosa votação na Câmara, tirar Cunha era o mínimo que podiam fazer para tentar “limpar a cara” do golpe que ajudaram a consolidar.
Resta saber se agora farão o mesmo com Renan Calheiros: tendo ele feito o trabalho sujo do golpe, vão descartá-lo para seguir mostrando uma “cara limpa” para o golpe? Vão esperar a consolidação da votação do impeachment para descartá-lo como fizeram com Cunha?
Disputas no “partido judiciário” pela “melhor condução” do golpe
Conforme já apresentamos, podemos ver que há dentro do judiciário uma disputa, representada entre Mendes e Janot, pela forma como conduzir melhor o golpe. Gilmar Mendes buscava uma solução que garantisse impunidade a todos tucanos e até mesmo para Jucá do PMDB, Janot e outras alas do judiciário o forçaram a aceitar que inquéritos sejam abertos, até mesmo contra tucanos, todos eles, até o momento seguem blindando os tucanos paulistas.
Entre judiciário e a mídia também há disputas: enquanto a mídia está fervorosa por tornar públicas algumas denúncias, o STF quer segurar as informações para revelá-las conforme sua conveniência, e por isso Zavascki ordenou que fossem colocadas em sigilo as gravações de Sérgio Machado (das quais relevou apenas uma parte, justamente a que embasa agora os pedidos de prisão feitos por Janot).
Depois do golpe, PT “bate palmas” para a Lava Jato
Já o PT, que antes denunciava a Lava Jato (corretamente) como uma manobra política dos golpistas para colocar Temer no poder, agora que essa está prendendo políticos do PMDB e avançando contra o PSDB, subitamente silenciou, e mais que isto quer embandeirar-se de gravações e delações em sua própria defesa.
As denúncias de seus blogueiros contra a Lava Jato cessaram, e de repente a Lava Jato deixou de ser parte do golpe. Parece que agora o PT pode dar as mãos para a “esquerda Lava Jato” como Luciana Genro, que desde o começo batia palmas para a operação, dizendo que devemos exigir uma “Lava Jato até o final” e alimentando as ilusões nessas instituições reacionárias que são o judiciário e a polícia federal. Nós seguimos dizendo que não podemos esperar nada das mãos desses cujo interesse é defender esse regime de corruptos e privilegiados, garantir a melhor forma dos patrões despejarem sobre nossas costas a sua crise, e trocar um esquema de corrupção por outros, desta vez mais ligados aos interesses imperialistas.
