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3000 MANIFESTANTES EM BELO HORIZONTE | Manifestação contra o aumento das passagens derrota “terror” da PM e denuncia Pimentel

sábado 15 de agosto de 2015 | 11:58

Foto Tarifa Zero BH

Nesta sexta-feira (14) ocorreu mais uma manifestação contra o aumento das passagens do ônibus em Belo Horizonte. A manifestação contou com mais de 3 mil pessoas e para estar mais uma vez nas ruas, o movimento enfrentou a política de "terror" do Estado de Minas Gerais, iniciada com a repressão desatada pela Polícia Militar no última quarta-fera (12) e continuada com uma série de declarações públicas que tinham o objetivo de desmoralizar e deslegitimar o protesto e as lutas sociais na região.

O governador Pimentel foi apontado como o principal responsável, já que o mesmo defendeu que a ação da PM esteve “dentro do protocolo” , e porque também já vem aplicando esta política de repressão ao protesto e às lutas sociais nas violentas reintegrações contra as ocupações urbanas em luta por moradia na região de Belo Horizonte. O governador petista é a “bola da vez” da crise petista na região, por ser desmascarado como governante para os empresários do transporte e da especulação imobiliária e fundiária, por isso a manifestação desta sexta-feira trazia também um posicionamento contrário à desocupação violenta da Ocupação Izidoro, anunciada pela PM para a próxima semana.

O aumento

Após ser declarado ilegal em 31 de Julho, o aumento de 3,10 para 3,40 foi implementado com autorização da justiça no dia 7 de Agosto. Com isso a cidade de Belo Horizonte se torna uma das cidades com transporte mais caro no Brasil, com um acúmulo de reajuste, de dezembro de 2014 até agora, de 19%, enquanto a inflação do período corresponde a 6,4%.

Praticamente sem metrô e com uma infraestrutura deficiente, os aumentos não trouxeram melhorias no transporte. Muito pelo contrário, com a implementação do sistema “MOVE” os tempos de viagem e a lotação nos ônibus aumentaram. Para cruzar a cidade com o transporte público não se perde menos que três horas em horários com trânsito mais carregado. Alguns trabalhadores passam até 6 horas por dia dentro dos ônibus, o que significa que para ir e voltar tem de fazer uma “jornada extra de trabalho”, não remunerada, em pé, estressados e expostos à violência do trânsito.

O movimento contra o aumento

Passados dois anos de Junho de 2013, quando a luta da juventude contra o aumento das passagens em várias cidades do país levou a jornadas de lutas de milhões de pessoas pelo país e barrou os aumentos em várias cidades, novamente a juventude em Belo Horizonte se levanta. O movimento contra o aumento das passagens vem sendo organizado pelo Movimento Tarifa Zero e pelo Movimento Passe Livre – BH e teve um forte crescimento desde a última manifestação. No dia 12 a manifestação contou com cerca de 1000 manifestantes, saltando para 3000 nesta sexta-feira. A expectativa é que o próximo seja maior.

No entanto, desta vez, fruto de Junho de 2013, o movimento se encontra em um contexto político nacional bem diferente daquele dois anos atrás. Os questionamentos sobre a precariedade da vida em 2013 se transformaram em ondas de greves muitos importantes, dentre elas as greves metalúrgicas na GM em São José dos Campos e as emblemáticas vitórias das greve dos garis do RJ em 2014 e dos trabalhadores da USP no mesmo ano. Passando por todos estes processos de luta o país aprofundou um profundo questionamento ao governo de Dilma e ao PT.

Como o PT cumpria um forte papel de contenção às lutas dos trabalhadores e da juventude, o questionamento que se aprofunda desde 2013 faz com que agora em 2015 a luta contra o aumento se encontre em uma situação política nacional das mais questionadoras e repletas de lutas dispersas pelo país. No Brasil isso se dá mais inclusive do que a maioria dos países da América Latina, que passam de conjunto por processos semelhantes.

O questionamento à Pimentel, que foi eleito com ilusão de setores da própria juventude que esperavam uma diferença entre os governos do PSDB (Anastasia) e o do PT, é uma expressão local desta crise nacional, que vem decretando o fim do freio sobre o movimento de trabalhadores que exercia este partido que vem governando para os ricos nos últimos quatro mandatos presidenciais.

Ainda mais, como a questão do transporte atinge principalmente aos setores mais precarizados e massivos da juventude trabalhadora, tudo indica que, se segue crescendo, então o movimento contra o aumento pode mais uma vez dialogar com as massas e trazer um forte peso à esquerda do PT, mais uma vez protagonizado pela juventude, que pressione para que a saída à esta crise política não seja capitalizado pela oposição de direita do PSDB, PMDB e todos que representam apenas os ricos.

A política

O que poderia parecer um sentido contrário à tendência nacional de crise do PT, rapidamente se tornou uma prova de que esta é profunda e nacional.

No marco político, após o fim da aliança com o PSB de Lacerda e com o PSDB de Aécio (o qual Pimentel se aliou e fortaleceu em 2008), a eleição de Pimentel em 2014 encontrou base para se apoiar, e ser eleito, no funcionalismo público. Setor importante da cidade de Belo Horizonte, já que a mesma é sede administrativa de todo o Estado de Minas Gerais.

No entanto, para além de uma campanha demagógica para com os setores de trabalhadores do funcionalismo público, que estavam insatisfeitos com Anastasia e que travaram muitas lutas em 2014 (e que já estão insatisfeitos novamente), a principal base dos funcionários do Estado para a eleição de Pimentel não foi um setor de trabalhadores, e sim um setor de funcionários do estado que são privilegiados com o poder de preservar de forma violenta o poder dos ricos, dos empresários e dos poderosos da cidade e da região: a Polícia Militar.

A campanha de Pimentel falava de fortalecimento da PM e de 12 mil novos soldados na rua. De imediato após as eleições se percebeu que esta promessa o político cumpriu, com a incorporação de milhares de novos policiais no cotidiano urbano em Belo Horizonte. Mais concursos estão abertos. O salário base de um soldado da PM é de aproximadamente 4 mil reais e pode chegar a mais de 6 mil reais (com premiações por tempo de serviço). Por outro lado, Pimentel diz que vai pagar o piso dos professores estaduais, R$ 1.917,78, apenas em 2018. O centro está repleto de policiais por toda as esquinas e todos sabem que os abusos cometidos pelos mesmos cotidianamente é encoberto pelo governo da mesma forma com que vem sendo a desproporcional violência com que foi tratado o protesto do dia 12.

Em 14/08 a Polícia Militar declarou que a manifestação de domingo (16), organizada pela direita seriam permitido o fechamento das ruas, porque os manifestantes de domingo eram “distintos”. Vindo de uma instituição racista e a serviço dos ricos como a PM de Minas Gerais, não poderia se esperar algo diferente.

Assim como no país o governo Pimentel deixa claro que a política de fortalecimento da PM em MG faz, assim como faz o PT em todo o país, que seja este o partido que fortalece a direita. Esta é a razão de sua crise e da perda de confiança dos trabalhadores neste partido.

“A expectativa é de que o próximo ato traga uma luta renovada”

Em entrevista ao Esquerda Diário, Francisco Marques, membro do Centro Acadêmico de Filosofia da UFMG (CAFCA) que esteve presente em Junho de 2013, que participou e organizou através desta entidade estudantil diversas manifestações contra o aumento das passagens em Belo Horizonte no ano de 2014 disse que “esperamos uma luta renovada em 2015. Temos confiança de que a luta por impedir o aumento vai levar a aparecer novas alternativas políticas à esquerda do PT para a juventude de Belo Horizonte e região metropolitana”. Continuou, “nós participamos com a perspectiva de nos ligar e lutar ao lado os trabalhadores, que são os que mais sofrem, e que são os que mais conhecem o transporte público. As deficiências do transporte e as necessidades do povo pobre que utiliza ’busão’ todo dia. Hoje a gente vê que o que faz que as passagens aumentem e nunca a qualidade, é que nosso dinheiro vai para o bolso dos empresários e dos ricos que controlam o transporte e depositam uma ’fézinha’ no bolso dos governantes que os representam, como Pimentel e Lacerda. Se o transporte estivesse controlado pelas mãos dos trabalhadores, tanto os motoristas e trocadores quanto a população trabalhadora que utiliza cotidinamente, organizada em comitês pelo transporte público, que unificasse estudantes, profissionais do transporte e o povo, não haveria tanto corrupção e interesse pelo lucro. Por isso que tem que tirar das mãos dos empresários, tem que estatizar e por na mão dos trabalhadores e do povo unido".


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