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GREVE DOS PROFESSORES DE SP | Debates necessarios sobre a greve de professores estaduais de Sao Paulo

Simone IshibashiRio de Janeiro

terça-feira 2 de junho de 2015 | 00:01

Os professores da rede estadual paulista protagonizaram uma das greves mais longas do último período. Escancarou-se diante os olhos de todo o país as terríveis condições de trabalho a que estamos submetidos, e a absurda precarização da educação pública.

Rompemos o cerco midiático da grande imprensa e denunciamos a superlotação de salas de aulas, as jornadas estafantes e os salários arrochados. Ganhamos a simpatia dos professores em luta nas demais regiões do país, como no Paraná, em que os educadores se levantaram bravamente contra os desmandos do governo do também tucano Beto Richa.

E nós, os professores do MRT que impulsionam junto com independentes a corrente Professores pela Base, propagandeamos essa luta no Esquerda Diário, canal independente de mídia, colocando nas ruas, em meio à greve, uma campanha que exige que todo político ganhe o mesmo que uma professora.

Mas a resposta de Geraldo Alckmin seguiu sendo a mesma: a intransigência. Sem nenhuma consulta ao sindicato dos professores, a Apeoesp, e sem respeitar a lei do funcionalismo, mudou arbitrariamente a nossa data-base de março para julho. Publicou salários dos professores falsamente elevados. Cortou o ponto dos educadores simplesmente por fazerem uso de seu direito de greve. Multou em milhares de reais os professores por fazerem atos em rodovias e proibiu o comando de greve de entrar nas escolas. E segue negando-se a debater o reajuste reivindicado, ou a abrir imediatamente as salas de aulas fechadas. Frente a tudo isso, fica claro que Alckmin é o primeiro responsável pelos ataques à educação. É o principal responsável pelo seu desmonte.

A burocracia sindical petista da Apeoesp faz bravata contra os professores

A direção majoritária do sindicato nas mãos da CUT, com PT e PCdoB à frente, está realizando uma verdadeira bravata contra os professores. Enquanto posa de radical, discursando no carro de som que “não tem arrego”, na verdade entrega a luta. Primeiramente, se negou a dar voz nas assembleias aos comandos de greve, composto pelos professores de base, que carregaram essa greve nas costas. Invocando o estatuto da Apeoesp, negou também a proposta de que representantes dos comandos de greve pudessem fazer parte das negociações com o governo. Ou que essas negociações fossem transmitidas ao vivo. Não preparou um fundo de greve. Numa encenação teatral, colocou membros de sua chapa para se acorrentar em frente à Secretaria da Educação, enquanto fazia vista grossa para os seus conselheiros sindicais que furaram greve. Seguiu seu roteiro de assembleias-comício e atos-procissão, que só servem para cansar os professores.

Agora os professores estão tendo que organizar, muitas vezes sem nenhum apoio das subsedes da Apeoesp, atividades para custear sua existência frente ao corte dos salários. Frente à absurda multa de 300 mil reais que a Justiça impôs contra as manifestações, a Apeoesp na voz de Maria Izabel Noronha simplesmente curva-se, e afirma que “se perder na Justiça paga”. Isso ao invés de buscar apoio da população numa campanha que coloque abertamente que não se pode arcar com esse absurdo, para destinar esse dinheiro aos professores atacados pelo governo.

Ademais, a direção petista desperdiçou a conjuntura aberta pela importante greve dos professores do Paraná, não promovendo uma única ação para ligar nossa luta às demais mobilizações de educadores pelo país. Tampouco exigiu publicamente que os parlamentares do PT fizessem algo pelos professores em greve. Isso porque no que se refere aos ataques à Educação, PT e PSDB não estão em oposição. Não à toa as universidades federais iniciam agora um processo de greves, já que amargam o corte de 9,42 bilhões da educação, ordenado por Dilma.

As oposições também contribuíram para o atual cenário

Quando uma direção sindical se mostra absolutamente incapaz de organizar uma luta séria, a alternativa oferecida pelas oposições assume a relevância de superar a antiga direção. Contudo, o que vimos não foi isso. O PSTU, a Conspiração Socialista, e as correntes do PSOL durante os 80 dias de greve tampouco assumiram para si a defesa de que os comandos de greve dirigissem a nossa luta. Todos eles - com exceção do PCO que escandalosamente atuou de maneira alinhada com a burocracia petista - formalmente reconhecem que o grande ganho dessa greve foi o surgimento de um novo ativismo de base. Porém, na hora de lutar contra a estrutura burocratizada da Apeoesp, ou ceder alguma fala sua nas assembleias para esse novo setor de luta, composto em grande parte por professores em estágio probatório, se negam. E com isso contribuíram para que a greve não se massificasse, já que muitos professores têm, e com razão, uma grande desconfiança em relação à Apeoesp. Esse combate foi dado apenas pelos comandos de greve, nos quais os Professores pela Base interviemos conjuntamente, sem o apoio ativo das demais forças da oposição.
Inclusive o PSTU está adiante da organização do Congresso da Conlutas, que poderia ser uma plataforma para expressar esse novo ativismo dos professores. Poderia ter organizado encontros de base para unir e coordenar os setores em luta, mas não o fez. Sequer anistiou o pagamento da taxa de inscrição das delegações de professores em greve, com corte de ponto. E pior, não lutou com todas as forças para desmascarar nas assembleias a demagogia da burocracia petista, que gritava “não tem arrego” enquanto conselheiros seus furavam a greve. Mudar essa forma de atuação é um imperativo, para que a oposição seja uma referência de uma nova prática política, e não apenas de palavras.

Quais são as tarefas agora

A maior conquista da greve foi o despertar de uma ampla camada de professores, que levantou a cabeça, e mostrou que não tolerará passiva os ataques à educação. A tarefa agora é seguirmos organizados. Devemos exigir que as oposições organizem encontros de base, que reunam os professores que protagonizaram essa luta para debater as lições desses 80 dias de greve, decidir e articular um plano de mobilização. Isso é necessário já que para mudar de fato a educação será necessária uma luta contínua. Esse plano deve ser imposto à Apeoesp, que deve colocar em marcha todas as ações necessárias para arrancar uma negociação sobre os dias parados, e as demais demandas que levantamos. Isso é o mínimo a ser feito nesse momento.




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