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ATUALIDADE | Massacre em Orlando reaviva o debate sobre homofobia e racismo nos EUA

As 50 pessoas assassinadas eram, em sua maioria, homossexuais e latinos. O assassino professava uma forte homofobia. Nas redes sociais, milhões repudiaram o ataque e a homofobia.

terça-feira 14 de junho de 2016 | Edição do dia

Na madrugada do domingo (12), um cidadão estadunidense identificado como Omar Seddique Mateen, irrompeu na boate “Pulse” de Orlando onde acontecia uma festa com o tema do “mês do orgulho”. Ali, o homem de 29 anos matou 50 pessoas e deixou outras 53 feridas – algumas gravemente –, antes de ser abatido por uma bala policial. As redes sociais se encheram de repúdios ao ataque.

O Estado Islâmico (EI) assumiu a autoria da matança, segundo informou a agência de notícias Amaq, ainda que não haja nenhuma prova que o respalde, como o próprio FBI teve que aceitar. Igualmente, horas depois do ataque – cujas vítimas foram em sua maioria latinos LGBT –, as principais figuras da política falaram de um “ato terrorista”. Enquanto isso, o pai do agressor, de origem afegã, confirmou à NBC News que “isto não tem nada a ver com religião” e destacou a homofobia de seu filho Omar, que dois meses atrás teria se enfurecido ao ver dois homens se beijando.

O ocorrido em Orlando é considerado como o maior massacre a tiros da história dos Estados Unidos. Não casualmente, historicamente o segundo maior em quantidade de mortos é o incêndio de outro bar gay em Luisiana durante 1973, que acabou com a vida de 32 pessoas e deixou 15 feridos. Também é preciso assinalar que no mesmo domingo que foi violentado o boliche “Pulse”, um homem foi encontrado em Santa Mônica com explosivos, armas e munições, planejando utilizar, segundo confessou, contra a “marcha do orgulho” de Los Angeles.

Os recentes fatos põem sobre a mesa a discussão em torno do controle de armas, a homofobia e a xenofobia no país, em um momento de crescente polarização social.

Nesta situação, não surpreendem ninguém as afirmações do direitista Donald Trump. O candidato republicano, defensor da Bíblia e famoso por seus comentários contra os imigrantes, muçulmanos, latinos, mulheres e contra o casamento gay, escreveu no Twitter: “Agradeço as felicitações por estar certo sobre o terrorismo islâmico”. Depois repreendeu os democratas: “O que aconteceu em Orlando é só o começo. Nossa liderança é fraca e inefetiva. (…) Devemos ser duros”. Os democratas, por sua vez, compartilham no discurso – assim como nos fatos – a chamada “guerra contra o terrorismo”.

O atual presidente Barack Obama não demorou para referir-se a "um ato de terror e ódio" e assegurou que os serviços de inteligência investigam o massacre como "um ato de terrorismo". Sua candidata para as próximas eleições, Hillary Clinton, seguiu um caminho similar. Em sua conta de Facebook, publicou: “Isto foi um ato de terrorismo. (…) Por agora, podemos dizer certamente que temos que redobrar nossos esforços para defender nosso país destas ameaças aqui e no exterior. Isso quer dizer derrotar redes terroristas internacionais trabalhando com aliados e colaboradores para enfrentá-los onde quer que estejam, confrontando suas tentativas de recrutar pessoas aqui e em todos lugares”.

Por sua vez, Bernie Sanders – cuja candidatura nas internas está chegando a seu fim – foi provavelmente o mais ambíguo, dizendo: “não sabemos se foi um ato de terrorismo, um terrível crime de ódio contra os gays ou o ato de uma pessoa muito doente, mas estendemos nossas sentidas condolências aos familiares”.

Isso não quer dizer que Sanders seja uma alternativa anti-bélica: como senador votou favoravelmente à política exterior norte-americana, respaldando os bombardeios israelenses e a Resolução de Autorização do Uso da Força (ainda que seus partidários indiquem que se opôs a aspectos parciais desta última).

De qualquer maneira, junto à islamofobia e sua política guerrerista, o que Obama, Clinton e Sanders tiveram em comum foi um discurso progressista – envolvidos em uma apertada campanha eleitoral –, a favor dos direitos da comunidade LGBT. “Saibam que há milhões de aliados por todo o país. Eu sou uma delas. Continuaremos lutando por seu direito de viverem livres, abertamente e sem medo”, disse Clinton. Ao mesmo tempo, o presidente e o senador por Vermont, também incluíam este aspecto como eixo de suas declarações, com vídeos e enunciados publicados na internet.

Outro aspecto central do debate aberto por causa do massacre, tem a ver com o uso e controle de armas. Omar Seddique Mateen tinha uma licença para utilizá-las, e se valeu de um rifle AR-15, o mesmo modelo utilizado nos conhecidos tiroteios da escola primária Sandy Hook, em Connecticut, assim como no do cinema de Aurora, Colorado, onde morreram 12 pessoas.

Donald Trump pronunciou-se contra as restrições ao porte de armas. De fato, é o candidato predileto da Associação Nacional do Rifle ou NRA –da qual é membro e onde fez atos da campanha –, segundo afirmou seu porta-voz, Chris Cox. Esta organização tem um forte peso no país e uma poderosa influência no Congresso, por meio de favores econômicos. Somente para dar alguns exemplos, os senadores republicanos Thom Tillis, Paul Ryan e John Boozman, receberam desta associação $2.459.881, $35.000 e $24.618 dólares, respectivamente, segundo declararam em seus rendimentos de campanha.

Clinton aproveitou a ocasião, assim como Obama, para ratificar um dos pontos de suas campanhas, ou seja, que “é preciso evitar que as armas caiam nas mãos dos terroristas, abusadores domésticos e outros criminosos violentos”.

Mas, igual ao Partido Republicano, os democratas se beneficiam das doações da NRA. Segundo uma pesquisa de 2013 do Washington Post, pelo menos 25 legisladores do partido receberam uma cifra próxima de $75.000 dólares.

Forte repúdio à homofobia e ao racismo

O atual presidente e os três principais candidatos pensam no jogo eleitoral e voltam a levantar a ameaça do “terrorismo” e do Estado Islâmico, cujo desenvolvimento só foi possível pelas intervenções imperialistas no Oriente Médio e pela derrota da Primavera Árabe. Mas não esqueçamos que as 50 pessoas assassinadas eram, em sua grande maioria, homossexuais e latinos, que são os que pagam a crise do capitalismo norte-americano.

Tradutor: Francisco Marques




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