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O ANIVERSÁRIO DE ASSASSINATO | Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo, por Leon Trotsky

Assassinados em 15 de janeiro de 1919 na Alemanha durante a revolução alemã, os dois revolucionários são homenageados por Leon Trotsky. Seu legado revolucionário, bandeira da classe trabalhadora internacional.

domingo 15 de janeiro de 2017 | Edição do dia

Leon Trotsky publica este artigo em 16 de janeiro de 1919 em homenagem a dois dirigentes do partido comunista alemão assassinados no decorrer da revolução alemã.

O inflexível Karl Liebknecht

Acabamos de sofrer a maior das perdas. O golpe nos atinge duas vezes. Nos arrancaram dois líderes, dois dirigentes cujos nomes ficarão inscritos para todo o sempre no livro de ouro da revolução proletária: Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo. O nome de Karl Liebknecht se tornou conhecido em todo o mundo nos primeiros dias da grande guerra europeia. Desde as primeiras semanas dessa guerra, quando o militarismo alemão festejava suas primeiras vitórias, suas primeiras orgias sangrentas, quando os exércitos alemães lançavam sua ofensiva sobre a Bélgica destruindo suas fortalezas, quando parecia que os canhões de 420 milímetros poderiam submeter o universo inteiro aos pés de Guilherme II, quando a socialdemocracia alemã, com Scheidemann e Ebert encabeçando, orbitavam diante do militarismo e o imperialismo alemão, que pareciam poder submeter todo mundo — tanto no exterior , com a invasão do norte da França, como no interior, dominando não somente a casta militar e a burguesia, mas também os representantes oficiais da classe trabalhadora —, em meio a estes dias sombrios e trágicos um só voz se levantou na Alemanha para protestar e maldizer: a de Karl Liebknecht. E sua voz ressoou em todo o mundo. Na França, onde o espírito das massas operárias ainda se encontrava obcecado pela ocupação alemã e o partido dos socialpatriotas predicava, desde o poder, uma luta sem quartel contra o inimigo que ameaçava Paris, a burguesia e os próprios chauvinistas tiveram que reconhecer que Liebknecht era uma exceção aos sentimentos que inflamavam todo o povo alemão.

Na realidade, Liebknecht não estava sozinho. Rosa Luxemburgo, mulher de grande coragem, lutava a seu lado, mesmo que as leis burgueses do parlamentarismo alemão não lhe permitissem lançar seus protestos desde o alto de uma tribuna, como fazia Karl Liebknecht. É preciso assinalar que Rosa Luxemburgo era apoiada pelos elementos mais conscientes da classe trabalhadora, com os quais haviam germinado seus poderosos pensamentos e palavras. Estas duas personalidades, dois militantes, se completavam mutuamente e marchavam juntos em prol do mesmo objetivo.

Karl Liebknecht encarnava o revolucionário inquebrável e genuíno. Em torno dele foram tecidas inúmeras lendas: agressivas na imprensa burguesa, heroicas nos lábios dos trabalhadores. Em sua vida privada, Karl Liebknecht era — ai!, podemos somente falar dele no passado — a encarnação da bondade, da sensibilidade e amizade. Poderia dizer-se que seu caráter era de uma doçura quase feminina, no melhor sentido do termo, e que sua vontade revolucionária, de um temperamento excepcional, era capaz de lutar até a morte pelo princípios que professava. E o demonstrou levantando críticas contra os representantes da burguesia e os traidores socialdemocratas do Reichtag alemão, cuja atmosfera saturada pelos mesmos miasmas do chauvinismo e o militarismo triunfante. O demonstrou levantando em Berlim, na praça de Potsdam, o estandarte da rebelião contra os Hohenzollern e o militarismo burguês. Foi preso. Mas nem a prisão nem os trabalhos forçados conseguiram quebrar sua disposição e, liberado pela revolução de novembro, se pôs a frente dos elementos mais decididos da classe trabalhadora alemã.

Rosa Luxemburgo, a força das ideias

O nome de Rosa Luxemburgo não é tão conhecido na Rússia ou fora da Alemanha, mas pode se dizer, sem receio, que sua personalidade não desmerece em nada a de Liebknecht.

De constituição pequena, débil e franzina, Rosa surpreendia por sua poderosa mente. Já foi dito que estes dois líderes se completavam mutuamente. A intransigência e a firmeza revolucionária de Liebknecht se combinava com uma doçura e simpatia feminina, e Rosa Luxemburgo, apesar de sua fragilidades, estava dotada de intelecto poderoso e viril. Ferdinand Lassalle já escrevia sobre a força física do pensamento e a tensão sobrenatural de que é capaz o espírito humano para vencer e superar obstáculos materiais. Esta era a energia que transmitia Rosa Luxemburgo quando falava desde a tribuna, rodeada de inimigos. E tinha muitos. Apesar de ser pequena de tamanho e de aspecto frágil, Rosa Luxemburgo sabia dominar e manter a atenção de grandes públicos, inclusive quando eram hostis a suas ideias. Era capaz de reduzir ao silêncio seus mais determinados inimigos mediante o rigor de sua lógica, sobre tudo quando suas palavras se dirigiam as massas trabalhadoras.

O que poderia ter ocorrido na Rússia durante as jornadas de julho

Nós sabemos muito bem como agem os reacionários para organizar certas revoltas populares. Todos nós acordamos naqueles dias de julho entre os muros de Petrogrado, quando os grupos reacionários organizados por Kerensky y Tsereteli contra os bolcheviques massacraram os trabalhadores, acusando os militantes, fuzilando e apontando a baioneta para os trabalhadores isolados que eram surpreendidos nas ruas. Os nomes das mártires proletários, como Veinoff, ainda estão presentes na memória de quase todos nós. Se fomos capazes então de manter Lenin e Zinóviev foi porque puderam escapar dos assassinatos. E então se alçaram algumas vozes entre os mencheviques e socialrevolucionários para criticá-los e acusá-los de terem fugido de um julgamento, utilizavam um argumento que poderia ser facilmente rebatido de serem espiões alemães. Mas, a que tribunal se referiam? Por acaso ao que foi conduzido mais tarde Liebknecht, no qual, na metade do caminho Lenin e Zinóviev teriam sido fuzilados por tentativa de fuga? Sem dúvida, essa teria sido a declaração oficial. Após a terrível experiência de Berlim, não podemos menos que nos felicitar de que Lenin e Zinóviev se abstiveram de comparecer ante ao tribunal do governo burguês.

Aberração histórica

Perda irreparável, traição sem precedentes! Os dirigentes do Partido Comunista da Alemanha já não estavam entre nós. Temos perdido nossos melhores companheiros, e seus assassinos seguem integrando o Partido Socialdemocrata que ousa remontar sua genealogia até Karl Marx! Estes são os fatos, camaradas! O mesmo partido que traiu os interesses da classe trabalhadora desde o início da guerra, que apoiou o militarismo alemão, que alentou a destruição da Bélgica e a invasão das províncias setentrionais francesas, o partido cujo dirigentes nos deixaram nas mãos de nossos inimigos, os militaristas alemães, durante as negociações de paz de Brest-Litovski, esse mesmo partido e seus chefes (Scheidemann e Ebert) se autodenominam marxistas ao mesmo tempo que organizam grupos reacionários que assassinaram Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo! Já conhecemos anteriormente uma aberração histórica destas, um crime semelhante, pois o mesmo aconteceu com o cristianismo. O cristianismo evangélico era uma ideologia de pescadores oprimidos, de escravos, de trabalhadores marginalizados pela sociedade, uma ideologia de proletários. E por acaso não foi apropriado por aqueles que monopolizam a riqueza, pelos reis, pelos patriarcas e pelos papas?

Indubitavelmente, o abismo que separa o cristianismo primitivo, tal como surgiu de consciência do povo e das camadas inferiores da sociedade, do catolicismo e das teorias ortodoxas é tão profundo como o que agora separa as teorias de Marx, puro fruto do pensamento e sentimentos revolucionários dos resíduos ideológicos burgueses com os quais traficam Scheidemann e os Ebert de todos os países.

O sangue dos militantes assassinados clama por vingança!

Camaradas! Estou convencido de que este abominável crime será a último da lista suja de Scheidemann e Ebert. O proletariado já suportou muito tempo as iniquidades daqueles a quem a história colocou como sua direção. Mas sua paciência se esgota, e este último crime não ficará impune. O sangue de Karl Liebknecht e de Rosa Luxemburgo clama por vingança; as ruas de Berlim, a praça de Potsdam, onde Karl Liebknecht foi o primeiro a levantar o estandarte da revolta contra Hohenzollern, clamam. Suas ignorâncias, não deixaram nenhuma dúvida, servirão para erguer novas barricadas contra os executores destas infâmias, cães de guarda da sociedade burguesa, contra os Scheidemann e os Ebert!

A Luta apenas começou

Scheidemann e Ebert sufocaram, por um momento, o movimento espartaquista (os comunistas alemães). Assassinaram dois dos maiores dirigentes deste movimento, e ainda festejam sua vitória. Mas este triunfo é ilusório, pois de fato ainda não houve nenhuma ação decisiva. O proletariado alemão ainda não se organizou para tomar o poder político. Da parte do proletariado, tudo o que tem acontecido, os atuais sucessos, não foram mais do que um importante manobra de reconhecimento para descobrir as posições do inimigo . São as preliminares da batalha, mas não a mesma batalha. Algumas preliminares indispensáveis para o proletariado alemão, assim como nos foram indispensáveis as jornadas de julho.

O papel histórico das jornadas de julho

Já conheceis o curso dos acontecimentos e sua lógica interna. No final de fevereiro de 1917 (segundo o antigo calendário), o povo russo havia derrotado a autocracia e, durante as primeiras semanas, parecia que o que já tinha conseguido era essencial. Os homens de temperamento novo que surgiram de outros partidos — partidos que não haviam tido papel predominante entre nós — gozaram em um primeiro momento da confiança, ou melhor da semiconfiança, das massas trabalhadoras. Petrogrado, como era preciso, se encontrava na cabeça do movimento. Tanto em fevereiro como em julho constituía a vanguarda que chamava os trabalhadores de uma guerra declarada contra o governo burguês, contra os partidários da Entente. Esta vanguarda foi a que levou a cabo as grandes manobras de reconhecimento. E precisamente durante as jornadas de julho, se chocou diretamente com o governo de Kerensky. Não se tratava ainda da revolução, tal e como a realizamos em outubro: foi uma experiência cujo sentido não estava ainda claro para as massas trabalhadoras. Os trabalhadores de Petrogrado se limitaram a declarar a guerra a Kerenky. Mas no choque que se produziu puderam se convencer e provar as massas trabalhadoras do mundo inteiro que Kerensky não estava apoiado por nenhuma força revolucionária real e que seu partido estava formado pela burguesia, a guarda branca e a contrarrevolução. Lembrarão que as jornadas de julho terminaram para nós com a derrota no sentido formal do término: os camaradas Lenin e Zinóviev se viram obrigados a se esconder; muitos dos nossos foram presos; nossos cadernos, confiscados; o Soviet de Deputados Operários e Soldados, reduzido a impotência; os jornais operários, saqueados; os locais das organizações operárias, trancafiados; os grupos reacionários invadiram todos e destruíram tudo. Em 1917 em Petrogrado aconteceu exatamente o mesmo que em 1919 nas ruas de Berlim. Mas nós não duvidamos nem por um instante que as jornadas de julho eram o prelúdio de nossa vitória. Durante as mesmas pudemos avaliar o número e a composição das forças inimigas; puseram em evidência que o governo de Kerensky e Tsereteli estava a serviço dos capitalistas e dos grandes proprietários contrarrevolucionários.

Os mesmos fatos se deram em Berlim

Fatos análogos também ocorreram em Berlim. Em Berlim, como em Petrogrado, o movimento revolucionário ia diante das massas revolucionárias atrasadas. Igual ao que aconteceu na Rússia, os inimigos da classe trabalhadora gritavam: Não podemos nos submeter as vontades de Berlim; Berlim está isolada; é preciso reunir uma Assembleia Constituinte e levá-la a uma cidade das províncias com tradições mais saudáveis! Berlim está pervertida pela propaganda de Karl Liebknecht e de Rosa Luxemburgo!". Tudo o que sucedeu na Rússia, todas as calúnias e toda a propaganda contrarrevolucionária que suportamos alí, tudo foi trazido ao alemão e propagado aqui por Scheidemann e Ebert contra o proletariado alemão e contra os dirigentes do Partido Comunista, Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo. É certo que toda esta campanha ocorreu na Alemanha em maiores proporções que na Rússia, mas ela se deve a que os alemães repetiram acontecimentos que já ocorreram em nosso país; entretanto, os antagonistas da classe estão muito mais nitidamente marcados na Alemanha. No nosso país, camaradas, quatro meses separaram a revolução de fevereiro e as jornadas de julho. Quatro meses foram necessários ao proletariado de Petrogrado para experimentar a necessidade absoluta de tomar as ruas para romper as colunas sobre as quais estavam sendo sustentados Kerensky e Tsereteli. E depois das jornadas de julho transcorreram quase meses antes das tropas da imensa reserva das províncias chegarem a Petrogrado e nos permitirem, em outubro de 1917 (ou novembro, segundo o novo calendário), tomar por assalto as posições inimigas, seguros de nossa vitória. Na Alemanha, a primeira explosão revolucionária foi em novembro e os acontecimento análogos as nossas jornadas de julho, em janeiro. O proletariado alemão levou a cabo sua revolução com um calendário mais apertado. Não cabe dúvida de que esta proporção se manterá até o final. Pode ser que de as jornadas de julho "alemãs" até seu outubro não passem quatro meses, como na Rússia, mas sim apenas dois. Os tiros que receberam Karl Liebknecht pelas costas, não duvidem, ressoam com força por toda a Alemanha. E o rumor deve ter soado como uma campainha fúnebre nos ouvidos de Scheidemann e Ebert.

Acabamos de cantar o réquiem por Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo. Nossos dirigentes morreram e não os veremos mais. Mas quantos de vós, camaradas, os conheceram em vida? Uma pequena minoria. E, no entanto, Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo sempre estarão presente em vocês. Em suas reuniões e congressos haverão de eleger a Karl Liebknecht como presidente honorário. Ainda que ausente, assistirá suas reuniões e ocupará um local de honra em vossa mesa, pois o nome de Karl Liebknecht não significa somente uma pessoa determinada e isolada, para nós encarna tudo o que há de bom, nobre e grande na classe trabalhadora, em sua vanguarda revolucionária. Tudo isso é o que vemos em Karl Liebknecht. E quando um de nós imagina um homem invulnerável encorajado contra o medo e a debilidade, um homem absolutamente integro, pensamos em Karl Liebknecht. Não somente foi capaz de derramar seu sangue (pode ser que essa não seja a principal característica de seu caráter), ousou levantar sua voz em meio a fúria de nossos inimigos, em uma atmosfera saturada dos miasmas do chauvinismo, quando toda a sociedade alemã aguardava em silêncio e o militarismo fincava suas raízes. Ele se atreveu a levantar sua voz e dizer: "Kaiser, generais, capitalistas e vocês, Scheidemann que estrangulam a Bélgica, devastam o norte da França e querem dominar o mundo inteiro, eu os deprecio, os odeio, lhes declaro guerra, uma guerra que estou disposto a levar até o final."

Camaradas, ainda que o corpo de Liebknecht tenha desaparecido, sua memória permanece e permanecerá inapagável! Junto ao de Karl Liebknecht, o nome de Rosa Luxemburgo se conservará para sempre nos anais do movimento revolucionário universal. Conheceis a lenda sobre os santos e sua vida eterna? Estas histórias se embasam na necessidade que tem os homens de conservar a memória de quem, como líderes, lhes tem servido honesta e verazmente; necessitam imortalizá-los envolvendo-os em uma aureola de pureza.

Camaradas, nós não temos necessidade de tecer lendas; não precisamos canonizar nossos heróis, nos basta a realidade dos acontecimentos que estamos vivendo, por si mesmo lendária, que mostra a força do espírito de nossos dirigentes e forja alguns personagens que estão acima do resto da humanidade. Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo viverão eternamente em nossas lembranças. Sempre, em todas as reuniões nas que temos Liebknecht, temos sentido sua presença e a de Rosa Luxemburgo com uma clareza extraordinária, quase material.

E a sentimos agora, nestes trágicos momentos nos quais nos sentimos espiritualmente unidos aos mais nobres trabalhadores da Alemanha, da Inglaterra e do mundo inteiro, todos abrumados pela mesma e imensa dor. Nesta luta e diante destas palavras, os sentimentos não conhecem fronteiras.

Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht são nossos irmãos

Para nós, Liebknecht não é somente um dirigente alemão, igualmente Rosa Luxemburgo não é somente uma socialista polaca que se colocou na dianteira dos trabalhadores alemães... Ambos são nossos irmãos; estamos unidos a eles por laços morais indissociáveis. Camaradas! Esta repetição não é um exagero, pois Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht estavam extremamente unidos ao proletariado revolucionário russo.

A casa de Liebknecht em Berlim era o centro de reunião de nossos emigrados. Quando se tratava de protestar no parlamento ou nos jornais alemães contra os serviços que os imperialistas germânicos prestavam a reação russa, nos dirigiamos a Karl Liebknecht. Ele chamava todos e influía sobre todos — inclusive sobre Scheidemann e Ebert — para tomar uma atitude contra os crimes do imperialismo.

Rosa Luxemburgo liderou o partido socialdemocrata polaco que, junto ao partido socialista, forma hoje o Partido Comunista da Polônia. Na Alemanha, Rosa Luxemburgo, com o talento que a caracterizava, se aprofundou na língua e na vida política do país, e de imediato tomou um lugar de destaque no antigo partido socialdemocrata.

Em 1905, Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo tomaram parte em todos os acontecimentos da revolução russa. Rosa Luxemburgo foi inclusive presa por sua condição de militante ativa e posta sob vigilância após sua liberdade na cidade de Varsóvia. Então viajou ilegalmente à Petrogrado (1906), onde frequentou nossos círculos revolucionários. Visitava nossos detidos nas prisões e nos servia, no sentido mais amplo do termo, de enlace com o mundo socialista de então. Mas , além de todas as relações pessoas, mantemos nossa comunhão moral — essa comunhão que cria a luta em nome de grandes princípios e esperanças — a mais bela das recordações. Compartilhamos com ela a maior das desgraças conhecidas pela classe trabalhadora mundial (a vergonhosa derrocada da Segunda Internacional em agosto de 1914). E com ela levantamos a bandeira da Terceira Internacional, os melhores entre nós, e a sustentou com orgulho sem desfalecer nem mesmo um instante.

Hoje em dia, camaradas, nós praticamos os preceitos Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo na luta que mantemos. Suas ideias nos inspiram quando, em uma Petrogrado sem pão nem fogo, trabalhamos para construir um novo regime soviético. E quando nossos exércitos avançam vitoriosos em todas as frentes, o espírito de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo também nos anima. Em Berlim, a vanguarda do Partido Comunista ainda não dispunha forças suficientemente organizadas para defender-se. Ainda não tinha um exército vermelho —como tampouco nós tínhamos durante as jornadas de julho — quando a primeira onda de um movimento poderoso, mas não organizado, foi quebrada por grupos pouco numerosos, porém organizados. Ainda não há exército vermelho na Alemanha, mas há na Rússia. O exército vermelho é concreto, dia a dia se organiza e se torna maior. Cada um de nós tomará como um dever explicar como e por que morreram Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo, o que eram e o lugar onde deve ocupar sua memória no espírito de todo o soldado, de todo camponês. Estes dois heróis entraram para sempre em nosso panteão espiritual. Ainda que na Alemanha não deixe de estender a onda reacionária, não duvidemos nem por um instante de que o outubro vermelho está próximo.

E agora, dirigiremonos dos dois grande falecidos, podemos dizer: Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, já não estão em nosso mundo, mas seguem entre nós; viveremos e lutaremos animados pelas suas ideias, sob influência de sua grandeza moral, e juramos que se chegar nossa hora morreremos de pé frente ao inimigo, como vocês morreram, Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht.

*Publicamos o artigo completo, tomando a tradução publicada no apêndice documental de Bajo la Bandera de la Rebelion (disponível em espanhol), Rosa Luxemburgo e A Revolución Alemana, Fundação Friedrich Engels.




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