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CRISE NA GRÉCIA | Marcado pela polarização, começa o referendo grego

Em um cenário de grande polarização, marcado pela chantagem imperialista, a crise econômica e o “controle de capitais”, onze milhões de gregos estão convocados às urnas para votar sobre o projeto de acordo com a Troika. Siga o desenvolvimento da eleição durante toda a jornada pelo Esquerda Diário.

domingo 5 de julho de 2015 | 13:24

Um total de 10.837.118 gregos foram convocados às urnas neste domingo no referendo sobre a aceitação ou a rejeição das medidas propostas pelos credores em troca do desembolso do resgate.

Os colégios eleitorais abriram à 1h (horário de Brasília) e fecharão 12 horas depois.

Os primeiros resultados serão conhecidos entre as oito e as nove horas locais (14h e 15h em Brasília), segundo informou o Ministério do Interior do país.

A pergunta da consulta é a seguinte: "Temos que aceitar o projeto de acordo que foi apresentado pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional no Eurogrupo de 25/06/2015, que se compõe de duas partes e que constituem sua única proposta?".

Após esta questão, a cédula esclarece que as duas partes constam de um primeiro documento intitulado "Reforms for the completion of the Current Program and Beyond" («Reformas para a finalização do programa atual e além") e um segundo chamado «Preliminary Debt sustainability analysis» (Análise preliminar da sustentabilidade da dívida).

A particularidade deste referendo é que ele é realizado no meio de um feriado bancário, pois a Grécia completa o sétimo dia com os bancos fechados.
O presidente do parlamento Europeu, Martin Schulz, acusou neste domingo o governo grego de adotar uma postura de "tudo ou nada" em sua negociações com as instituições credoras.

Em entrevista à emissora "Deutschlandfunk", Schulz disse ter ficado surpreso com essa postura "ideológica" de "100% de nada é mais que 1% de alguma coisa e quem aceitar 1% de algo é um traidor".

Segundo Schulz, que participou da campanha reacionária de terror ao povo grego pelo voto no “sim” esta semana, o presidente da CE, Jean-Claude Juncker, "fez mais concessões à Grécia do que outros estavam dispostos no Eurogrupo" e isso tem que ser dito, acrescentou, "para evitar que em Atenas se crie o mito que ’esses não se movimentaram nada’".

O referendo ocorre em um contexto de bancos fechados e ameaças da Troika sobre a catástrofe financeira se ganha o “Não”. Segundo as enquetes, o referendo está muito apertado e um resultado polarizado poderia abrir um panorama incerto sobre a continuidade das negociações do governo grego com os organismos internacionais.

A população grega está dividida sobre a aceitação da oferta dos credores, eu o primeiro ministro Alexis Tsipras qualificou de “humilhação” e que insistiu que fosse rechaçada. O mandatário manifestou que hoje o povo toma em suas mãos os destinos do país e, depois de emitir seu voto na mesa eleitoral do bairro popular de Kipseli em Atenas, declarou “A vontade muitos podem ignorar. A vontade do povo, ninguém pode.”

Em um marco de crescentes ameaças e chantagens, uma vez mais, os investidores e diretivos de bancos centrais europeus assinalaram que um rechaço ao plano de resgate situaria a Grécia em uma via de saída da eurozona, desatando uma desestabilização da economia mundial e dos mercados financeiros.

Quatro sondagens de opinião publicadas na sexta-feira revelaram que a opção “Sim” leva pequena vantagem sobre o “Não”. Não obstante, uma quinta enquete situa a opção “Não” à cabeça com uma diferença de 0,5 ponto percentual.

Com um limite de 60 euros imposto aos saques bancários, grupos de aposentados se reúnem nas portas dos bancos para pedir suas pensões, somente para sair com as mãos vazias e seus rostos cheios de lágrimas. Esta imagem é um dramático símbolo da catástrofe financeira que vive o país na última década.

Alguns gregos, aterrorizados ante a incerteza econômica do país, manifestaram votar a favor da proposta. É o caso de Sarafianos Giorgos, um professor de 60 anos e residente em Atenas que declarou: “Há uma atmosfera de medo. É possível senti-la”.

Entretanto, inclusive aqueles que estão a favor do “Sim” coincidem em que o país heleno enfrenta um acordo desfavorável, mas consideram que a alternativa de um colapso dos bancos e um retorno ao dracma seria pior.

Entre os que defendem a opção “Não” ao aumento de impostos e um maior corte de pensões em troca de mais empréstimos afirmam que a Grécia não pode sofrer mais austeridade, que deixou sem emprego uma de cada quatro pessoas e que a União Europeia está chantageando seu país.

Tenekidou Ermioni, uma professora de 54 anos que respalda o “Não” declarou: “Como mulher grega, sinto vergonha pelos que votarão ‘Sim’ por medo de sair do euro. Estão nos exigindo que aceitemos uma escravidão sem fim. Me sinto ofendida.”

Se ganha o “Sim” ao “resgate”, especula-se sobre a renúncia tanto de Tsipras quanto de Varoufakis, abrindo um novo capítulo de incerteza enquanto os partidos políticos tratam de estabelecer um Governo de unidade nacional que mantenha as negociações com os credores até que se realizem as eleições.

Seja qual for o resultado da consulta, a população grega enfrentará mais agitação política e financeira nas próximas semanas e dias.




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