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SECUNDARISTAS | Juventude sem futuro? O choque de uma geração.

quinta-feira 29 de outubro de 2015 | 22:30

A atual geração da juventude brasileira assistiu, há 13 anos, Lula se eleger presidente. Nos anos posteriores, assistiu a reeleição do presidente em 2006, sua sucessão pela Dilma em 2010 e sua posterior reeleição em 2014. Passou boa parte de sua vida consciente sob o governo PTista. Diferentemente da geração de seus pais, não atravessou uma forte instabilidade econômica como foi a superinflação do início dos 90, onde o poder de consumo (o valor do salário) diminuía a cada dia, nem uma política Neoliberal como foi a do governo Fernando Henrique. Uma geração que não conheceu a sensação de ter a condição de vida piorar. Ao contrário desse cenário dos 90, os treze anos do governo PTista foram marcados pela propaganda de progressão das condições de vida, aumento do poder de consumo e acenso social da juventude. Apoiado no boom econômico causado pelo aumento do consumo de matérias primas pela China, implementou diversos programas sociais como o Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Prouni, dentre outros, além de políticas para facilitar o crédito e políticas de isenção de impostos para diversos setores da indústria o que tornou possível um abono salarial. Obviamente, toda essas concessões reformistas se deram no marco de um governo burgues que garantiu o uso de grande parte do orçamento publico para pagamento de juros da divida publica, históricos lucros para os banqueiros (nos oito anos de FHC foram R$ 63,63 bilhões e no governo Lula foram R$ 254,76 bilhões) e empreiteiras e subsídios para a patronal. As concessões também tiveram seu custo como a flexibilização das relações trabalhistas, aumento da terceirização e reformas como a da previdência.

Apesar de ter custado caro aos trabalhadores, a política PTista gerou uma enorme expectativa de acenso nas massas. A atual juventude foi criada com a perspectiva de ter um padrão de consumo e qualidade de vida superior a do seus pais. Na indústria, diversos cursos técnicos permitiram rápida capacitação profissional para jovens que acabavam de entrar no mercado de trabalho, além do setor passar por um aumento de postos de trabalho. Os programas de aumento ao acesso ao ensino superior, que criaram os atuais grandes monopólios como o da Kroton-Anhanguera, gerou, em enormes setores de juventude, o sentimento de que é possível ter um acenso não só na capacidade de consumo, mas na posição social. A garantia do seguro-desemprego com apenas seis meses de carteira assinada e o aumento dos postos formais de trabalho, ainda que com as relações trabalhistas flexibilizadas pela terceirização, fizeram que o medo do desemprego fosse mínimo. Expressão de um setor dessa geração foram os fenômenos dos “rolezinhos”, onde jovens precarizados marcaram diversos encontros em shoppings, grandes centros de consumos historicamente negado a eles.

A reeleição de Dilma foi garantida graças a promessa da continuidade de toda a política passada. Na contramão do prometido, as condições desfavoráveis da economia internacional e a queda dos preços das matérias primas pela contração chinesa puseram fim ao “ciclo pós-neoliberal” capitaneado pelo PT(assim como com distintos tempos em toda a América latina). A crise econômica e os ajustes realizados pelo governo logo no primeiro mandato têm se chocado com as expectativas das massas, principalmente com as da juventude em geral que só conheceu a vida na perspectiva de progresso.

Redução de investimentos na área da saúde, aumento da dificuldade para conseguir o seguro-desemprego, enorme diminuição nos postos de trabalho, aumento considerável da inflação, arrocho salarial, redução dos programas de acesso a educação como Prouni e Fies (com efeito de reduzir 30% das matriculas novas no ensino superior no processo seletivo da metade do ano, comparado com o ano de 2014), restrição dos cursos do SENAI, carro chefe da propaganda da FIESP e Paulo Skaf em toda a década anterior, que fundamentava as esperanças de "ascenso social" de milhões de jovens trabalhadores, a reorganização escolar em diversos estados são alguns dos efeitos da atual situação econômica que causam esse choque coma nova geração. Segundo o artigo “o desemprego entre os jovens no Brasil deverá aumentar, assim como a informalidade. O alerta é da Organização Internacional do Trabalho[...]. Ao mesmo tempo em que o desemprego aumenta, as medidas de ajuste dos governos também atingem em cheio os jovens, atacando não apenas o presente, mas as perspectivas de futuro”. Esse cenário aponta para que aumente perspectiva de falta de um futuro promissor entre a juventude.

Na Grécia e na Espanha a juventude, criada em um estado de bem-estar social, também chocou suas expectativas com a realidade imposta a ela pela crise e pelas políticas de austeridade, que golpearam os direitos sociais que já eram atacados e que sobreviveram a década de 90. A informalidade cresceu consideravelmente entre os jovens e a taxa de desemprego nesse setor supera os 50% em ambos os países (colocar fonte). A ocorrência de suicídios e doenças psicológicas como a depressão dispararam entre os jovens desses países. Essa precarização da vida gerou, assim como começa a gerar no Brasil uma juventude sem perspectiva de futuro promissor. O jovem precarizado e sem perspectiva de futuro se tornou em um importante ator de fenômenos políticos como o Syriza na Grécia e o Podemos na Espanha.

Se o cenário político e econômico continuar deteriorando no Brasil (perspectiva que ate 2017 a deterioração continue), podemos esperar importantes fenômenos de juventude no Brasil? Que tipos de fenômenos esperar de uma juventude bem mais precarizada e que passou previamente por um processo político profundo e radicalizado como junho de 2013? Conseguiria esses possíveis fenômenos confluir com os setores da classe trabalhadora que vem protagonizando importantes lutas no país, dando uma maior explosividade na luta de classe? Como primeiro sinal de resposta do inicio de um processo que ainda vai agudizar, vemos a juventude secundarista fazendo suas experiências, como no caso dos diversos atos contra o fechamento de escolas no estado de São Paulo. A classe dominante brasileira também tem feito seus cálculos políticos e vem se preparando para enfrentar a juventude como podemos ver na aprovação da redução da maioridade penal e o projeto de lei que classifica protestos como terrorismo.

Para que a juventude e a classe trabalhadora se confluam caso ocorra um possível processo político de juventude, as estratégias reformistas de Podemos e Syriza, que claramente fracassaram, devem ser substituídas por uma que faça a classe trabalhadora emergir como sujeito político independente, assim como fazem a FIT na Argentina, que utilizam seu espaço eleitoral para, com idependencia da burguesia, por a luta de classes no centro. Nesse marco que nós de MRT colocamos o debate da necessidade de um pólo para luta de classes, independente do governo e da burguesia, que fortaleça a união da juventude e dos trabalhadores para enfrentar os ajustes e a crise, e dessa forma surgir uma alternativa política no Brasil.




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