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A diva do pop lançou na última sexta feira (18) o clipe da música Till It Happens To You problematizando a questão dos estupros nas universidades. Uma triste realidade na vida de milhares de mulheres mundo a fora, vítimas do machismo estrutural dessa sociedade que se apropria da opressão para manter sua dominação e exploração.

Odete AssisMestranda em Literatura Brasileira na UFMG

terça-feira 22 de setembro de 2015 | 10:23

O novo clipe de Lady Gaga, Till It Happens To You, conta a história de quatro jovens, três mulheres cis e um homem trans que são abusados sexualmente e mostra a dificuldades de superação e esquecimento da cena. Não é só as mulheres cis q sofrem com a cultura do estupro, assim como Gaga demonstra em seu clipe homens e mulheres trans também são vítimas deasa prática abominável. Escancarando por meio de cenas explícitas e muito fortes a cultura do estupro nas universidades.

Feita em co-autoria com Diane Warren, parte da renda arrecadada nas vendas da música será doada para organizações de apoio as vítimas de violência sexual. A canção faz parte da trilha sonora do documentário The Hunting Ground, de Kirby Dick, que faz um recorte dos casos de abusos sexuais ocorridos em campus de universidades nos Estados Unidos e estreou este ano no Festival de Sundance.

O periódico Journal of Adolescent Health publicou uma pesquisa revelando que mais de 18% das estudantes de uma universidade dos Estados Unidos relataram incidentes de estupro ou tentativas de estupro durante seu primeiro ano na instituição e que a agressão sexual em universidades alcançou ’níveis epidêmicos’.

Ano passado, a estudante de artes visuais Emma Sulkowicz, da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, como forma de protesto pelo fato de seu estuprador ainda permanecer na universidade, começou a carregar um colchão pelo campus. Segundo a estudante, ela foi violentada no primeiro dia de seu segundo ano na universidade e só conseguiu fazer a denuncia após conversar com duas mulheres que foram atacadas pelo mesmo homem, todas registraram o ocorrido.

Contudo a universidade ignorou os três casos e na audiência para apuração Emma foi obrigada a passar por situações extremamente horríveis. Em depoimento para a revista Time ela conta que “Durante minha audiência, que não ocorreu até sete meses depois do incidente, uma das presentes no inquérito continuou me perguntando como era fisicamente possível acontecer o estupro anal. Eu fui colocada na horrorosa posição de tentar educá-la e explicar como essa coisa terrível aconteceu comigo”.

Em entrevista ao programa de rádio The Howard Stern Show ano passado, a Lady Gaga revelou ter sido estuprada quando tinha 19 anos, por um produtor vinte anos mais velho do que ela. Em publicação no Twitter Gaga declarou que "Nós esperamos que vocês sintam nosso amor e solidariedade por meio desta música, e, talvez, encontrem alguma paz com este filme ao saber que vocês não estão sozinhas".

No Brasil os casos de estupros e violência sexual na Universidade de São Paulo que vieram à tona ano passado, levou a abertura de uma CPI que apurou mais de 112 casos somente na Faculdade de Medicina da USP e escancarou a realidade de milhares de estudantes submetidas à violência sexual e ao machismo estrutural das universidades brasileiras. A indignação diante de tantos casos fez com que mais de 400 mulheres se reunissem em um ato pela rota de estupros da USP exigindo o fim dos estupros e da conivência da reitoria.

Em seu clipe, Lady Gaga desvenda aqueles lugares comuns que geralmente são naturalizados quando se fala de estupro e violência. O clipe é forte assim como a letra da canção, nos indigna, nos faz refletir. As dificuldades encontradas pelas mulheres que ao serem violentadas sexualmente precisam contar o que aconteceu, denunciar a agressão ou simplesmente continuar vivendo, estão diretamente relacionadas ao machismo estrutural, ao controle dos nossos corpos e mentes, a vergonha e ao medo.

Visibilizar essa luta, como Lady Gaga faz é muito importante. Contudo sabemos que pra acabar efetivamente com a violência contra as mulheres precisamos acabar com essa sociedade baseada na opressão e exploração de milhões. Desnaturalizar a cultura do estupro é fundamental para que possamos avançar na luta contra toda e qualquer forma de opressão. Nossa luta é ao lado da classe trabalhadora, para que esta tome para si a luta contra a violência e opressão as mulheres e dessa forma possamos transformar radicalmente essa sociedade doente, destruindo pela raiz as bases do machismo estrutural e erguendo uma nova sociedade livre de toda exploração e opressão.
https://www.youtube.com/watch?v=ZmW...




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