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RACISMO CONTRA RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA | Manifesto denuncia racismo de militares que invadiram terreiros de Candomblé atrás de foragido

Representantes de religiões de matriz africana em Goiás denunciam em um Manifesto e nas redes sociais contra a violência e a invasão de pelo menos 10 terreiros por militares desde que Lásaro Barbosa, suspeito de cometer crimes e assassinatos, passou a estar foragido.

segunda-feira 21 de junho de 2021 | Edição do dia

Imagem divulgada pela polícia

O Manifesto é assinado por 12 entidades e representantes de religiões de matriz africana, denunciando o racismo sofrido e violência com que seus terreiros foram invadidos atrás de Lázaro Barbosa, suspeito de cometer assassinatos em série em Goiás. Militares e policiais invadiram terreiros por conta de uma suposta vinculação do assassino em serie às religiões de matriz africana, se os terreiros estivessem escondendo o foragido.

Manifesto:

“As autoridades afro tradicionais e organizações representativas dos povos tradicionais de Matriz Africana, abaixo assinadas, vêm a público manifestar seu repúdio aos violentos ataques racistas praticados contra as casas de matrizes africanas na Região de Águas Lindas, Girassol, Cocalzinho e Edilândia em Goiás, na tentativa de nos vincular ao foragido conhecido como Lázaro e aos crimes a ele atribuído.

Consideramos intoleráveis as invasões e abordagens policiais truculentas injustificadas, bem como a campanha difamatória propagada por diversos veículos de comunicação.

Afirmamos veementemente que nossas tradições não têm relação com atos criminosos, e, mesmo que fossem praticados por alguma pessoa que pertencesse a uma tradição afro, não nos vincularia de maneira coletiva a atos e ações criminosas e desumanas. Estes atos devem ser sempre atribuídos pela lei à pessoa civil.

Entretanto, estamos sendo atacados de maneira vil e racista sob o falso pretexto de estarmos servindo de abrigo ao foragido.

São graves os relatos de depredação dos nossos territórios mediante intimidação e agressões físicas.

As imagens dos alegados “rituais satânicos” que estão sendo divulgados pela mídia foram produzidas pela própria polícia durante uma invasão e quebra das portas de uma de nossas casas.

O que de fato estas imagens retratam são elementos sagrados de nossas divindades, especificamente ligadas ao culto ao Orixá Exu e aos exus guardiões de Umbanda. Estes apetrechos nunca pertenceram ao procurado e nem tampouco guardam relação com o satanismo, referência que não faz parte da cosmogonia e mitologia afro.

Trata-se de um vilipêndio ao nosso culto e aos nossos valores civilizatórios, sendo, inclusive registrado o Boletim de Ocorrência nº 19925673, Estado de Goiás, Secretaria de Segurança Pública, em 18/06/2021.”

A polícia está utilizando imagens de terreiros invadidos que tiveram seus objetos sagrados depredados como se fossem da casa de Lásaro. Pai André garante que essas imagens vinculadas ao assassino na realidade são do terreiro comandado por ele, justamente quando seu terreiro foi invadido, sofrendo agressões físicas, verbais e quebrando objetos, como ele mesmo denuncia: “Eles já chegaram com agressão e palavras. Eu disse eu já tenho idade para ser avô de vocês”, E eles gritando cala a boca, dizendo que vai apanhar.

Repudiamos também essa ação racista que criminaliza e “demoniza” as religiões de matriz africana, isso é parte do racismo estrutural brasileiro que sempre perseguiu as práticas culturais e religiosas da população negra. Além disso, um caso tão absurdo como este que está ocorrendo não pode ser fruto senão dessa conjuntura reacionária que tem figuras asquerosas representantes da bancada da bíblia no congresso, das poderosas igrejas evangélicas e de Bolsonaro e Sérgio Camargo que sempre quando podem destilam seu ódio contra os negros e suas manifestações culturais.

A associação da prática de assassinatos em serie ou crimes bárbaros é fruto unicamente do racismo e do capitalismo. Apenas num sistema como este baseado na exploração e que lucra rios de dinheiro com suor do trabalho de milhões de negros e imigrantes para condenar e propagar uma ideologia racista de que as religiões de matriz africana originalmente praticada por negros africanos e hoje por milhares de trabalhadores se identificam com casos bárbaros de assassinato e “magia negra”. Esse tipo de ideologia é apoiada fortemente por crápulas da política como Marcelo Crivella e todos aqueles políticos que tem sua base eleitoral nas igrejas evangélicas, que ajudam a propagar não apenas o racismo contra as religiões de matriz africana, mas também a lgbtfobia e misoginia. Defendemos a liberdade de cada trabalhador em ter sua religião e contra as invasões e perseguição que os terreiros de candomblé em Goiás vem sofrendo.

Assinam o Manifesto:

Tata Ngunzetala – Tumba Nzo Mona Nzambi

Pai André de Yemanjá – Terreiro Estrada da Vida

Babá Eduardo Fomo de Omolu, Ilê Asé Esin Fadaká

Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais de matriz Africana – FONSANPOTMA

Babá Dídio de Ogum – Axé Imùná

Ilê Axé Odé Erinlé - Pai Ricardo César de Oxóssi

Baba Obalajô – Ilê Asé Egbé Alááfin Oyo

Mãe Abadia de Ogum – Axé Ogum Onilè Dubo

Iya Monna Janaina – Ilê Axé Morada

Iyalorisá Ana Paula Ti Osún - Centro de Cultura e Arte Axé da Casa Amarela- Aladé Osún
Mãe Bel do Ilé Axé Olona

Dirigente Ruan Frederic Neves Ribas - Tenda de Umbanda São Gerônimo e Santa Bárbara, Mãe Fátima – Aldeia dos Encantados




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