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ARGENTINA | Macri enfrenta sua primeira jornada nacional de luta contra o ajuste

sexta-feira 26 de fevereiro de 2016 | 00:00

Algo estranho acontece com Mauricio Macri
Mauricio Macri, o “presidente empresário” dos argentinos não conseguiu corresponder às expectativas geradas pelo seu governo no campo econômico. Apesar da desvalorização e do surgimento do que na Argentina se apelidou de “Cepo” cambial, a economia não consegue se estabilizar e os “ventos” da economia mundial sopram contra.

O resultado das eleições presidenciais de outubro de 2015 na Argentina se insere no giro a direita da política na região do Cone Sul: os chamados governos “progressistas” ao estilo de Cristina Kirchner (Argentina), Maduro (Venezuela) e Evo Morales (Bolívia), têm sofrido derrotas eleitorais. Já no Brasil, o governo de Dilma Rousseff, que vem aplicando ajustes de carácter neoliberal, sofre um desgaste acelerado pelos escândalos de corrupção e as ameaças da direita de iniciar um impeachment.

A “esperança” macrista estava em poder aproveitar o baixo endividamento herdado do ciclo anterior para inaugurar um novo período de endividamento e reativar a economia instável. Até agora, Macri tem agido de acordo com seu perfil de “governo dos Executivos”, legislando por decreto a favor das corporações e empresários: além da desvalorização e da inflação que rebaixou o salario dos trabalhadores, Macri iniciou um processo de demissão massiva na administração pública, enquanto suprimiu as retenções aos grandes latifundiários da soja; e aplicou um “tarifaço” no fornecimento de luz que, em alguns casos, chega a 900% de aumento. Macri também não tomou nenhuma medida a favor dos setores populares.

Junto com as demissões e suspensões – que segundo os trabalhadores estatais já somam 25 mil -, a ministra da segurança, Patricia Bullrich aprovou o “Protocolo de atuação das forças de segurança do Estado em manifestações públicas”, que reduz as liberdades democráticas conquistadas no passado através da força das manifestações de rua. E o governo está tentando levar essas privações até onde consiga. Porém, essas medidas do governo começam a “cutucar a onça com vara curta."

Algo estranho acontece com Mauricio Macri. A aprovação do "protocolo" despertou a rejeição dos grandes setores da intelectualidade, cultura, direitos humanos e da esquerda. O ministro da educação do novo governo, Esteban Bullrich, responsável por negociar os aumentos salariais para o sindicato dos docente, anunciou um aumento “muito elevado”, que abriria precedente para as negociações salariais do grupo dos trabalhadores sob a contratação coletiva. Às pressas, Macri rejeitou os números, mas teve que recuar diante da ameaça dos sindicatos dos docentes de convocar uma paralisação nacional. Muitos analistas apontam semelhanças do governo de Macri com os primeiros anos do governo do “grande privatizador” argentino, Carlos Menem, que nos anos noventa se aproveitou da hiperinflação dos últimos anos do governo de Raúl Alfonsín, para esmagar as conquistas e as organizações dos trabalhadores através das privatizações. No entanto, naqueles anos a ofensiva neoliberal avançava com força por todo o continente e pelo mundo.

Os efeitos do “final do ciclo” econômico começam a ser sentidos no bolso dos trabalhadores, principalmente dos funcionários públicos que têm sido os primeiros a receberem os golpes do novo governo. Embora a resposta aos ataques do governo não esteja generalizada, a Associação dos Trabalhadores do Estado (ATE), liderada por uma das frações do kirchnerismo, onde há uma ascendência da esquerda, convocou a primeira paralisação nacional para enfrentar o governo nesta quarta-feira. A Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT), principalmente o Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS), participaram dessa ação ativamente.

A esquerda ganha influência na arena nacional argentina
O outro fenômeno eleitoral que surpreendeu argentinos e estrangeiros durante as eleições presidenciais foi a marca de um milhão de votos obtidos para o jovem candidato Nicolás del Caño e Myriam Bregman, ambos do PTS dentro da Frente de Esquerda. Nicolás del Caño ganhou a simpatia da população por sua forte denúncia aos ajustes que viriam, e também porque prometeu aos eleitores que estaria presente nas lutas vindouras, além de se colocar a frente da resistência contra os ataques.

As eleições presidenciais posicionaram a esquerda como ator da cena política nacional, como se observa na cobertura dos grandes meios de comunicação. De tal forma que, diante da “oposição de veludo” dos setores do kirchnerismo que dizem “resistir”, a única oposição política e social que está surgindo no país sul-americano como engrenagem de uma verdadeira resistência combativa contra Macri é a esquerda.

O caminho da resistência
A jornada de luta contra as demissões e a criminalização do protesto social convocada pela ATE, começou na quarta-feira às 7:30 da manhã, com cerca de mil pessoas fechando as avenidas Corrientes e Callao, no centro da capital. A ação foi liderada pelos trabalhadores estatais de diferentes setores que fazem parte da oposição combativa (Agrupação Marrom Classista) da ATE e do Partido dos Trabalhadores Socialistas. Também se juntaram a eles o sindicalismo independente e outras organizações. O bloqueio foi um importante desafio ao protocolo “anti-piquetes” da secretaria de segurança (Patricia Bullrich) e exigiu das direções sindicais estatais o esforço de levar adiante um plano de luta sério que acabe com o problema dos milhares de despedidos pelo Estado. A promessa de campanha de Nicolás del Caño de acompanhar os trabalhadores nas ruas contra as demissões e a contra a repressão foi eficaz, não só por sua figura, mas contando com a presença de deputados e outros grandes nomes da FIT, como Myriam Bregman, Patricio del Corro, Christian Castillo e o dirigente dos metroviários, Claudio Dellecarbonara. Todos membros do PTS.

Se Macri representa o avanço do giro a direita no Cone Sul, o ato de 24 de fevereiro na Argentina - que inclui também a paralisação estatal e uma importante mobilização de 20 mil pessoas na Plaza de Mayo – representa a primeira batalha de resistência dos trabalhadores e da juventude em prol de agregar forças e generalizar uma forte reação contra o ataque. Também é um exemplo regional para os trabalhadores do Brasil, Uruguai, Bolívia e Venezuela que sentirão fortemente os avatares do “fim do ciclo”.

Como parte dessa luta, o Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT) – organização irmã do PTS da Argentina – está combatendo junto aos trabalhadores da fábrica Mabe, e no dia 23 deste mês, protagonizaram um contundente bloqueio na principal estrada da zona industrial na cidade de Campinas, interior do estado de São Paulo. A mobilização aconteceu no dia 23 de fevereiro. Como acontece na Argentina, é preciso “dar a cara a tapa” na linha de frente da resistência com os trabalhadores e isto vem acompanhado de um chamado dinâmico a esquerda e principalmente as direções sindicais para que deixem a trégua e o discurso de “resistir” para agir e arregaçar as mangas para enfrentar o que está por vir. Esses primeiros passos lideram o caminho da resistência a nível regional.

No intuito de acompanhar e servir como engrenagem da resistência ideológica, política, social e de luta de classes a nível regional contra o giro a direita, é que temos a Rede Internacional de Jornais Digitais, o Esquerda Diário. A rede conta com edições em espanhol, português, inglês, francês e alemão.

Tradução de: Cassius Vinicius




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