×

NEGOCIATAS PARLAMENTARES | Maluf, logo ele, acusa PT de compra de deputados

Paulo Maluf afirmou que o partido de Dilma está utilizando uma “maneira detestável” de se manter no poder ao tentar comprar o voto contra o impeachment dos parlamentares de seu partido, o PP, com a distribuição de cargos no governo federal.

quarta-feira 6 de abril de 2016 | Edição do dia

Prefeito biônico de São Paulo durante a ditadura, responsável pelo cemitério clandestino de Perus onde foram ocultados cadáveres de dissidentes políticos assassinados pelo regime, acusado e condenado internacionalmente por desvio de verbas e contas ilegais na Suíça, entre tantas outras façanhas na sua carreira política. Assim é Paulo Maluf, deputado federal pelo PP de São Paulo, partido da base aliada do governo de Dilma. Ele é um dos 65 deputados que compõe a comissão especial que analisa o pedido de impeachment da presidente, e declarou, assim que foi composta a comissão, que votaria contrariamente ao impeachment.

Contudo, agora Maluf parece ter mudado de ideia. O deputado afirmou em seu twitter que “o governo do PT está usando uma maneira detestável para se manter no poder, maneira totalmente errada.” e que “a partir de agora me sinto livre para votar de acordo com minha consciência”. A alegação refere-se a oferta de dois ministérios feita pelo PT – o da saúde e o da integração nacional – para impedir a saída do PP da base aliada do governo. O partido conta com a quarta maior bancada na câmara, além de cinco deputados na comissão que analisa o impeachment.

O mesmo Maluf em 2012 negociou o apoio de seu partido à candidatura de Fernando Haddad, do PT, à prefeitura de São Paulo, em troca de cargos no governo petista. A conversa entre Haddad e Maluf foi mediada por Lula. Segundo a Folha de S. Paulo, jornal para o qual Maluf concedeu sua entrevista condenando os métodos de compra de votos contra o impeachment, o deputado trava uma disputa interna com a direção do PP, e afirmou que “se os deputados do partido se elegeram com Dilma, eles tinham a obrigação moral de estar com ela agora.”

O deputado afirmou ainda que “não queria fazer uma injustiça com a presidente, que é uma senhora correta e tem uma vida limpa. Mas agora minha tendência está mudando”. O cinismo de Maluf pode ser apenas para tentar posar de bom moço, mas, dado seu histórico, é bem difícil que seja apenas isso. Como o PP afirmou que decidirá apenas no dia 11, véspera da votação do impeachment, se votará contra ou a favor, o mais provável é que Maluf esteja apenas fazendo bravata para negociar melhores benefícios para apoiar o governo, enquanto também ganha tempo para avaliar se o barco de Dilma não irá afundar e se não vale a pena debandar enquanto é tempo.

Contudo, a bravata despertou a simpatia de outros direitistas célebres, como o colunista Reinaldo Azevedo, que disse em seu blog na Veja que “Chegou a hora de os métodos do PT envergonharem o deputado Paulo Maluf”. A hipocrisia é o que impera nesse regime, e não é exclusividade de Maluf ou de Azevedo: a comissão de impeachment é composta por membros como Fernando Collor, ele mesmo condenado no impeachment de 1992, e que já declarou seu voto contrário ao impeachment de Dilma. Além disso, 8 deputados são réus no STF e, no total, pesam sobre dezenas de parlamentares acusações de diversos tipos, que incluem crimes como corrupção passiva (oito acusados), contas partidárias irregulares (sete acusados), formação de quadrilha (seis acusados), lavagem de dinheiro (cinco acusados) e corrupção ativa (3 acusados).

Logo, notamos que, se Maluf é um dos mais descarados desses corruptos que veste a pele de cordeiro para tentar nos enganar dizendo que quer “limpar a política”, ele, sem dúvida, é apenas uma face mais evidente da podridão que vigora dos pés à cabeça desse regime, e que só podemos limpar com uma resposta vinda dos de baixo, dos que não tem as mãos sujas com esses esquemas.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias