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Depois de “dois anos de tranquilidade”, o armistício entre o Estado de Israel e o Hamas começou a mostrar fissuras que alguns analistas pressagiam como os tambores para “uma nova guerra”.

sexta-feira 13 de maio de 2016 | Edição do dia

Durante cinco dias da semana passada, entre terça-feira e sábado, as tropas israelenses e o Hamas mantiveram o fogo cruzado. Os tanques israelenses devolveram o fogo dos morteiros do Hamas, assistido por suas milícias Ezedin AL Qasam e as brigadas da Jihad Islâmica, seguido de ataques aéreos com jets F16 que bombardearam “objetivos militares” e causaram a morte de uma mulher da localidade de Khan Jounis e um rastro de feridos. Os foguetes obsoletos lançados pelo Hamas ao sul de Israel, em forma de represália, caíram num terreno descampado, ainda que houvessem sido facilmente neutralizados pelo sistema anti-míssil Campana de Ferro, fornecido pelos EUA.

Há dois anos do operativo Margen Protector com mais de 1400 palestinos mortos e a Faixa de Gaza convertida num amontoado de ferro e cimento, o “guerrerismo” do Estado sionista parece reavivar as provocações que vêm cumprindo em tempos cada vez menos pausados (Pilar Defensivo, 2012, Bala Fundida, 2009, Videiras de Ira, 2006), acaso o tempo prudencial para estabelecer sua autoridade de polícia em meio à crise da ordem regional do Oriente Médio.

Em aberta violação dos acordos indiretos, firmados por intermediação do Egito aos fins de 2014, o Comando de Engenheiros da Força de Defesa Israelense (FDI) invadiu 200 metros na zona de amortecimento que separa o território israelense de Gaza, tomando posições à leste de Rafah e ao norte de Beit Hanoun. As máquinas escavadoras israelenses haviam detectado um túnel a 30 metros de profundidade que transpassava a fronteira sul de Gaza, muito próximo a outro que haviam destruído faz três semanas. O Estado sionista investiu mais de 250 milhões de dólares em tecnologia, engenharia terrestre e nos serviços de inteligência de ponta, junto à gentil colaboração do Egito, para desarticular os túneis.

A descoberta surpreendeu o governo de Netanyahu e pôs em evidência que a FDI não alcançou os objetivos traçados no operativo Margen Protector. Ainda que destruiu 34 túneis, parece evidente que o Hamas construiu um sofisticado sistema de túneis, mediante o qual não somente manteve intacta a estrutura de seus comandos senão que surpreendeu em 2014 aos comandos israelenses da brigada Golani, a elite da vanguarda, infringindo várias baixas.

Assim mesmo, o feito disparou uma crise no governo a partir da publicação de um documento classificado que revelou as advertências de Shin Bet (máximo organismo de segurança) sobre os túneis em 2014, ignoradas por Netanyahu, o ministro de Defesa Moshe Yaalon e o chefe da FDI Beny Gantz.

Essa vasta rede de túneis permite o deslocamento subterrâneo em diversas áreas da faixa, o armazenamento de armamento e o fluxo de mercadorias da mais variada espécie. Guardadas as diferenças políticas, o Hamas emprega um método similar à resistência vietnamita que recorreu ao sistema de túneis (com hospitais de campanha, restaurantes e moradias) com uma extensão de 300 quilômetros de largura para enfrentar o imperialismo francês e norte-americano, um inimigo insuperável em campo aberto. Nos moldes do general Giap, o Hamas emprega os túneis para deslocar equipamentos e tropas que surpreendem, atacam e se retiram, o método da guerra de guerrilhas que também empregou de outra forma o Hezbollah durante a segunda guerra do Líbano em 2006, ocasionando várias baixas aos soldados israelenses.

A construção de túneis foi uma ferramenta obrigada que encontrou a inteligência do Hamas para desafiar parcialmente a política de asfixia do Estado sionista que desde 2007 impôs um bloqueio por terra, ar e mar, fazendo de Gaza um campo de concentração a céu aberto com 1,8 milhão de gazaitíes, dos quais grande parte depende da ajuda humanitária proporcionado por UNRWA, a agência de refugiados palestinos da ONU. Graças ao contrabando veiculado mediante os túneis, o Hamas conseguiu oxigenar certos segmentos do comercio e a economia de Gaza que permitiram superar o estado de inanição e da proliferação de enfermidades infecto contagiosas, apesar de que dezenas de milhares resolveram partir ao exílio.

Se bem pela mediação do Egito as tropas israelenses se retiraram momentaneamente, o alto mando da FDI assegurou que se propõe desarticular todos os túneis que põem em risco a “soberania” e o “direito a segurança” do Estado de Israel”.

O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, sustentou que o Hamas não deseja um novo enfrentamento bélico tão pouco evitaria a ocasião de persistir as incursões israelenses que começam em escaladas.

Netanyahu procura manter com mão de ferro o isolamento de Gaza, imposto desde 2005 pelo então premier Ariel Sharon, o carniceiro de Sabra e Chatilla, mediante o plano de “desconexão” que separou a faixa da Cisjordânia (e Jerusalém oriental) como dois territórios palestinos desconexos. Enquanto efetua algumas concessões à Autoridade Palestina tal como a injeção de 2,6 milhões de dólares para melhorar as condições do traslado de dezenas de milhares de trabalhadores palestinos que entram diariamente ao território israelense pela Cisjordânia para cumprir a jornada de trabalho.

A próxima abertura do checkpoint de Deihiat el Barid aponta a descomprimir as calamitosas condições do checkpoint de Qalandia e reduzir o tempo de espera dos controles israelenses, uma demanda muito sentida pelos trabalhadores palestinos submetidos a extensas jornadas de trabalho. Dessa forma Netanyahu agradece a colaboração de Mahmoud Abbas e do Fatah para terminar com a chamada “Intifada dos lobos solitários”, a qual abaixou notavelmente desde seus início em outubro passado com os ataques individuais a soldados e cidadãos israelenses.

A economia de Gaza está novamente à beira do colapso e a hegemonia do Hamas sobre Gaza está em jogo agarrada pelas ameaças de Netanyahu de terminar definitivamente com os túneis. Soam tambores de guerra?




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