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ATOS DO DIA 13/3 | Luciana Genro e a esquerda ’lava-jato’

Diana AssunçãoSão Paulo | @dianaassuncaoED

segunda-feira 14 de março de 2016 | 22:07

Chamou atenção no último domingo, pra além dos atos que não foram grandes como a imprensa gostaria, o comentário de Luciana Genro acerca das manifestações. Luciana comentou em seu perfil do Facebook: "Parece que o povo está mais na linha do ’que se vayan todos’. Ainda bem! Se a Lava Jato continuar, e for a fundo mesmo, a casta política não pára em pé". Este comentário festivo de defesa da Operação Lava Jato é acompanhada também do comentário do Deputado Federal Chico Alencar, também do PSOL, onde este diz "que os jatos cheguem longe e fundo!".

Estes dois comentários são suficientes pra um primeiro debate: porque amplos setores da esquerda, em especial as correntes do PSOL, confiam, reivindicam e incentivam uma Operação como a Lava Jato conduzida pela Polícia Federal, pelo Poder Judiciário e por um juiz nada desinteressado como Sérgio Moro?

É impressionante o quanto a esquerda tem entrado no campo daqueles que consideram Sérgio Moro um verdadeiro herói nacional. Em outro depoimento Luciana diz "O Juiz Sérgio Moro disse: ’Há duas alternativas, fazer de conta que não existe, deixar tudo passar ou enfrentar’. Eu defendo que é necessário enfrentar a corrupção, doa a quem doer. Nada pode parar as investigações". Ou seja, Luciana diretamente pede por "mais Lava Jato" neste comentário mostrando que considera ser possível acabar com a corrupção com uma operação como estas.

A ilusão no Judiciário, na Polícia Federal e em figuras como Sérgio Moro mostram a completa adaptação desta corrente ao regime democrático burguês. Como se as cúpulas do judiciário não fizesse parte da casta política, não vivessem com os mesmos privilégios dos deputados, não tivessem interesses ligados ao governo, à oposição e aos banqueiros e empresários. Luciana Genro cita o levante popular argentino, “que se vayan todos”, mas ignora que lá a classe media se aliou, nas ruas, com a juventude e os desempregos, enquanto aqui vão atrás dos juízes e da grande mídia.

Na Argentina se tratou de um levantamento espontâneo frente à crise econômica, onde os manifestantes se enfrentaram com a repressão do Estado em todo o país, houve 30 mortos e a demanda do Fora Todos, ainda que confusa, não era pela via de um fortalecimento de uma figura como Sérgio Moro e o Poder Judiciário e da PF. Ou seja, se aqui há algum elemento de "Fora Todos", não é nada pela esquerda.

Pra debater em especial com a corrente de Luciana Genro, o MES que impulsiona a agrupação Juntos! é preciso remarcar que o programa que vieram levantando frente a situação política nacional buscava por um lado colocar ênfase no "Fora Cunha" e por essa via se aliarem em uma frente permanente com CUT, UNE e outras forças governistas na Frente Povo Sem Medo que até agora não organizou nenhuma luta séria contra os ajustes do governo, já que seu objetivo principal é justamente defender a governabilidade de Dilma frente os ataques da direita. Agora, o MES dá um giro brusco na sua política, se aliando com o PSTU, pra defender uma proposta supostamente democrática como eleições gerais, ou retomando seu apoio verbal a proposta de constituinte exclusiva (e controlada) que o próprio PT chegou a propor depois de junho de 2013. Esta proposta nada mais é do que buscar dar um verniz mais democrático para a saída que a direita quer implementar no país. Em nenhum momento o MES ou o PSOL de conjunto apresentaram nenhuma proposta pra mudar as regras do jogo, apostam apenas na mudança dos "jogadores" e em apresentar Luciana Genro como alternativa.

Este último comentário de Luciana Genro ainda chama a classe média presente nas manifestações de domingo de "povo" dizendo que agora "o povo está querendo um fora todos". Mesma consigna levantada pelo PSTU, que só pode se alinhar com o Fora Dilma da direita uma vez que não se apoia em uma aliança dos trabalhadores com os setores populares e oprimidos, mas sim na lava jato e nas manifestações conservadoras deste domingo. Entretanto, os esforços no âmbito da luta de classes nunca são os mesmos que o MES e Luciana Genro tem no âmbito eleitoral, mostrando que a estratégia desta corrente não passa por mobilização independente dos trabalhadores e da juventude.

Diante desta situação, é necessário uma política verdadeiramente independente. Nenhuma confiança na Operação Lava Jato, Polícia Federal, Sérgio Moro e Poder Judiciário. Nenhuma confiança nos partidos da ordem como PT, PMDB, PSDB e outros. Os trabalhadores e a juventude precisam retomar o caminho de junho, que não tem nada a ver com as manifestações do último domingo, e colocar de pé um forte movimento nacional contra os ajustes e a impunidade dos poderosos, pra impor uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana onde seja possível mudar as regras do jogo, onde os juízes sejam eleitos por sufrágio universal e as decisões judiciais sejam por júri popular. Isso passaria pela abertura de todos os arquivos de corrupção que estão sob comando da atual justiça e da Polícia federal e que seja o povo através desta Constituinte que defina as punições contra corrupção e as medidas para barrar o ajuste e fazer com que sejam os capitalistas a pagar a conta da crise. Uma Constituinte onde se imponha a revogabilidade de todos os mandatos pra que seja a população que decida a permanência ou não de um político caso este não cumpra o mando popular, e também que todos ganhem o salário de uma professora.

Essa é a única política independente que deveria ser impulsionada em todos os locais de trabalho e estudo, exigindo também das centrais sindicais que rompam com o governo e parem sua colaboração na implementação dos ajustes pra organizar a luta em suas bases. Nós do MRT defendemos esta política, ao mesmo tempo, que consideramos que os trabalhadores, fazendo experiência com esta democracia burguesa, deverão avançar para lutar por um governo operário que rompa com a burguesia e a exploração capitalista.




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